A cadeia de televisão NBC deixou escapar a investigação sobre Harvey Weinstein que o filho de Woody Allen e Mia Farrow estava a fazer há vários meses. O jornal New York Times adiantou-se e o trabalho de Ronan Farrow acabou por ser publicado cinco dias depois na revista The New Yorker.

Ninguém consegue perceber bem ao certo o que aconteceu e o próprio Ronan Farrow não quis avançar com uma explicação. “Terá de perguntar à NBC e aos diretores da NBC sobre os detalhes da história”, afirmou Farrow no programa “The Rachel Maddow Show”, na MSNBC no passado dia 9, citado pelo New York Times. “Entrei porta adentro da New Yorker com uma peça de reportagem explosiva que devia ter sido publicada mais cedo. Como é óbvio, a New Yorker reconheceu isso de imediato e não é correto dizer que não podia ser publicada.”

O presidente da NBC News veio rapidamente garantir que não tentaram encobrir o caso nem defender o produtor. “Apoiámo-lo [Ronan Farrow] e demos-lhe recursos para contar a história durante muitos, muitos meses. A ideia de que tentámos encobrir um pessoa poderosa é uma grande ofensa para todos nós”, afirmou Noah Oppenheim, durante uma reunião com os funcionários da NBC News.

O Washington Post, contudo, contraria esta versão dos factos, referindo que os advogados de Weinstein contactaram a NBC News relativamente à investigação de Farrow. O mesmo jornal refere ainda que o passado de Farrow poderá ter pesado na decisão: Ronan Farrow acusou o pai de abusar sexualmente da irmã Dylan e criticou os media pela forma como abordaram a questão. De notar ainda que Harvey Weinstein foi o produtor que apoiou Woody Allen durante a época do controverso divórcio entre o realizador e Mia Farrow.

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Segundo o New York Times, o norte-americano estava a trabalhar para a NBC quando começou a recolher depoimentos de mulher assediadas e violadas pelo produtor Harvey Weinstein. Durante o verão, contudo, a NBC considerou que faltavam certos elementos na investigação de Farrow — falhas que Oppenheim refere terem sido entretanto colmatadas. Ainda assim, o presidente da NBC News disse que aquilo que foi publicado na revista não foi o trabalho que a Ronan apresentou à NBC em agosto deste ano.

“Ronan queria continuar e nós não queríamos estar no seu caminho, e levou-o para a New Yorker e faz um trabalho extraordinário. Expandiu a sua investigação. Escusado será dizer que a história incrível não era a história que vimos quando tomámos a decisão há muitos meses.”

O New York Times adianta que quando a NBC decidiu não avançar com a história — que já tinha sido vetada por várias pessoas na hierarquia do canal –, já tinham sido filmadas várias entrevistas não só de mulheres (com a cara tapada) vítimas de assédio sexual e violação como de funcionários da empresa do produtor americano, a Weinstein Company. Além de que Farrow tinha uma gravação áudio da polícia de Nova Iorque, em que se ouvia Weinstein a admitir ter apalpado a modelo Ambra Battilana Gutierrez, e diversas mensagens enviadas por outros funcionários da empresa de Weinstein através do LinkedIn.

O que levou a NBC a recuar foi o contrato do canal com Farrow estar prestes a terminar, mas também o facto de uma das entrevistadas, que tinha dado a cara, ter mudado de ideias com medo de ser processada pelo produtor, e o trabalho deixaria assim de ter mulheres identificadas. Entretanto surgiu uma outra mulher, que tinha uma história de abuso sexual, mas que mais uma vez não quis ser identificada.

O filho de Woody Allen e Mia Farrow chegou até à revista New Yorker através de Ken Auletta, especialista entrevistado por Ronan Farrow e já que escrevia para a revista, que considerou uma “escândalo” a NBC não avançar com a história. Mas já foi tarde demais.

E já não é a primeira vez que a NBC deixa escapar uma história de grande impacto. O programa “Acess Hollywood”, produzido pela NBC, teve acesso à gravação em que se ouve Donald Trump a fazer comentários sexistas sobre mulheres. A NBC hesitou em avançar e a história acabou por ser publicada pelo Washington Post.

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