A primeira audição de Mark Zuckerberg no Senado norte-americano, nos Comités de Comércio, Ciência e Transportes e no Judiciário, foi longa: demorou cerca de cinco horas e o líder do Facebook teve de responder a perguntas de 44 senadores, numa sessão que foi inaugurada com 100 figuras de cartão com a imagem de Mark Zuckerberg em frente ao Capitólio, o edifício onde funciona o Congresso norte-americano. Ficam as sete ideias que tem de re reter:

Cambridge Analytica: Ninguém no Facebook foi despedido

Sobre os dados que foram indevidamente utilizados pela empresa britânica de análise de dados, o líder do Facebook garantiu que  a empresa está a fazer “uma auditoria a cada aplicação” presente na plataforma. Em resposta às perguntas do senador Chuck Grassley, Zuckerberg explicou que não sabe se há mais aplicações a utilizarem dados como a Cambridge Analytica fez.

Questionado sobre se os funcionários do Facebook estiveram envolvidos com a empresa britânica, Zuckerberg atirou com um “não sei” e com um “não ouvi nada sobre isso”. Também afirmou que ninguém na empresa foi despedido por causa do escândalo que rebentou em março e que o se passou foi “que as pessoas escolheram partihar informação com um programador, que depois foi transferida para fora do nosso sistema”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O fundador do Facebook disse ainda que não consegue garantir que Alexander Kogan, o académico que fez a aplicação utilizada pela Cambridge Analytica já não tenha acesso à rede social. “Estamos a impedir que Kogan faça mais aplicações”, afirmou, sublinhando mais tarde que o caso Cambridge Analytica prejudicou a imagem da rede social e dos serviços que fornece.

Regulação, regulação e mais regulação

“É preciso mais regulação”, foi assim que Mark Zuckerberg respondeu à senadora do Minnesota, Amy Klobuchar. A legisladora perguntou ao presidente executivo da maior rede social do mundo se apoiaria uma lei que criasse maior transparência em anúncios online. Atualmente, Klobuchar está a tentar que o Congresso aprove novas medidas para publicidade na Internet, o Honest Ads Act.

O tema de regulação para as plataformas da Internet foi recorrente entre os senadores. Zuckerberg afirmou que a pergunta já não incide sobre se é necessária ou não legislação para as redes sociais na Internet. “A pergunta deve ser: que tipo regulação deve existir”, disse o fundador da rede social.

Ainda sobre as leis (ou falta delas), mais que uma vez surgiu a questão de o Facebook aplicar nas suas plataformas, a nível mundial, as alterações que teve de fazer na sequência da entrada em vigor do regulamento geral sobre a protecção de dados (RGPD), que passará a ser plenamente aplicável na União Europeia a partir de 25 de maio. O RGPD é a nova legislação europeia que passará a permitir multas mais avultadas às empresas que utilizam indevidamente os dados pessoais.

O verdadeiro impacto desta legislação ainda não é conhecido e o facto de o Facebook passar a ter de cumprir na Europa com o RGPD tem levado a um debate maior, sobre se devem os EUA devem seguir o mesmo caminho da União Europeia. “Os europeus acertaram?”, perguntaram a Zuckerberg, que respondeu que “já acertaram nalgumas coisas”.

O Facebook vende os meus dados pessoais? Não, diz Zuckerberg

Questionado sobre se o Facebook deveria ter de pedir uma permissão clara dos utilizadores antes de vender informação sensível sobre as suas finanças e hábitos, Zuckerberg foi taxativo: “Não vendemos informação, por isso, isso não é uma coisa que vamos fazer”, respondeu o multimilionário de 33 anos. O senador Mike Lee foi um dos que mais forçou o tema, lembrando Zuckerberg que o modelo de negócio do Facebook se baseia na monetizaçao dos dados das pessoas.

“Espero que aquilo que fazemos com os dados não seja uma supresa para as pessoas, acho que neste caso as pessoas não esperavam que os seus dados fossem vendidos à Cambridge Analytica”, disse Zuckerberg, desvinculando-se do papel que o Facebook teve nisso. Os dados foram recolhidos pelo programador Alexander Kogan, que depois os vendeu à Cambridge Analytica.

