O Ministério Público suspeita que Henrique Granadeiro terá comprado um apartamento na zona das Amoreiras, no valor de 1,7 milhões de euros, com uma parte do dinheiro que lhe foi pago em alegadas “luvas” pelo ex-líder do GES, Ricardo Salgado. De acordo com a SIC, esta investigação partiu da Operação Marquês, mas está a ser investigada à parte. Os detalhes da aquisição — que foi o dobro do declarado ao fisco — são dignos de um policial.
Henrique Granadeiro só declarou metade da compra (850 mil euros) ao fisco, tendo pago o remanescente de duas formas: através de uma obra de arte comprada numa galeria em Londres, no valor de 280 mil euros, que serviu de sinal; e 571 mil euros em dinheiro vivo que terão sido pagos numa sala de um banco na Suíça. Segundo Francisco Fino, gestor do património de Granadeiro, teria sido o vendedor a exigir este método de pagamento.
A transação, segundo a SIC, foi feita a 27 de dezembro de 2012, numa sala do Banco Pictet, na Suíça. No local estava Francisco Fino, um representante do Pictet, um representante do dono do imóvel e um representante do BPI Suisse. Na sala estava uma máquina de contar notas que só terá parado após contar 571.670 euros. O dinheiro foi colocado num saco que foi entregue ao representante do BPI Suisse, banco onde o vendedor pediu que fosse depositado o dinheiro.
Os restantes 850 mil euros foram registados como valor da casa junto do fisco e do notário e pagos, através de uma transferência de uma conta da Granacer no BPI, para a conta do empresário do Porto, João Marques Pinto. O apartamento situa-se na Avenida D. João V, em Lisboa, próxima de outra casa da qual Granadeiro é proprietário.
No âmbito da Operação Marquês, os investigadores apuraram que Ricardo Salgado, através da empresa offshore Espírito Santo Entreprise, transferiu cerca 24 milhões de euros para as contas de Henrique Granadeiro. Desse valor, Granadeiro acabaria por devolver 4 milhões a Salgado, ficando com os restantes 20. Desses 20 milhões, uma parte, acredita o MP, terá sido branqueada com a compra deste apartamento. A confirmar-se que metade do valor foi pago por fora Henrique Granadeiro incorre, neste caso, na alegada prática de crimes de branqueamento de capitais e de fraude fiscal qualificada.
O caso do apartamento é uma das 15 certidões extraídas da Operação Marquês que foram reveladas em primeira mão pelo Observador. Granadeiro será igualmente investigado por suspeitas de branqueamento de capitais a propósito da compra e venda da Herdade do Vale do Rico Homem à ES Enterprises.
Operação Marquês. Há mais 15 investigações e uma delas envolve Sérgio Monteiro
Artigo corrigido às 17h52m. O caso revelado pela SIC não é a 16.ª certidão da Operação Marquês. Faz parte de uma das certidões que foram extraídas contra Henrique Granadeiro.