O Instituto Nacional de Estatística atribuiu à procura interna o mais importante contributo para o crescimento da economia durante o terceiro trimestre de 2017, mas o veredito não é pacífico. O Forum para a Competitividade contesta a leitura do INE, capaz de levar “os decisores políticos a cometer erros muito graves”, e afirma que, de acordo com os cálculos que efetuou, foram as exportações a rubrica que maior peso exerceu no ritmo de aumento da atividade económica em Portugal durante aquele período.

A nota de conjuntura de novembro do gabinete de estudos dirigido pelo economista Pedro Braz Teixeira recorda que o Instituto afirmou que “a procura interna teria contribuído 3,3% para o crescimento do PIB”. Mas esta conclusão, refere o Forum, reforça “o preconceito completamente errado de que estimular a procura interna é uma boa estratégia económica, quando a “realidade já nos ensinou que é o caminho ideal para chamar o FMI e/ou a troika”.

Ao expurgar a componente importada das diferentes rubricas que integram o produto, explica o gabinete de estudos, verifica-se que “a procura interna nem sequer contribui para metade do crescimento do PIB, que depende sobretudo do andamento das exportações”. Uma tabela que acompanha a análise do Forum para a Competitividade indica que, no período em causa, o contributo da procura interna foi de 1,2%, superado pelo comportamento das exportações. O peso das vendas de bens e serviços ao exterior terá sido de 1,3%, garante a nota de conjuntura, num período em que o crescimento da economia se fixou em 2,5%, um abrandamento de meio ponto percentual em comparação com o trimestre anterior.

Economia desacelera no terceiro trimestre, mesmo com consumo privado a aumentar

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O Forum para a Competitividade assinala, também, aquelas que considera serem conclusões erradas do INE quando estão em causa o consumo privado e o investimento, componentes da procura interna. O organismo que produz e divulga as estatísticas nacionais afirmou ter-se verificado “uma aceleração do consumo privado e um abrandamento do investimento”. Mais uma vez, a avaliação do Instituto é alvo de discordância.

“É verdade que o consumo privado acelerou de 1,9% para 2,5%, mas isso deveu-se sobretudo à componente de bens duradouros (de 4,5% para 8,1%), 90% dos quais são importados e, por isso, praticamente não contribuem para o PIB”, pode ler-se na nota de conjuntura. “Se, como é muito mais correcto, analisarmos o contributo do consumo privado para o PIB líquido de importações, verificamos que o seu contributo se manteve estável em apenas 0,4% dos 2,5% que o PIB cresceu”, argumentam os economistas do Forum para a Competitividade, que rematam: “É certo que o investimento abrandou, mas o seu contributo para o PIB baixou apenas uma décima, de 0,9% para 0,8%, muito mais importante do que o consumo privado”.

O documento do Forum revela um “total desacordo com a forma como o INE apresenta os dados do PIB” e considera que estes “dão uma imagem muito enganadora do que se está a passar”. Pior: “levam os decisores políticos a cometer erros muito graves”, alerta a nota de conjuntura, que desafia o INE “a rever a forma como apresenta estes dados, em linha aliás, com a forma como o Banco de Portugal os divulga”.

Os economistas do Forum assinalam que, até setembro passado, as balanças corrente e de capital apresentaram um saldo positivo inferior ao que se verificou no mesmo período de 2016, mas superior àquele que foi registado em 2015. A melhoria deve-se ao bom desempenho do setor de viagens e turismo “que atingiu no mês de Setembro um excedente de 1318 milhões de euros”. Perante este comportamento, o gabinete de estudos estima que, para o conjunto do ano, “se chegue a atingir um excedente externo de 1% do PIB”.