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Como Conceição apagou em 50 jogos quatro anos de Pinto da Costa (a crónica do Marítimo-FC Porto)

Este artigo tem mais de 5 anos

Sérgio Conceição cumpriu o jogo 50 pelo FC Porto com uma vitória aos 89' frente ao Marítimo, com um golo de Marega (1-0). E são estes 50 jogos que explicam o título que está praticamente certo.

Marega voltou a ser decisivo no regresso à Madeira e esteve no centro da festa portista frente ao Marítimo
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Marega voltou a ser decisivo no regresso à Madeira e esteve no centro da festa portista frente ao Marítimo

AFP/Getty Images

Marega voltou a ser decisivo no regresso à Madeira e esteve no centro da festa portista frente ao Marítimo

AFP/Getty Images

Quando estava a caminho do aeroporto este sábado com os restantes convocados uma hora depois do que estava planeado, Iker Casillas continuava a mostrar o seu espanto com aquilo que tinha visto uns minutos antes: milhares de adeptos do FC Porto deslocaram-se até à zona da garagem do estádio do Dragão para deixarem uma derradeira palavra de incentivo e apoio antes do encontro frente ao Marítimo (foi também escrito que nunca tinha havido tanta gente à espera dos azuis e brancos no Funchal, acrescente-se). “Não se explica, vive-se!”, partilhou através das redes sociais. Vive-se e sente-se também. Como na conferência de antevisão de Sérgio Conceição.

https://observador.pt/2018/04/29/maritimo-fc-porto-dragoes-procuram-dar-passo-decisivo-para-o-titulo/

Não se notou uma grande diferença na postura do técnico depois do triunfo na Luz, antes e depois da goleada diante do V. Setúbal; este sábado, e a muitas horas do Benfica perder na Luz com o Tondela, parecia mais solto, confiante, como se estivesse a adivinhar aquilo que se passaria mais tarde. Aproveitou uma pergunta sobre reforços para falar da visita de Obama ao Porto em julho, recordou a fábula do Pedro e o Lobo para comentar a denúncia anónima contra o guarda-redes do Marítimo Amir, descreveu o registo histórico negativo nas viagens à Madeira (não só do FC Porto mas também seu) utilizar a expressão do “bicho papão” que não podia existir. Teve outro registo.

Sérgio Conceição cumpriu frente ao Marítimo o jogo 50 no comando do FC Porto, com um total de 36 vitórias, oito empates e seis derrotas. Nesse período, entre agosto e abril, apagou quatro anos da era Pinto da Costa. Anos de más escolhas de treinadores, anos de anormal instabilidade interna, anos de escolhas menos conseguidas nas contratações. Com as suas diferenças, foram 50 jogos que devolveram os dragões aos princípios que nortearam o crescimento dos azuis e brancos em termos nacionais e europeus, inspirados na figura de José Maria Pedroto.

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Ficha de jogo

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Marítimo-FC Porto, 0-1

32.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Marítimo, no Funchal

Árbitro: Carlos Xistra (AF Castelo Branco)

Marítimo: Amir; Bebeto, Zainadine, Pablo, Rúben Ferreira; Jean Cléber (Charles, 44′), Gamboa, Fabrício; Jorge Correa (Ghazaryan, 84′), Joel Tagueu e Ricardo Valente (Edgar Costa, 72′)

Suplentes não utilizados: Diney, Nanu, Erdem San e Rodrigo Pinho

Treinador: Daniel Ramos

FC Porto: Casillas; Ricardo, Felipe, Marcano, Alex Telles; Herrera, Sérgio Oliveira (Óliver Torres, 71′); Otávio (Corona, 60′), Brahimi (Gonçalo Paciência, 88′), Marega e Soares

Suplentes não utilizados: Vaná, Maxi Pereira, Diego Reyes e Hernâni

Treinador: Sérgio Conceição

Golo: Marega (89′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Jean Cléber (16′), Bebeto (78′), Ghazaryan (85′), Marcano (87′), Gonçalo Paciência (90+1′) e Felipe (90+3′); cartão vermelho direto a Amir (41′) e Rúben Ferreira (90+4′)

