Quem viu e quem vê este FC Porto: mais ou menos há três meses, na primeira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, os dragões foram surpreendidos pelo Besiktas no início, tiveram muitas dificuldades em perceber a melhor forma de contrariar as adversidades e acabaram por perder de forma justa por 3-1, face à incapacidade de responder ao desafio; agora, na sexta e última ronda, conseguiram surpreender o Mónaco (mesmo numa versão B, é sempre uma equipa com qualidade) no início, nunca tiveram dificuldades em perceber a melhor forma de contrariar as adversidades e acabaram por golear de forma justa por 5-2, face à incapacidade de responder ao desafio.

Ficha de jogo

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FC Porto-Mónaco, 5-2

6.ª jornada do grupo G da Liga dos Campeões

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Jonas Eriksson (Suécia)

FC Porto: José Sá; Ricardo, Marcano, Felipe, Alex Telles; Danilo, André André (Reyes, 42′), Herrera; Marega (Corona, 68′), Brahimi e Aboubakar (Soares, 75′)

Suplentes não utilizados: Casillas, Maxi Pereira, Layún e Óliver Torres

Treinador: Sérgio Conceição

Mónaco: Diego Benaglio; Touré, Glik, Jemerson, Kongolo; N’Doram, Meité (João Moutinho, 67′); Rony Lopes, Ghezzal, Diakhaby (Keita, 72′) e Guido Carrillo (Falcao, 67′)

Suplentes não utilizados: Seydou Sy, Fabinho, Jorge e Sidibé

Treinador: Leonardo Jardim

Golos: Aboubakar (9′ e 34′), Brahimi (45′), Glik (61′, g.p.), Alex Telles (65′), Falcao (78′) e Soares (88′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a André André (7′); cartão vermelho direto a Ghezzal (39′) e Felipe (39′)

Três meses depois, a equipa de Sérgio Conceição não aprende, ensina. E deu uma lição, percebendo bem a diferença de um jogo da Primeira Liga e da Champions apoiado em muitos dos fundamentos que o atual líder aprendeu quando era jogador em Itália e trabalhou com treinadores de topo. Foi assim esta noite, tinha sido assim na receção ao RB Leipzig, tinha sido assim na deslocação a Istambul para defrontar o Besiktas. O FC Porto é muito mais equipa a nível de domínio, controlo dos variados momentos do jogo, capacidade de explorar as debilidades contrárias. E foi eficaz, muito eficaz.

Mesmo perdendo Otávio, a grande surpresa para o jogo com os monegascos, no período de aquecimento, e vendo-se obrigado a lançar um jogador com características muito distintas do brasileiro (André André), o FC Porto, que estava no fio da navalha, como comentara Sérgio Conceição antes da partida, nunca perdeu o fio à meada. E não demorou a adiantar-se no marcador, algo sempre importante para baixar os índices de ansiedade da equipa: aos 9′, quando não havia quase registo de incidências a não ser um amarelo a André André, Brahimi colocou da melhor forma nas costas da defesa contrária após um corte e Aboubakar, na cara do golo, não perdoou e fez o 100.º como sénior.

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Foi um baque grande para o Mónaco: mesmo com muitos jogadores que habitualmente não são titulares, os miúdos estavam a mostrar a Leonardo Jardim que querem ser opção no futuro, mas a ganhar o FC Porto assumiu-se de vez como dono e senhor do encontro, nunca perdendo o foco do que era essencial fazer mesmo que isso tenha merecido uma pequena assobiadela das bancadas, após mais um de muitos atrasos (sobretudo para o que é normal) dos defesas azuis e brancos para José Sá, para tentar chamar o adversário e arriscar nas transições rápidas.

Os comandados de Sérgio Conceição eram como fogo sem bola, com zonas de pressão bem desenhadas no meio-campo do Mónaco, e gelo com ela, construindo de forma paciente e fria os melhores caminhos para a baliza de Diego Benaglio, o suíço que passou muitos anos em Portugal. Danilo, aos 22′, voltou a mostrar que parece outro jogador desde o início da temporada, muito mais envolvido com as movimentações ofensivas, e rematou para defesa apertada do helvético; nesse canto, atirou por cima; dez minutos depois, esteve no lance que rodou da direita para a esquerda até encontrar Aboubakar na área que, após tirar um adversário da frente, marcou o 2-0.

Tudo estava a correr de feição para os portistas, que sabiam também que o RB Leipzig, o adversário direto desta noite, perdia na Alemanha com o Besiktas. Mas houve uma nódoa a sujar esse pano rumo aos oitavos-de-final: aos 39′, após uma falta ostensiva de Felipe, Ghezzal reagiu mal, atirou-se ao brasileiro que também não se ficou e acabaram por ver ambos vermelho direto. Pela forma como o jogo decorria e pelo que aconteceu, talvez tenha havido algum excesso de zelo, mas a verdade é que o central azul e branco acabou por sair pela primeira vez mais cedo. Conceição reagiu, lançou Reyes para o lugar de André André e, quando muitos já estavam na fila para o cafézinho ao intervalo, Brahimi recebeu uma assistência de Aboubakar e aumentou para 3-0 (45′).

Os números volumosos ao intervalo premiavam não só a eficácia dos dragões mas também a capacidade que revelaram sempre para controlar os momentos distintos do jogo, beneficiando também da falta de rotinas dos jogadores do Mónaco que foi demasiado visível sobretudo a nível de transições defensivas.

O segundo tempo começou por mostrar um Mónaco mais arrojado, a tentar visar mais a baliza de José Sá, mas a sofrer no plano defensivo quando se esticava um pouco mais na frente. Ainda assim, através de uma grande penalidade muito contestada por alegada mão na bola de Marcano (a bola não parece bater no braço, mas viu-se nas repetições que o árbitro sueco assinalou falta pela forma como espanhol abordou o lance), Glik reduziu para 3-1 (61′).

Mas seria sol de pouca dura: Alex Telles, um jogador que muitas vezes não é referenciado pela posição que ocupa mas que é um dos elementos mais completos e importantes no modelo de jogo azul e branco, fintou a regra (avançar pelo flanco esquerdo, ganhar a linha de fundo e cruzar), arriscou a exceção (ir para terrenos mais centrais e rematar de fora da área) e apontou mesmo o segundo golo com a camisola do FC Porto quatro minutos depois.

Era tempo de festa no estádio do Dragão. De festa pela chuva de golos, de festa pelo mais do que provável apuramento para os oitavos-de-final, de reconhecimento pelas entradas em campo de dois ex-campeões e velhos conhecidos (Falcao e João Moutinho). E nem mesmo o 4-2 apontado por Falcao aos 78′, de cabeça, após cruzamento de Keita da esquerda, estragou esse ambiente: os adeptos portistas aplaudiram de pé, o colombiano pediu desculpas.

Parecia que estava tudo terminado, mas Soares, que tinha rendido Aboubakar a 15 minutos do final do encontro, ainda guardara mais um bom momento nesta noite de Champions no Dragão, saltando isolado no coração da área no seguimento de um cruzamento de Ricardo Pereira e cabeceando a bola na gaveta da baliza de Benaglio (88′).

O FC Porto não foi perfeito e tem ainda alguns pormenores por corrigir, como as perdas de bola na primeira fase de construção ou as melhores soluções no último terço em ataque posicional. Mas evoluiu muito em relação ao início desta Liga dos Campeões e alcançou com justiça o apuramento para os oitavos-de-final, o 14.º na sua história. Agora, as provas europeias regressam em fevereiro e, até lá, têm mais tempo para aprenderem, ensinarem e aprenderem para ensinarem num conjunto com um cunho cada vez mais pessoal do seu treinador, Sérgio Conceição.