O Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde) aprovou a comparticipação do medicamento pembrolizumab como primeira linha de tratamento contra o cancro do pulmão de células não-pequenas. A utilização desta imunoterapia será comparticipada para utilização em hospitais públicos.
O pembrolizumab, sob o nome comercial Keytruda, já era usado como tratamento para o melanoma avançado em adultos e para o tratamento de cancro do pulmão de células não-pequenas em adultos que tivessem recebido pelo menos um esquema de tratamentos com quimioterapia. Esta forma de cancro do pulmão é a mais comum, correspondendo a cerca de 85% dos casos.
A aprovação da comparticipação baseia-se no facto de o pembrolizumab em monoterapia, quando comparado com a quimioterapia, reduzir o risco de progressão ou morte dos doentes em 50% dos doentes e apresentar uma redução, aos 25 meses, de 37% do risco de morte, segundo o comunicado de imprensa da Merck Sharp & Dohme (MSD), responsável pela produção do medicamento.
O pembrolizumab é usado em imunoterapia, uma forma de terapia que pretende estimular o sistema imunitário do próprio doente para combater o cancro. As células cancerígenas, enquanto células do próprio organismo, arranjam maneiras de fugir ao controlo do sistema imunitário. No caso deste cancro do pulmão, do melanoma avançado e de outros cancros sólidos já estudados, o tumor é capaz de produzir uma proteína — PD-L1 — em grandes quantidade. Esta proteína fica na periferia das células tumorais e liga-se à proteína PD1 existentes nos linfócitos (células do sistema imunitário).
O PD-L1 quando se liga ao PD1 funciona como um travão e impede que a célula do sistema imunitário destrua a célula cancerígena. O pembrolizumab, um anticorpo que se liga à proteína PD1, e outros medicamentos de imunoterapia, que se ligam à PD-L1, têm o mesmo objetivo: impedir que o cancro trave a ação do sistema imunitário.
O novo caminho para combate ao cancro que faz aumentar esperança de vida
Uma das grandes vantagens da imunoterapia é ser menos tóxica e ter menos efeitos secundários que a quimioterapia, conhecida por causar anemia, baixa de plaquetas e leucócitos ou queda de cabelo. Ainda assim, a imunoterapia tem limitações e riscos. “Ao desbloquear alguns mecanismos de controlo da imunidade, um dos maiores riscos da sua utilização são a criação de fenómenos de autoimunidade”, disse ao Observador Venceslau Hespanhol, presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia. Estes efeitos secundários são, no entanto, “pouco intensos, passíveis de serem antecipados e controlados”. Além disso, uma vez resolvido o problema a terapia pode ser retomada.
“Estes fármacos estão em investigação numa grande diversidade de tumores, nuns têm demonstrado benefício, noutros isso ainda não foi atingido”, refere o médico Venceslau Hespanhol. “Porém, apesar dos excelentes resultados que têm sido obtidos, muito ainda há para conhecer sobre os mecanismos da resposta imune aos tumores e sobre a seleção dos doentes que mais deles beneficiam.”