A investigadora da Universidade de Coimbra (UC) Catarina Seabra obteve uma bolsa individual Marie Curie, no valor de 150 mil euros, para desenvolver ‘mini-cérebros’ tridimensionais (3D) de origem humana para estudar o autismo de forma inovadora. A investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC Catarina Seabra “acaba de obter uma bolsa individual Marie Sklodowska-Curie” (da Comissão Europeia), que irá “aplicar no desenvolvimento de ‘mini-cérebros’ tridimensionais (3D) de origem humana que permitam estudar o autismo de forma inovadora”, anunciou esta quarta-feira a UC.

O estudo vai ser desenvolvido ao longo dos próximos dois anos, no âmbito do projeto ‘ProTeAN’ (Produção e Teste de neurónios e organoides cerebrais humanos: modelos avançados para o estudo de doenças do neurodesenvolvimento), liderado pelo investigador João Peça, do Grupo de Circuitos Neuronais e de Comportamento do CNC, adianta a UC. “Estes ‘mini-cérebros’, ou, em linguagem científica, organóides cerebrais, terão uma dimensão de quatro milímetros e vão ser produzidos a partir de células estaminais dentárias (presentes em dentes de leite e do siso) provenientes de pacientes com autismo”, acrescenta.

Com estes ‘mini-cérebros’ (assim designados por mimetizarem o processo de maturação cerebral) “vai ser possível explorar de forma inovadora as características do cérebro de pessoas com autismo, prestando especial atenção às mudanças morfológicas e à comunicação entre neurónios, e compará-las com a organização do cérebro de pessoas saudáveis”, explicam Catarina Seabra e João Peça. Esta abordagem, sublinham os investigadores, citados pela UC, “tem a vantagem de obtenção de células através de um processo minimamente invasivo (através da recolha de dentes de leite ou do siso) e proporcionará uma plataforma biomédica e biotecnológica com potencial clínico para medicina personalizada”.

Isto é, “vai ser possível testar alvos terapêuticos ajustados às especificidades de cada doente”, salientam. A utilização destes organoides cerebrais em laboratório permite, por outro lado, substituir os ensaios convencionais, como, por exemplo, testes em ratinhos. “As perturbações do espetro do autismo são condições crónicas que afetam uma em cada 68 crianças e produzem grandes custos para a sociedade”, afirma a UC, sublinhando que “para entender melhor estes distúrbios, o acesso ao tecido neuronal dos pacientes é crítico”.

O projeto conta com a colaboração dos especialistas Guiomar Oliveira, da Unidade de Neurodesenvolvimento e Autismo do Hospital Pediátrico de Coimbra, João Miguel dos Santos, da Faculdade de Medicina da UC, e Guoping Feng, do McGovern Institute for Brain Research do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Boston. As bolsas individuais das Ações Marie Sklodowska-Curie, inspiradas no nome da cientista franco-polaca galardoada com dois prémios Nobel e reputada pelo seu trabalho no domínio da radioatividade, são atribuídas pela Comissão Europeia no âmbito do Programa Horizonte 2020.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR