Da exploração das novas tecnologias à contínua busca de novas galáxias, do universo pop de David Bowie, Prince e Jimi Hendrix, à expressividade, curiosidade e reflexão, muitas são referências sintetizadas numa tonalidade: o Ultra-violeta definida como a cor do ano 2018 pela Pantone.

O anuncio feito na quinta feira por Laurie Pressman, vice presidente deste Instituto Internacional da Cor, que justificou a escolha de uma cor cheia de simbolismo e misticismo, como uma abertura “ao que está para lá das nossas fronteiras”, “aos mistérios que esconde o vasto céu noturno”. Este ultra-violeta que junta o sanguíneo vermelho ao azul elétrico das tempestades cósmicas, dos pixels dos ecrãs, deixando 2018 sob uma estranha atmosfera de misticismo e futurismo.

Porque se, o violeta simples (a que vulgarmente chamamos roxo) se forma através da junção do vermelho e do azul, agora a ideia é ir um pouco mais longe. É, como afirmou Pressman, encontrar uma cor “que ilumine o caminho do futuro”. Não apenas “uma tendência do design mas uma vontade de pensar o mundo atual”.

O universo criado por Bowie no álbum Ziggy Stardust foi umas das referências da Pantone

Desde o ano 2000 que a Pantone tenta ser a grande influenciadora da industria do design e da moda, procurando agregar o discurso dos criadores, ao espírito das ruas, da arte, e da economia. Se 2017 foi greenery, um tom de verde, 2018 aponta para o diametralmente oposto, um tom de violeta.

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Cor dramática, reflexiva e mística

Aquilo a que hoje chamamos violeta foi, durante muitos séculos ocidentais, apenas uma variação ou um sub-tom do negro, como explica o historiador da cor Michel Pastoureau, no seu livro intitulado Preto (Orfeu Negro). Pela simples razão que a tonalidade violeta se obtinha através de pigmentos negros e vermelhos. O azul era muito difícil de obter e só a partir do século XIII com a chegada do índigo vindo do Oriente é que o azul se torna comum. É porque, durante milénios, se obtinha o roxo juntando o vermelho, símbolo da vida, com o negro, símbolo da morte, que o violeta se tornou a representação da passagem entre a morte e a vida e vice-versa, mas também da evolução, dos processos alquímico de transformação de uma matéria noutra, no desejo de sabedoria e na reflexão.

O violeta e o dourado são duas cores com uma forte simbologia tanto alquimica como cristã. Imagem anel da Tous

O violeta é uma das cores sagradas do cristianismo: a cor da paixão de Cristo, precisamente porque representa a passagem entre vida, morte e ressurreição. Durante vários séculos era a cor do luto e ainda hoje é fundamental em vários rituais. O Vaticano aplaudirá certamente esta escolha da Pantone, que a anuncia como uma cor “cheia de dramatismo e reflexividade”.

Raios violeta na moda para 2018

Batom “liquidlust007” criado pela mais top das make up artists, Path McGrath

Apesar de a força das indicações da Pantone só começar a surgir nos tecidos, maquilhagens, mobiliário etc, lá mais para meio do ano e só ter expressão nas coleções de outono/inverno 2018/2019, a verdade é que a próxima primavera já anuncia o reinado do ultra-violeta nos tons lavanda. Para já, se quiser entrar no novo ano em sintonia com o futuro, pode encontrar já esta cor na coleção de maquilhagem da perita Pat McGrath Lab, cheia de tons cómicos. Mas também na Inglot, na Butter London. As malas de viagem da American Tourister já têm a sua versão do tom, as joalharias da Tous, as botas da Zara ou as roupas da Pooze .

Por ser uma cor tão carregada de dramatismo, o roxo combina magistralmente com os dourados tão em voga, com os verdes. Quem prefere uma atmosfera mais subtil pode juntá-lo com o negro, o branco, o bege.

Sob uma aura de otimismo e, simultaneamente, de ameaça, a Pantone fez, este ano, uma das suas escolhas mais arrojadas de sempre ao apontar uma cor tão carregada de história, de símbolos, de cultura. Usá-la será, pois, um desafio.