Apesar de ter afirmado que o Facebook é mais cauteloso com os dados pessoais dos utilizadores do que o governo americano, Zuckerberg admitiu que “teoricamente” é possível que um funcionário da rede social aceda aos dados dos utilizadores
Já no final da audição, Zuckerberg respondeu a uma das perguntas que mais atormenta utilizadores: “Pode um funcionário do Facebook aceder aos meus dados?” Para o fundador da rede social, “teoricamente” é um cenário possível.

Questionado se o Facebook considera que os dados pessoais dos utilizadores pertencem à rede social, Zuckerberg respondeu: “Não, Senador. Você é que controla os dados que põe no Facebook.”

“Não sei responder, mas vou garantir que a minha equipa lhe faz chegar essa informação”

Quanto dinheiro é que o Facebook fez com propaganda de entidades estrangeiras? O Facebook recolhe também a informação de contactos de menores que utilizam o Messenger? Há informação da Cambridge Analytica em servidores russos? Quanto tempo mantém a informação dos utilizadores depois de estes saírem da rede social? Sim, podem ter existido perguntas repetidas nas cinco horas de audição no senado americano, mas também foram várias as perguntas que Zuckerberg conseguiu não responder.

O truque foi simples: ““Não lhe sei responder, mas vou garantir que a minha equipa lhe faz chegar essa informação”. Nos próximos 14 dias os senadores americanos vão poder adicionar perguntar à ata da audição. Contudo, se a “equipa” do presidente executivo do Facebook vai fazer chegar a informação das perguntas a que não conseguiu/não quis responder, falta ainda saber.

O Facebook vai ter para sempre uma versão gratuita

O Senador Orrin Hatch lembrou o presidente executivo do Facebook que, em 2014, este tinha dito que a rede social ia ser sempre gratuito e perguntou-lhe se a ideia se mantinha. Zuckerberg respondeu que “o Facebook vai ter sempre uma versão gratuita”, mas não descartou a possibilidade de ter uma versão paga. Sendo gratuito, como se financia? “Temos anúncios, senhor senador”, respondeu o senador.

O Senador Bill Nelson, com quem Zuckerberg se reuniu na passada segunda-feira à chegada a Washigton D.C., também insistiu no tema, questionando Zuckerberg se equaciona um modelo de subscrição para os utilizadores. O presidente do Facebook respondeu que, por enquanto, não pensa nesse modelo, mas que se essa hipótese estiver em cima da mesa, com a contrapartida de os utilizadores não terem de levar com publicidade no mural, que a considera.

Abuso de dados pessoais? Sim. E abuso de posição dominante no mercado? Nim

É o Facebook um monopólio? Foi uma das perguntas que mais incomodou Zuckerberg. O presidente da rede social afirmou que o negócio da empresa se divide em, pelo menos, três setores e que tem concorrentes com a Google, a Apple e a Microsoft nesse ramo. Mesmo assim um senador acusou-o de comprar a concorrência (como fez com o Instagram, em 2014),  impedindo outros de crescer. “Se não gosto do Facebook, que produto equivalente posso utilizar”, perguntou o senador Graham. Zuckerberg, gerando risos na sala da audição, respondeu: “Se temos não sinto isso”.

Defendendo-se, Zuckerberg afirmou que o utilizador americano comum utiliza oito aplicações diferentes para comunicar com amigos. O fundador da maior rede social do mundo afirmou ainda que o que o Facebook oferece não é um serviço único, mas sim vários serviços e, por isso, não se pode considerar que tem só um concorrente (a crítica é que o único concorrente é a Google, num duopólio), mas sim vários.

A solução esteve quase sempre na inteligência artificial

Foi outra das respostas chave que Zuckerberg tinha preparada para responder a uma das perguntas mais dificeis feitas pelos senadores: Como é que vão resolver os problemas do Facebook? Para Zuckerberg, problemas como o abuso de dados pela Cambridge Analytica, a interferência de agências russas nas eleições americanas ou os discursos de ódio, vão ser cada vez mais resolvidos através de sistemas de inteligência artificial.

Zuckerberg garantiu, por exemplo, que “99% da propaganda do Estado Islâmico e da Al-Qaeda é eliminada antes de as pessoas a conseguirem ver, mas que, ainda assim, demorará entre cinco a dez anos a ter o sistema de inteligência artificial totalmente pronto.