Vícios de condução, quem não os tem? A questão é que há uns hábitos piores do que outros. Por exemplo, há quem aprecie conduzir quase de esguelha, só para acomodar o cotovelo na janela, naquilo que parece ser “um estilo” de condução mais descontraído. Este tipo de taras e manias ao volante vê-se com alguma frequência – sobretudo no Verão, vá-se lá saber porquê –, embora todos saibamos que não é ensinado pelos instrutores de condução. É recomendável? Não. Faz mal? Só quando interfere com a capacidade de reacção do condutor. O mesmo não se passa com o hábito que alguns condutores têm de arrancar em segunda – outra coisa que não vem nos manuais de instrução e que pode dar azo a lições bem caras, quando for visitar uma oficina. Mas já lá vamos.

Há, de facto, situações em que iniciar marcha em segunda velocidade pode ser a opção mais acertada, mas contam-se pelos dedos de uma mão (e ainda sobram alguns). Uma dessas situações é quando o piso se apresenta em condições de fraca aderência. Na neve ou no gelo, por exemplo, faz mais sentido arrancar em segunda, porque isso implica esforços mínimos para a embraiagem e para a caixa e, por outro lado, porque com isso estamos a enviar menos torque para as rodas. Logo, conseguimos não só progredir no terreno de forma mais gradual, como também com maior controlo sobre o veículo nos primeiros metros.

Outra das situações é em descidas e aplica-se, sobretudo, aos automóveis com uma primeira relação muita curta. Ou seja, aí não é prejudicial aproveitar o balanço, para evitar pôr primeira e, logo a seguir, segunda.

Em praticamente todas as restantes circunstâncias, arrancar em segunda até pode ser mais “confortável”, mas é um erro que coloca a mecânica em sofrimento e o condutor também, quando o mecânico o informa da conta que tem a pagar! Se quiser prolongar a vida útil da embraiagem e da caixa de velocidades do seu carro, é bom que tenha presente que os arranques em segunda submetem estes componentes a fricções e vibrações desnecessários, conduzindo-os inevitavelmente ao desgaste e à necessária substituição, numa intervenção cuja factura não é propriamente barata. O que é que acontece quando ignoramos a primeira mudança e iniciamos a marcha logo em segunda? Obrigamos o disco de embraiagem a suportar a fricção durante mais tempo, submetendo-o a um esforço de maior magnitude até que as rotações do motor e das rodas (através da caixa) encontrem o devido sincronismo. Então, e em primeira nada disso acontece? Acontece, só que durante muito menos tempo, sendo que o disco da embraiagem (supostamente) está apto a lidar com esse esforço. Não está é disposto a lidar com “abusos”, porque não foi concebido para ser sistematicamente submetido a “esforços” e “maus-tratos”. Por muita curta que seja a primeira…

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Nada como ver as explicações do canal do YouTube Engineering Explained:

Normalmente, a vida da embraiagem situa-se algures entre os 100.000 e os 150.000 km – valores de referência que correspondem, respectivamente, a um gasolina e um diesel. Arrancar em segunda, com frequência, em nada contribui para dilatar esse período. Pelo contrário. Portanto, se o seu conta-quilómetros ainda está nessa fasquia, mas já começou a notar um certo cheiro a queimado quando faz ponto de embraiagem ou nas passagens de caixa, a ouvir barulho quando troca de mudança, a sentir dificuldades em engrenar a relação (como se a embraiagem estivesse a ‘patinar’) ou instabilidade durante a condução, o melhor é preparar-se para passar por uma oficina. Sucede que, como a embraiagem garante a ligação entre o motor e a caixa de velocidades, todos os elementos (disco, mecanismo e rolamento de encosto) ficam situados no compartimento do motor, pelo que aceder-lhes para proceder à respectiva substituição consome muito tempo de mão-de-obra. Ou seja, embora haja kits relativamente acessíveis (os preços podem ir até aos 500€), não há como escapar a uma intervenção morosa. Logo, necessariamente dispendiosa, com a mão-de-obra a potencialmente duplicar o preço.