A SURPRESA
Rúben Dias
Parte da razão pela qual Portugal venceu o Europeu (houve obviamente um irrepetível alinhamento planetário e ainda bem que houve) foi a solidez da sua defesa. Após três empates seguidos, que ainda assim valeriam o apuramento para os oitavos-de-final, Fernando Santos sentaria o habitué Ricardo Carvalho e Fonte, sem passado de Seleção mas com traquejo de Premier League, assumiu-se como parelha de Pepe dali em diante. E o “diante” foi a vitória à Croácia, à Polónia, a Gales e à França. Agora, e olhando à idade avançada de Fonte (e mais avançada é a de Bruno Alves), olhando ao facto de competir na China e liderar a defesa do penúltimo classificado (Dalian Yifang) dessa pouca competitiva prova, Fernando Santos até pode começar por jogar pelo seguro, apostar na dupla do Europeu, Pepe-Fonte, mas não estranharia a ninguém que Rúben assumisse a posição ao lado de Pepe se os resultados começarem a complicar-se. A verdade é que Rúben, titular do Benfica nesta época, não é já o defesa central do futuro na Seleção. Esses são Diogo Queirós e Diogo Leite do Futebol Clube do Porto, Ferro e Pedro Álvaro, que como Rúben Dias são do Benfica, Tiago Djaló e Eduardo Quaresma do Sporting. Rúben é o central do presente, quem sabe já da Rússia. É ele a surpresa (mais até do que Ricardo Peireira ou Manuel Fernandes, que fizeram épocas tremendas, mais o segundo que o primeiro, nas respetivas equipas e surpresa seria a ausência deles) do selecionador nacional na convocatória. Se Danilo não se tivesse lesionado com gravidade, por exemplo, tudo levava a crer que Santos convocaria apenas três centrais (Pepe, Fonte e Alves), assumindo que Danilo seria o quarto e abrindo espaço à chamada de outro médio, o que impediria a chamada de… Rúben — ou Rolando, ou Luís Neto. “Sorte” Rúben teve, talento ele tem. Veremos.
A AUSÊNCIA
André Gomes
Se o leque de recrutamento fosse maior, se Portugal tivesse as escolhas que o Brasil tem, que a França tem, que a Alemanha tem, ninguém duvide que muitos dos campeões europeus não estariam nesta lista final. Não é a qualidade que está em causa aqui. O que está em causa é que jogadores como Cédric, Guerreiro, Adrien, João Mário, Moutinho ou André Silva tiveram épocas abaixo do mínimo “olímpico”, uns nem titulares foram ao longo da temporada, outros foram-no (mais tarde ou mais cedo foram-no) mas desiludiram. Nani, por exemplo, e ao contrários de outros supracitados, não ouviu o seu petit nom ser anunciado por Fernando Santos. É justo. Na Lazio foi um flop e nem é certo que lá continue, Nani, na próxima época. André Gomes é um caso diferente no Barcelona. Qualidade ele tem. E o treinador Ernesto Valverde até foi apostando nele — e não é fácil ser-se aposta num meio-campo como o do Barça –, mas chegou o dia em que André, exausto, não só fisicamente mas sobretudo emocionalmente, desabafou em entrevista que não se conseguia divertir a jogar futebol como antes, que não desfrutava nem potenciava o que sabe — e que nos treinos até soltava para Valverde ver. Talvez deixe o Barça no Verão. Oxalá deixe. O Napóles quer André e Sarri pode retirar o melhor do médio, que é o rasgo e nunca um colete-de-forças tático. É a ausência principal entre chamadas. Esperar-se-ia que, dois anos volvidos após o Europeu, André Gomes fosse já um indiscutível da Seleção e que não tivéssemos que escrever tantas linhas sobre ele, ainda por cima estas. Ainda vai a tempo, André. Ainda vai.
EDER
Obrigado (e até à eternidade, Ederzito)
Sejamos honestos: a verdade é que pensámos todos no mesmo. Eder jogava em França quando em França nos fez felizes no futebol como nunca o fomos até então. Agora Eder está na… Rússia — e o Mundial joga-se lá. Certo, certo: a probabilidade de voltar a acontecer é… improvável. Tal como a convocatória o era, uma vez que o selecionador não convocou o ponta-de-lança para a Taça das Confederações, antecâmara do Campeonato do Mundo, e uma vez que Eder não era propriamente (apesar do golo decisivo que tornaria o Lokomotiv campeão) um indiscutível de Yuriy Semin, o treinador. Seja como for, convocado ou não, Eder já alcançou a eternidade. Aquela receção, orientada, que nos fez levantar das cadeiras — os que estavam já de pé levantaram-se mas por dentro –, aquela força que derrubou Koscielny, e Koscielny não é de se derrubar, aquele olhar para a direita e não passar a ninguém, assumir, assumir sem temores, aquele curvar de corpo, magnificente e belo, por tudo isso, a Eder não se pede desculpa pela ausência; o que tem é que se agradecer o feriado que decretou a 11 de julho, “cara***”.