O envolvimento de Woody Allen em alegadas histórias de assédio sexual, pedofilia e abuso sexual não é uma novidade. Mas, desta vez, a história é legítima, investigada, documentada e factual. Um jornalista do Washington Post leu o conteúdo de 56 caixas de arquivo do realizador, guardadas na Universidade de Princeton. São milhares de argumentos, guiões, ideias e histórias que nunca passaram do papel e têm uma conclusão: “Woody Allen é completamente obcecado com adolescentes”.

O jornalista, complemente crítico de Woody Allen, começa por dizer que todos os filmes do realizador têm a mesma premissa: um homem lascivo e a sua bonita conquista numa qualquer cidade romântica e cinematográfica. E parece que os guiões e argumentos presentes no arquivo seguem a mesma lógica.

Os argumentos deles são frequentemente freudianos e normalmente incluem-no a ele (ou um qualquer avatar dele) e uma fórmula quase religiosa: uma relação no limite do falhanço é atirada para o caos pela introdução de uma atraente intrusa, quase sempre uma mulher muito nova”, escreve Richard Morgan, o jornalista do Washington Post.

E parece que esse é o fio condutor da maioria das ideias presentes no arquivo com 57 anos. No princípio de “By Destiny Denied: Incident at Entwhistle’s”, um homem vive com uma rapariga de ascendência indiana de 21 anos. Woody risca, corrige, e passa a ser uma rapariga de 18. Volta a rabiscar e já são duas de 16. Em “Rainy Day”, o realizador descreve uma rapariga como tendo “20 ou 21 anos, talvez 18 – ou até 17 – mas 18 soa melhor”. Num rascunho de “The Kugelmass Episode”, uma história publicada na New Yorker em 1977, o protagonista é um professor de 45 anos totalmente fascinado pelas suas alunas numa universidade nova-iorquina. Na margem, Woody escreveu “c’est moi” – “sou eu”.

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O artigo do Washington Post surge como uma bomba numa altura em que o movimento #metoo, contra o assédio sexual em Hollywood, está no auge. Rose McGowan, uma das principais caras das denúncias contra Harvey Weinstein, já reagiu à reportagem no Twitter, onde escreveu “Woody Allen foi finalmente desmascarado”.

Em 2014, Dylan Farrow, filha adotiva do realizador, acusou Woody de abusar dela sexualmente desde os sete anos. Mais recentemente, quando rebentou o escândalo Weinstein, o cineasta disse em entrevista à BBC que teme uma atmosfera de “caça às bruxas, onde cada homem que olha para uma mulher num escritório tem que chamar logo de seguida o advogado”.