No início da temporada, fruto das restrições orçamentais impostas pela UEFA após exercícios seguidos com enormes (e em alguns casos inexplicáveis) défices, o FC Porto resumiu as contratações ao regresso de jogadores que andavam por aí emprestados e Vaná, até numa perspetiva de salvaguardar uma possível saída de Casillas; hoje, olhamos para figuras como Marega, Ricardo ou Sérgio Oliveira e perguntamos onde andavam. No início da temporada, fruto do contexto hegemónico do Benfica nos últimos anos, o FC Porto procurou (e encontrou) forças no interior, algumas vezes com aquele discurso do “vamos contra tudo e contra todos”; hoje, aquilo que vemos é a equipa que melhor futebol apresenta e que maior regularidade conseguiu manter. No início da temporada, fruto do passado recente, o FC Porto não partia como favorito; hoje, está apenas a um ponto de se sagrar campeão, cinco anos depois. No início da temporada, fruto dos consecutivos insucessos, os adeptos estavam com a equipa mais por paixão do que por convicção; hoje, existe a convicção de que a paixão que um dia parecia perdida foi reencontrada.

Tudo isto que mudou em 50 jogos foi visto nos primeiros 15 minutos na Madeira: o FC Porto entrou decidido a ganhar vantagem para poder estabilizar o seu jogo e teve logo uma oportunidade flagrante aos dois minutos, quando Marega assistiu Soares na área para defesa de Amir. Pouco depois, Brahimi, o mais endiabrado na primeira metade, arriscou a meia distância mas o iraniano voltou a travar a intenção. E até seria um pouco contra a corrente do jogo que o Marítimo obrigaria Casillas à intervenção mais complicada ao longo dos 90 minutos, defendendo para canto um desvio de cabeça de Jean Cléber ao primeiro poste após cruzamento da direita.

Aos poucos, os insulares começaram a conseguir encher mais o terreno, com aquele jogo de campo grande a explorar ao máximo a amplitude das laterais em superioridade numérica para depois fazer a diferença no corredor central. E ficou provado que, quando tem capacidade, o conjunto comandado por Daniel Ramos apresenta uma ideia de jogo interessante e que pode criar muitas dificuldades ao adversário. Tantas como Brahimi e Marega iam criando com constantes movimentações de dentro para fora e de fora para dentro, que iam tirando referências à sempre bem organizada defesa do Marítimo. Aos 25′, o maliano voltou a tentar, mas Amir defendeu sem grandes dificuldades.

O FC Porto podia ter mais bola e mais remates, mas globalmente o encontro estava equilibrado. E provavelmente os dois treinadores já começavam a pensar no que poderia mudar no segundo tempo, do lado portista com mais peso na frente e do lado insular com mais velocidade pelas alas. Mas houve outro fator que acabou por desequilibrar muito mais a partida: aos 40′, na sequência de um passe longo de Sérgio Oliveira para as costas da defesa do Marítimo, Amir teve uma saída precipitada da baliza e acabou por derrubar Soares muito perto do limite da área, recebendo ordem de expulsão naquele que foi o quarto vermelho mais rápido de sempre a um guardião contra os dragões. Um vermelho que, no final, os responsáveis maritimistas colocaram em causa por uma possível mão de Soares.

Os primeiros 44 minutos do segundo tempo podem resumir-se a um parágrafo: o jogo teve sentido único, o Marítimo nunca mais conseguiu sequer fazer um remate à baliza de Casillas mas o FC Porto também foi enfrentando dificuldades para desfazer o nulo com mais uma unidade, após um início diabólico com três oportunidades logo a abrir. Mais tarde, já com Corona a dar profundidade pelo corredor direito e Óliver Torres a tentar oferecer outro critério no meio em vez de Sérgio Oliveira, Soares voltou a falhar na hora das decisões, dando uma maior amplitude à grande exibição que Charles e o quarteto defensivo insular, sobretudo Pablo e Zainadine, foram conseguindo fazer.

Da mesma forma como a vantagem do FC Porto chegou a aparentar ser uma questão de tempo, começava já a ver-se a real possibilidade de chegar ao final com o nulo. Até que, aos 89′, houve um canto. E tudo mudou: Alex Telles, o lateral dos principais campeonatos europeus que mais ações tem nos golos da sua equipa (22, entre quatro golos e 18 assistências, à frente de nomes como Jordi Alba ou Kolarov), marcou na esquerda ao primeiro poste e Marega, o avançado que regressava à Madeira, onde se tinha destacado, cabeceou picado sem hipóteses para o 1-0. Verdade seja dita, se havia jogador que merecia marcar um golo associado ao título era ele. Tal como foi Herrera na Luz. E o epílogo de tudo isto encontra-se apenas à distância de um ponto. Tudo por causa dos primeiros 50 jogos.

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