Os apoiantes mais próximos de Rui Rio ainda aguardavam esta terça-feira pelo que Pedro Passos Coelho ia decidir, mas agora têm caminho livre para pôr toda a sua estratégia em marcha. Com a permanência do líder na corrida, havia apoios que teriam mais dificuldade em assumir uma mudança de barricada. Mas agora será mais fácil aparecerem logo no primeiro momento a dar apoio ao antigo presidente da câmara do Porto. Rui Rio deve anunciar a sua candidatura em breve, com grande probabilidade será só durante a próxima semana, como avançava a Visão e o Observador confirmou. Resta saber quem desafiará Rui Rio: são vários os sociais-democratas a garantir que do outro lado a praça não ficará vazia.
Pedro Santana Lopes já disse na SIC na noite desta terça-feira que estava a ponderar: “Estes assuntos acontecem a uma velocidade tal, que exigem decisões rápidas. Anteontem à noite comecei a receber mensagens a ser incentivado. Hoje muitas. E, de facto, as pessoas lembram-se. E para mim algumas com significado. Ponderar, obviamente. Quando há uma situação destas estamos a ponderar.”
Há também Paulo Rangel, o único nome que Passos Coelho mencionou no seu discurso de despedida no Conselho Nacional desta noite (para além do líder parlamentar que agora tem um papel especial). Luís Montenegro parece recuar, mas na lista também estão Pedro Duarte e Miguel Pinto Luz. Já lá vamos.
O núcleo duro de apoiantes de Rui Rio, que esteve reunido esta segunda-feira, já tem há meses documentos preparados com conteúdo para servir de base programática à candidatura. Já há um site preparado e apoios garantidos no aparelho. Não estão com ele apenas de notáveis e barões — como Nuno Morais Sarmento, Feliciano Barreiras Duarte, Manuela Ferreira Leite ou Ângelo Correia –, fruto também de contactos feitos ao longo dos últimos meses pelo próprio Rui Rio, no périplo que tem feito pelas bases. O futuro candidato à liderança já terá garantido apoios da barricada passista, que quiseram respeitar o tempo de reflexão determinado por Passos Coelho na noite eleitoral.
As próximas eleições internas têm de refletir a vontade de mudança dos portugueses”, disse Rui Rio à revista Visão que esta quarta-feira faz capa com o candidato anunciado.
Não é de esperar que os apoiantes de Rui Rio que fazem parte do Conselho Nacional (CN) apareçam de forma massiva na reunião desta terça-feira para criticaram o futuro ex-líder. Consideram que o órgão foi desvalorizado que se tornou “irrelevante” para o debate interno porque passou a servir “apenas para bater palmas”. Por isso, no núcleo duro não considera que seja ali que se vai discutir o futuro do partido.
Montenegro, Rangel, Pedro Duarte, Santana? Quem mais?
Ao libertar mais uma pista de corrida, Pedro Passos Coelho abre uma série de possibilidades que não se verificavam se fosse recandidato: quem mais se vai apresentar na linha de partida? Ou quem vai apoiar Marco António Costa, a million dollar question decisiva do momento. Segundo sabe o Observador, o vice-presidente do partido — muito influente no aparelho — está a observar os realinhamentos e a resguardar-se para não contribuir para o ruído, à espera que as candidaturas se clarifiquem.
Para já, surgem as duas possibilidades mais óbvias: O ex-líder parlamentar Luís Montenegro e o eurodeputado Paulo Rangel. Se Luís Montenegro tem andado a correr o partido e as bases no sentido de lançar as sementes para o futuro, também é certo que este não seria o momento para si mais desejado. Embora ainda tenha em aberto a possibilidade de avançar como herdeiro do passismo, Montenegro não estará motivado para passar dois anos a sofrer na oposição e a carregar o partido às costas para, em 2019, correr o risco de ser defenestrado se o PS tiver um bom resultado.
Se não avançar e caso o seu problema seja enfrentar uma eventual derrota, Luís Montenegro vai contra a tendência histórica do partido, em que vários líderes estiveram dispostos a perder numa primeira candidatura para vencer numa segunda (foram os casos de Durão Barroso, Marques Mendes, Santana Lopes, Luís Filipe Menezes ou Pedro Passos Coelho). Desde o cavaquismo, só Fernando Nogueira, Marcelo Rebelo de Sousa e Manuela Ferreira Leite não repetiram candidaturas à liderança.
Por outro lado, o eurodeputado Paulo Rangel é o único ex-candidato à liderança do PSD que continua a surgir como hipótese para avançar. Para além de Rangel, só há mais um ex-candidato à liderança do partido que nunca foi líder, que é José Pedro Aguiar-Branco. O eurodeputado vai ao Conselho Nacional e deve falar. Para já, nada está fechado. Se Rangel for candidato contra Rui Rio e Luís Montenegro, irá sobretudo dividir a base de apoio de Rio. Mas se avançasse apenas contra Rui Rio, poderia herdar uma parte do passismo e uma parte dos eventuais apoios do ex-presidente da câmara do Porto.
No artigo que escreve esta segunda-feira no Público, Paulo Rangel faz uma análise do que é e do que deve ser o PSD e pode ser entendido como um pré-posicionamento para a grelha de partida. Rangel enfatizou os genes do PSD como partido autárquico: “É mesmo identidade: identidade que temos e queremos preservar. A todo o transe. A todo o custo”. No artigo, não ataca Passos, até elogia o papel do PSD pós-resgate e ataca o PS.
Nas entrelinhas, lê-se um ataque velado às posições de Rui Rio: “O PSD tem de ser inflexível na defesa e independência dos tribunais e da liberdade de imprensa e de expressão”. A seguir, elaborou um argumentário mais ideológico: “O PSD é pela liberdade mas não é liberal, é, modelando as palavras, liberalizador”. Todo o conteúdo programático do texto parece uma forma de se colocar na zona de aquecimento antes da corrida. Se irá participar ainda permanece uma incógnita. “[O PSD] não pode fechar-se numa luta de nomes ou numa batalha de números; tem de arriscar um programa mobilizador. É nos momentos difíceis que o PSD tem de ter ganas de futuro”, escreveu.
Como no PSD os candidatos a candidatos a líder nestes momentos brotam como cogumelos, continua a haver quem fale de nomes como Pedro Duarte — que esta segunda feira também escreveu no Público — a defender um congresso para debater o programa. E de Pedro Santana Lopes (o eterno nome que aparece sempre), que poderia estar a ponderar um eventual regresso. Sobretudo em caso de ser necessário unir o partido. “Rui Rio não ficará sozinho”, diz um social-democrata a propósito de uma eventual candidatura de Miguel Pinto Luz, vice-presidente da câmara de Cascais e ex-líder da distrital de Lisboa. Não está na primeira linha, mas não deixará o setor que defende o trabalho de Passos Coelho no vácuo. As posições começam a definir-se. O tabuleiro de xadrez no PSD vai ficar mais definido nas próximas semanas.