Os primeiros anos resumem-se numa palavra: estrada. Formados em 2007, os HMB — sigla que significava, inicialmente, Héber Marques Band, expressão a que o quinteto rapidamente se desapegou, por querer ser um coletivo e não uma banda que acompanha um líder e vocalista (precisamente Héber Marques) — só lançaram o primeiro álbum (homónimo) cinco anos depois. Dez anos após os primeiros concertos, a banda portuguesa de soul celebrou a data redonda com uma atuação no Coliseu do Porto, em novembro passado. Este sábado, 24, as celebrações estendem-se a Lisboa, com um concerto no Campo Pequeno.
Tal como no espetáculo do Porto, os HMB terão em Lisboa convidados especiais. Em vez de estarem acompanhados pelos Expensive Soul — precursores (lançaram o primeiro álbum em 2004) e talvez o grupo com uma sonoridade mais próxima à dos HMB, pelo tom romântico, festivo e espiritual dos seus temas –, o quinteto formado por Héber Marques (vocalista), ‘Fred’ Martinho (guitarrista), Daniel Lima (teclista), Joel Silva (baterista) e Joel Xavier (baixista) terá ao seu lado DJ Ride, Virgul (ex-Da Weasel) e a fadista Carminho, com quem os HMB gravaram o seu grande êxito destes dez anos, “O Amor é Assim”.
[O Amor é Assim venceu o Globo de Ouro para Melhor Música, em 2017]
Com uma profunda ligação à Igreja — não por acaso, ensaiam na CCLX (Comunidade Cristã de Lisboa), uma das comunidades evangélicas de Lisboa e os primeiros contactos que tiveram uns com os outros foi pela pertença a esse grupo religioso, à excepção de ‘Fred’ Martinho, o único a não crescer nesse contexto –, não surpreende que a espiritualidade e as heranças da soul e do gospel estivessem desde cedo presente no ADN da banda. Foram essas influências que fizeram os HMB compor como “Peito”, “Não me Deixes Partir”, “Não me Leves a Mal”, “Feeling” (com participação da cantora de funk Da Chick), “Essa Saudade de Ti” e “Talvez”. Alguns destes temas (se não todos) deverão ouvir-se no concerto deste sábado no Campo Pequeno, apropriadamente intitulado ‘A Primeira Década’.
Ao longo destes dez anos — mais particularmente nos últimos cinco, após a edição do primeiro álbum –, o grupo português tem crescido dentro e fora de portas, tendo dado concertos em países como a Namíbia (lançaram, aliás, um álbum aí gravado: “Ao vivo no Teatro Nacional da Namíbia”) e Zimbabwe, provando assim que, apesar do fator língua (cantam em português), a espiritualidade da música contagia mesmo quem não domina o vocabulário em que se expressam.
Já em 2017, atuaram no Rock in Rio Brasil, num concerto com Carlão e Virgul (convidado para o espetáculo deste sábado) que fez um crítico da Folha de São Paulo chamar-lhes “um grupo de funk, com alguns desvios para outros ramos da música negra” e considerar que “o hip hop português ainda está no jardim de infância”.
Em 2012, aquando do lançamento do seu primeiro trabalho, os HMB apresentavam-se assim aos fãs, em entrevista à TVI e pela voz do seu baterista, Joel Silva: “A Erykah Badu, o D’Angelo, o pessoal do hip hop como o Common ou os The Roots, são bandas que realmente nos influenciaram e continuam a influenciar. Em Portugal, o estilo de música que fazemos começa agora a ganhar alguma atração e temos nós a agradecer por isso pelo trabalho que tem sido desenvolvido por pessoas como os Expensive Soul. A Sara Tavares, numa vertente um bocadinho mais afro, é uma pessoa que também nos marcou bastante.”