É a casa do amor. Quer seja desenhado, esculpido ou ganhe forma com o modo como colocamos as mãos. Quando aparece, ninguém duvida do que significa: desde a Grécia e da Roma Antiga que o desenho do coração simboliza o amor. Mas como chegou ao formato simétrico que conhecemos e desenhamos?

Hoje, todos sabemos qual é o formato do coração humano, mas no século II ninguém fazia ideia. Nessa altura, o médico grego Galen chegou à conclusão de que o coração — órgão do corpo humano que batia mais depressa quando as pessoas se apaixonavam — tinha o formato de uma pinha, conta a investigadora Marilyn Yalom, da Universidade de Stanford, no Wall Street Journal, que escreveu o livro “O coração amoroso: uma história não convencional de amor”.

Esta visão da pinha durou até à Idade Média, altura em que o desenho do coração começou a representar visualmente o que era o amor (e o que era amar).

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As primeiras ilustrações do coração surgiram por volta do ano 1250, numa alegoria francesa chamada “O Romance da Pêra”. Nesta alegoria o coração aparecia com uma forma parecida à de uma pinha, de uma beringela ou de uma pêra, com a extremidade estreita apontada para cima e a parte mais larga apoiada numa mão humana.

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Noutra ilustração esculpida em marfim num espelho, por volta de 1.300, aparece um homem a ajoelhar-se perante uma mulher e a oferecer-lhe o coração enquanto levantava um aro grande acima da sua cabeça. Cinco anos depois, o artista italiano Giotto também pintou a virtude teológica da “caridade” ou do “amor” numa capela em Pádua, desenhando uma mulher a levantar o seu coração em direção a uma figura de barba que se acredita ser Cristo ou Deus.

Apesar de simbolizarem o amor, os desenhos destes corações ainda não tinham a forma que conhecemos hoje. Só no início do século XIV é que evoluíram e é no livro “Documento do Amor” que vemos, pela primeira vez, corações simétricos amarrados ao pescoço de um cavalo, explica a investigadora. Em cima do cavalo está a figura do Cupido, com as setas numa mão e um ramo de rosas na outra. O Cupido corre vitorioso com os corações em que acertou, deixando para trás uma fileira de indivíduos que foram atingidos pelo amor.

Em 1340, num manuscrito que se chama “O Romance de Alexander”, uma mulher levanta um coração simétrico com dois lóbulos claramente desenhados, que recebeu de um homem que está à sua frente. Desde esta altura que o coração estilizado se impôs em páginas de manuscritos, mas também em tapeçarias ou peças de joalharia. Mesmo quando os primeiros médicos conseguira ver qual era a verdadeira forma do coração humano, os artistas e artesãos permaneceram fiéis à forma simétrica com os dois lóbulos, a mesma que conhecemos hoje.

Dr. Yalom, investigador da Universidade de Stanford que escreveu o livro “O coração amoroso: uma história não convencional de amor”, diz que a durabilidade do desenho do coração se pode dever à sua forma:o facto de duas metades formarem uma figura apenas traduz na perfeição a ideia platónica do amor e da busca pela alma gémea.

“Mais inconscientemente, e a um nível menos etéreo, talvez o seu sucesso tenha a ver com a evocação subtil que faz aos peitos e nádegas do corpo humano”, lê-se no ensaio publicado no Wall Street Journal.

Os séculos vão passando, mas o formato do coração mantém-se como símbolo do amor. “Hoje, o coração estilizado que simboliza o amor reina supremo no mundo todo. Pode ser apenas uma metáfora, mas também serve bem como símbolo universal daquilo que é o mistério do amor”, explica a investigadora.