aSCML: a sigla significa Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, mas podia significar Santa Casa dos Militantes de Lisboa. O ministro do Trabalho e da Segurança Social nomeou na quarta-feira o seu ex-chefe de gabinete — o antigo deputado socialista João Pedro Correia — como vice-provedor da SCML. A saída do social-democrata Santana Lopes — para se candidatar à liderança do PSD — abriu a porta a que o PS passasse a estar em maioria na cúpula da instituição, que tem sido liderada nos últimos anos por militantes do centrão político.
A saída de Santana Lopes fez com que o socialista Edmundo Martinho, até agora vice-provedor da SCML, fosse nomeado pelo primeiro-ministro António Costa e pelo ministro Vieira da Silva como novo provedor, o que já tinha sido anunciado em outubro. No tempo do Governo de Passos e Portas quase toda a administração era composta por militantes do PSD e do CDS. Quando remodelou a instituição em março de 2016, Costa surpreendeu ao reconduzir Santana Lopes (e dois dos seus anteriores vogais), mas colocou dois homens do PS na administração: Sérgio Cintra, que era administrador da Gebalis, dirigente do PS/Lisboa e foi mandatário de Fernando Medina nas autárquicas; e Edmundo Martinho, comissário nacional do PS. Já em maio de 2017, Vieira da Silva voltou a acrescentar uma vogal com ligações ao PS à administração: Filipa Klut, que foi adjunta de Nuno Severiano Teixeira quando este foi ministro da Defesa no primeiro Governo de José Sócrates.
Desde maio que passou a existir um 3-3 entre PS e PSD, mas Santana, como presidente, tinha voto de qualidade. Só agora, fica reposta aquilo que já é uma normalidade na SCML: a administração ser controlada por militantes do partido que está no Governo. Há quatro militantes com ligações ao PS e sobram dois, do tempo de Passos, com ligações ao PSD (Ricardo Alves Gomes deixou de ser militante em 2005, mas é próximo de Santana e do partido). A surpresa foi mesmo a recondução de Santana Lopes pelo seu antigo adversário em março de 2016, quando se esperava que ocupasse o lugar um socialista.
Olhando aos provedores nos últimos anos, têm acompanhado sempre a cor política do Governo. No tempo de José Sócrates o provedor da SCML era o socialista Rui Cunha (de agosto de 2005 a 13 de setembro de 2011). Já no tempo de Durão Barroso e Santana Lopes — governos em coligação com o CDS — a provedora foi a histórica dirigente centrista Maria José Nogueira Pinto. Entre 2001 e 2002, com António Guterres a liderar o Governo, a provedora foi a socialista Gertrudes Jorge e antes dela a ex-deputada socialista Maria Sacadura dos Santos (entre janeiro de 1996 e dezembro de 2001). Entre 1992 e 1996, com Cavaco Silva no poder a provedora foi Maria Fernanda Mota Pinto (do PSD). A tradição de um provedor com cartão de militante já dura há 25 anos.
Quem é o novo vice-provedor?
João Pedro Correia — como confirma o despacho publicado em Diário da República na quarta-feira, é gestor de marketing e era já vice-presidente executivo da SAS – Apostas Sociais, Jogos e Apostas Online, S. A. Ou seja: fazia parte da direção dos jogos da SCML, cargo que ocupou após sair de chefe de gabinete de Vieira da Silva.
João Pedro Correia iniciou a atividade no setor agroindustrial, na área de marketing como gestor de produto e marca, mas passou por diversos cargos políticos: foi assessor do Partido Socialista na área da organização, deputado à Assembleia da República na VII e VIII legislaturas, foi assessor e chefe de gabinete do Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social no XVII Governo Constitucional (Vieira da Silva, no primeiro Governo de Sócrates), bem como chefe de gabinete do Ministro da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento no XVII Governo Constitucional (também de Vieira da Silva, no segundo Governo de Sócrates. Já durante o atual governo de António Costa foi chefe de gabinete de Vieira da Silva no ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.