Houve um ponto em comum entre a grande entrevista de Luís Filipe Vieira à Benfica TV (BTV) e as entrevistas que o homólogo Bruno de Carvalho costuma dar na Sporting TV – a metade da mesma, já se tinha percebido que iria exceder, e muito, o tempo programado. Ainda assim, foi nesse período extra, mais concretamente nos últimos 42 minutos e meio, que o líder do Benfica abordou os temas mais quentes da atualidade em termos externos: o caso dos emails, a suposta “aliança” entre FC Porto e Sporting e o atual estado do futebol português. E com vários exemplos práticos.

“Não há nem nunca houve corrupção no Benfica, voltamos a frisar claramente. Para todos os benfiquistas, que fique muito claro isto. Há seis meses foi cometido um crime contra o Benfica. Não estávamos preparados para um determinado crime organizado nem pensávamos que fosse possível acontecer, admito. Não li nenhum email nem estou preocupado com nenhum email”, destacou Luís Filipe Vieira, numa clara mensagem inicial interna para os adeptos encarnados que possam ter ficado de pé atrás com todo o ruído criado.

“Há um clube que não ganha campeonatos há 15 anos, ganhou um ou outro título [Sporting], e o outro que não ganha nada há quatro. Nesses quatro anos, os nossos Campeonatos foram sempre colocados em causa. Nesse período, quando o FC Porto ganhava o Vítor Pereira era sensacional, quando não ganhavam deixava de ser. Estão no pontapé para a frente, desesperados, e tiveram a ousadia de fazer um crime. Tentaram enxovalhar a instituição Sport Lisboa e Benfica. E conseguiram intimidar, criar medo. No jogo com o Desp. Aves, tivemos quatro capangas identificados com esses senhores”, atirou depois, numa primeira abordagem aos dois rivais diretos e ao episódio que marcaria a entrevista e que seria mais tarde pormenorizado.

A prova mais flagrante foi nas Aves. Todos identificados com os Super Dragões, a dizer ‘partíamos estes gajos todos’… No final do jogo não foram adeptos do Benfica [que criaram confusão], foi aquela tropa. Disse à GNR que o meu carro ia à frente do autocarro porque se estava a passar alguma coisa e eles eram responsáveis, alguém do Benfica teve menos sorte e partiram-lhe a carrinha toda”, explicou o presidente dos encarnados.

“Isto não é o Apito Dourado, mas conseguiu condicionar tudo e todos. Para nós é importante haver esta investigação. Confirmo que foram a minha casa, até tinha na mesa o livro de apontamentos das contratações, o iPad que nem usava… Não me podem proibir de falar com ninguém, mas não está lá nada nem a condicionar nem a prometer algo a alguém. E não fugi para fora do país. A minha mulher até achava que era uma notificação da polícia, quando apareceram à porta à hora de almoço… A única coisa que pedimos à Justiça é que estes senhores que tentaram enxovalhar a marca mais prestigiante deste país e reconhecida mundialmente é que sejam céleres. Estes senhores vão ter de pagar um dia uma fatura elevada”, focou, na primeira vez que abordou publicamente as buscas que foram feitas a sua casa e nas comparações iniciais com alguns dos episódios mais marcantes durante o Apito Dourado.

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“Oferecer bilhetes? Mas há alguém neste país que não ofereça bilhetes a qualquer instituição? De certeza que não estão lá viagens para o Brasil, promessas de mundos e fundos, nem cinzentos, castanhos nem chocolate com leite. Se tivessem alguma prova entregavam ao Ministério Público, mas foram pela política do medo”, salientou Luís Filipe Vieira, antes de apontar também o dedo ao Conselho de Arbitragem.

O Conselho de Arbitragem está condicionado até nas nomeações. Fábio Veríssimo, João Pinheiro, Manuel Mota não apitam o Benfica porquê? O Conselho de Arbitragem também não protege os árbitros, sabem que têm sido ameaçados e têm de dizer isso, publicamente. A mim, já me assaltaram a casa duas vezes e toda a gente sabe do acidente que tive, que me atiraram aqueles paralelepípedos para cima do carro…”, recordou.

“Não vamos ter medo, não podemos ter medo. O desespero é tão grande, se não ganham o Campeonato, o que será deles… O FC Porto está intervencionado e isto foi para desviar atenções. Só queremos celeridade neste processo. Neste momento, está na moda ter estes consultores de arbitragem nos clubes, que são observadores, dão notas e passados dois anos estão nos clubes, mas o Benfica não tem nem nunca vai ter nada disso. Tudo foi ganho dentro do campo. Desde que existe o vídeo-árbitro, o Benfica ganhou a Taça, a Supertaça e, se fosse infalível, podíamos não estar em primeiro mas estávamos muito perto”, disse, numa clara alusão à contratação de Hernâni Fernandes, antigo assistente dos árbitros João Capela e Hugo Miguel, por parte do Sporting.

