O plástico recolhido nas praias está a ser utilizado para a confeção de calçado de verão, num projeto de dois amigos minhotos que começou com o “sonho” de limpar o oceano, livrando-o de garrafas e restos de redes.

Adriana Mano, uma das responsáveis do projeto “Zouri”, lembra que cada par de chinelos ou de sandálias incorpora entre 80 a 100 gramas de plástico.

“Para que se perceba mais facilmente, estaremos a falar em cerca de oito ou dez garrafas”, refere.

Garrafas ou outro tipo de plástico, como restos de redes de pesca, que até aqui estavam a poluir as praias, mas que a partir de agora vão passar a figurar em calçado amigo do ambiente e também dos animais.

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No calçado Zouri não entra qualquer produto animal, sendo as matérias-primas todas naturais, desde a cortiça à borracha, passando pela juta e por um material feito de folhas de ananás.

Adriana explica que tudo nasceu de um “sonho” que ela e o seu amigo António Barros foram acalentando, nas suas idas habituais à praia em Esposende, onde tinham como ritual a recolha de plásticos e a conversa sistemática sobre a problemática da poluição por eles causada.

“Temos uma grande paixão pelo mar”, confessa.

Começaram a pensar numa forma de estimular a remoção do plástico das praias e da sua reciclagem, utilizando-o na confeção de algum produto ambientalmente sustentável.

Como são ambos designers na área do calçado, a escolha foi quase inevitável.

O passo seguinte foi “bater à porta” da Câmara de Esposende, para uma parceria ambiental.

Em abril, aquela autarquia promoveu uma ação de limpeza das praias, tendo o plástico recolhido sido oferecido aos responsáveis do projeto Zouri.

O plástico é depois triturado e fica pronto para “brilhar” no calçado Zouri.

O objetivo passa por ir alargando aquela parceria a outras câmaras do litoral.

Em termos técnicos, conta Adriana, a grande dificuldade do projeto foi encontrar a fórmula para incorporar nas sandálias e nos chinelos o plástico, já que este “não é, de todo, material para calçado”.

Valeu, aqui, a ajuda da Universidade do Minho, que conseguiu “meter” o plástico nas solas do calçado.

O resto ficou nas mãos de Henrique Dias e de outros artesãos de Guimarães, a quem cabe dar forma ao calçado Zouri.

“Foi um desafio novo para a nossa oficina”, admite Henrique Dias, garantindo, no entanto, que vão conseguir dar conta do recado.

Aquela oficina já produziu chuteiras, entretanto especializou-se em calçado para grupos folclóricos e agora embarcou na filosofia da “slow fashion”, confecionando calçado amigo do ambiente.

Calçado que, a partir de maio, já estará à venda.

Cada par, sublinhe-se, “retirou” cerca de uma dezena de garrafas de plástico do litoral.

Na embalagem do calçado, constará a referência à praia que “contribuiu” com o plástico.