Na última semana, todos os olhos estiveram postos em Milão. Foi durante a Isaloni, uma das maiores feiras de mobiliário do mundo, que a primeira Moon foi apresentada publicamente, no Brera Design District. As reações foram, no mínimo, curiosas. “Ninguém se apercebia de que a música vinha da poltrona, nem mesmo quem estava ao lado dela. Um dia destes tenho de fazer um vídeo só com as reações das pessoas quando percebem e se sentam”, conta Pedro Meireles, o engenheiro acústico que, há dois anos, começou a desenvolver uma cadeira com um sistema de som integrado.

“Tinha ido a casa de um amigo e reparei que ele tinha uma pequena coluna que ligava ao telemóvel através de bluetooth. Ele punha-a sobre a mesa e usava-a para propagar o som. Pensei imediatamente na junção das duas coisas. Depois disso, tive várias ideias, uma delas foi uma secretária, mas acabei por chegar à poltrona por ser uma peça com mais impacto”, explica. A Moon é uma senhora cadeira. Pesa 80 quilos, tem um casco em madeira maciça e cinco colunas incorporadas: um subwoofer debaixo do assento, duas colunas de mid-range do lado de fora das laterais e dois tweeters do lado de dentro, ao nível da cabeça. Mais do que proporcionar uma experiência de som a quem se senta, a Moon é capaz de dar música a uma sala inteira. Isso é possível através do material rígido de que é feita, que amplifica o som da mesma forma que acontecia com a mesa do amigo. Para desenvolver o sistema de som, Pedro contou com uma equipa britânica, por sinal, liderada por um português, professor na Universidade de Salford.

Moon, a cadeira que incorpora um sistema de som com cinco colunas, é feita em Paços de Ferreira e custa 20.000 euros © Hugo Rodrigues

O segundo passo foi tornar a tecnologia invisível. Não há botões, fios nem LEDs que denunciem esta função extra, ao mesmo tempo que pode ser conectar-se a qualquer equipamento, móvel ou não, através de bluetooth ou wi-fi. Esta segunda ligação também permite sincronizar várias cadeiras. Um dos segredos foi a utilização de tecidos com transparência acústica, aos quais se podem juntar um estofo em pele ou em veludo. “Desde o início que quis fazer uma peça que fosse apetecível para designers, decoradores e arquitetos”, afirma Pedro. Para isso, contou com a ajuda da designer Mónica Braga dos Santos que se focou, sobretudo, na imagem de uma cadeira luxuosa e robusta. Pelo caminho, Pedro deixou o emprego que tinha como engenheiro acústico numa empresa portuguesa do ramo para se dedicar exclusivamente à Horizon 47, a marca que entretanto criou para apresentar o primeiro protótipo da Moon na Maison et Objet, em Paris, em setembro de 2016.

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“Foram meses até conseguir afinar a produção”, admite. Meses e um regresso à fábrica de mobiliário fundada pelo avô, há mais de 50 anos. Para Pedro, o negócio da família tinha sido sempre uma realidade distante, mas com uma peça para produzir, destinada ao mercado de luxo, optou por regressar às origens. Em março de 2016, o projeto conseguiu o apoio da StartUP Portugal. Durante um ano, o programa garantiu um financiamento de 700 euros por mês. Ao fim desse tempo, o empresário recorreu a capital próprio e à ajuda da família. Agora, já tem um investidor de olho na cadeira que dá música. Enquanto as conversações decorrem, a ida a Milão chamou a atenção de distribuidores dos Estados Unidos e da China e, em Portugal, já está tudo a postos para iniciar a produção (esteve quase a vender o exemplar único que levou para Itália). Cada cadeira tem um valor de mercado de 20.000 euros e embora outras marcas já tenham investido na mesma forma, no passado, Pedro já avançou com um pedido de patente por considerar as tentativas anteriores “extremamente limitadas, do ponto de vista tecnológico”.

Pedro Meireles, o empresário de 29 anos que criou a Moon

“É uma sensação diferente da que temos com uns headphones ou numa sala de cinema, porque há também uma ligeira vibração”, conclui Pedro. À cadeira Moon, Pedro juntou o Ottoman, um pousa-pés para quem quiser tornar a experiência ainda mais relaxante. Daqui para a frente, o empresário quer continuar a explorar o mundo das cadeiras e poltronas, inovando no design. Então e a secretária que em tempos foi uma possibilidade? Quem sabe um dia.