“Veja um árbitro que está num camarote do FC Porto… Manuel Oliveira? Não sei, investigue-se isso… Nunca almocei com um árbitro, nunca estive num balneário ao intervalo a chamar ‘filho da p***’ a um árbitro, nunca intimidei nenhum árbitro em minha casa. Investigue-se quem ainda hoje faz isso. Olhe, não mudei o meu balneário para o lado dos árbitros. Quem fez isso? Quem tentou entrar dentro de um balneário de um árbitro, foi feita uma queixa e as imagens desapareceram? É altura de mudar porque qualquer dia há um desastre a sério e depois não fizeram nada. Sei que somos um clube dez anos à frente mas é a trabalhar, a idealizar e a inovar, a fazer grandes investimentos”, acusou o presidente do Benfica, antes do claro ataque ao Sporting.

Vão andar à porrada uns com os outros. Um já perdeu de certeza, toda a gente sabe porque sempre que fizeram aliança perderam [Sporting]. Podem ir buscar cinco ou seis jogadores que não ganham nada. O treinador não fala com o presidente, o presidente não fala com o treinador… Investigue-se também”, apontou Luís Filipe Vieira.

Reforçando que o Benfica, quando fez reclamações de notas de árbitros, apenas teve uma ação que era permitida por regulamentos (“Mas vejam quem fez mais reclamações, até de jogos de juniores”), o líder das águias defendeu ainda Paulo Gonçalves, assessor jurídico da SAD, e Pedro Guerra, comentador e antigo diretor de conteúdos da BTV.

“Até o Pedro Guerra já foi acusado… O Paulo Gonçalves, além de ser meu amigo, é um grande profissional e defende por tudo o Benfica. Dizem que é arguido, porque é advogado, mas ainda não foi nenhum advogado do Benfica preso e extraditado para Portugal como outros… O Benfica reclamava das notas, o que se podia fazer na altura. Pedro Guerra? Às vezes até pensam que é merceeiro, pelos papéis de leva para o programa. Como não percebe nada disto, tem medo de perguntar e pergunta a 20 pessoas se foi penálti”, comentou.

Por fim, e recordando alguns episódios de “comunhão de interesses” entre Benfica e FC Porto, Luís Filipe Vieira admitiu sentar-se à mesa com todos os restantes clubes e frisou que nunca mais voltou a falar de arbitragens depois de ter visto num programa televisivo como Pedro Proença, então árbitro, preparava um jogo.

“Uma das mensagens que me tocou, de solidariedade, durante este processo, foi a de Pedro Proença. Não tenho nada contra a pessoa, mas para mim não tem o perfil de presidente da Liga e se calhar esta não é bem a Liga que pensou. Ganhou, teve a maioria e temos de respeitar. Fernando Gomes? É o melhor presidente de sempre da Federação. Mas no meio disto tudo, quem tem sido mais prejudicado é o nosso futebol, não é nada abonatório para esta indústria e está instaurado um clima de ódio”, analisou, antes de recordar os últimos encontros com o FC Porto.

“Ainda recentemente nos sentámos todos. Pinto da Costa, Júlio Mendes, António Salvador, Soares de Oliveira e Antero Henrique, conseguimos então pacificar e unir as pessoas do futebol. Disse que estava em causa provar à sociedade que éramos capazes de gerir clubes e o que se tinha passado era passado, não podíamos estar sempre em quezílias. Almoçámos várias vezes e ainda hoje não percebo essa situação com Luís Duque, que era suposto ser o candidato único à Liga de Clubes e depois apareceu o Pedro Proença… Não tenho problemas em sentar-me com ninguém, não tenho as mãos sujas. E faço isto não só pelo futebol mas também pela arbitragem”, vincou.

“Desde que vi o Proença fazer uma preparação de um jogo, nunca mais falei de um árbitro e, no caso do Manuel Oliveira, fui mal entendido no que disse. Nunca mais abri a boca, nem em relação ao vídeo-árbitro, porque vai sempre haver erros humanos, mas com esta intimidação, o condicionar todos os dias… Esta geração de árbitros não se deixa subornar, mas evitar o condicionamento é difícil… Olhe, eu tive de mudar de casa à pressa, por exemplo. Imagina o que é assaltarem-me a casa e eu em Israel? A minha mulher a gritar, a perguntar o que fazia? Não foi de certeza ninguém do Benfica, nem nenhum vadio que andasse ali… Quando foi? Foi na altura do Apito Dourado, quando falava e falava. E vou continuar a falar”, concluiu Luís Filipe Vieira.

A entrevista de Luís Filipe Vieira à BTV pode ser vista aqui.

https://youtu.be/2X9gmi2_yAk