“Em 1997, fui violada por Harvey Weinstein aqui, em Cannes.” Foi assim que a atriz italiana Asia Argento — uma das primeiras mulheres que acusaram o produtor norte-americano publicamente, em outubro de 2017 — iniciou o seu discurso na cerimónia de encerramento do Festival de Cinema de Cannes 2018.
Discours très fort et très applaudi de l'actrice d'Asia Argento en ce début de Cérémonie de Clôture avant l'annonce du prix d'interprétation féminine.
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— CANAL+ (@canalplus) May 19, 2018
Tinha 21 anos quando foi vítima dos abusos de Weinstein. Na altura, não contou o que aconteceu porque tinha medo das retaliações que podia vir a sofrer a nível profissional. À New Yorker tinha dito, em outubro, que só de falar do assunto o corpo lhe tremia. Hoje, com 42 anos, Asia Argento fez um discurso onde não mais mostrou a menina de antes e onde não mais tremeu. Mostrou, sim, uma mulher com garra. O discurso — poderoso, forte, arrebatador — durou cerca de um minuto e deixou a audiência em completo silêncio. No fim? Aplausos, muitos aplausos.
“Eu quero fazer uma previsão: Harvey Weinstein nunca mais vai ser recebido aqui. Ele viverá em desgraça, evitado por uma comunidade cinematográfica que o abraçou e encobriu os seus crimes”, afirmou Argento, reforçando a sua posição quanto a toda a polémica que envolve a comunidade de Hollywood. Mas a atriz foi mais longe e fez referência àqueles que têm os mesmos comportamentos mas que ainda não foram responsabilizados por eles.
E mesmo esta noite, sentados entre vocês, há aqueles que precisam de ser responsabilizados pela sua conduta contra as mulheres por comportamentos que não pertencem a esta indústria, não pertencem a nenhum setor ou local de trabalho”, disse, acrescentando: “Vocês sabem quem são. Mas mais importante, nós sabemos quem vocês são, e nós não vamos permitir que se livrem disto por muito mais tempo”.
Na reportagem publicada pela New Yorker pode ler-se que um dos produtores de Weinstein convidou, em 1997, Asia Argento para uma festa num hotel, porém, quando lá chegou, ao invés do prometido tinha apenas uma pessoa à sua espera no quarto de hotel: Harvey Weinstein. O produtor norte-americano elogiou o seu trabalho, antes mesmo de a coagir a fazer-lhe uma massagem, durante a qual “ele puxou a saia para cima forçou-a a abrir as pernas e fez-lhe sexo oral com ela a dizer-lhe repetidamente que parasse.”
O discurso da atriz, em França, rapidamente ultrapassou fronteiras e foi alvo de uma onda de apoio. A atriz Mira Sorvino — que também acusa o produtor norte-americano — escreveu no Twitter: “Tão orgulhosa & grata”, mas não foi a única. Também Rose McGowan escreveu: “As pessoas devem compreender a bravura que envolve o que ela fez. Falar da verdade crua da violação é incrivelmente difícil.”
So proud of & grateful to you @AsiaArgento You have not backed down in any way as you remind the world of the hideousness of Harvey Weinstein’s (& others like him) crimes & the complicit support he still receives 'I was raped by Harvey Weinstein here' https://t.co/1ZJa26ATnd
— Mira Sorvino (@MiraSorvino) May 20, 2018
https://twitter.com/rosemcgowan/status/998250942821781504
Depois do momento emotivo em Cannes, Asia Argento não deixou de partilhar uma mensagem na sua conta de Twitter para todas aquelas que sofreram o mesmo (e que podem vir a sofrer). “Este é o discurso que eu escrevi e disse esta noite em Cannes. Para todas as mulheres corajosas que têm vindo a denunciar os predadores e para todas as mulheres que o vão fazer no futuro. Nós temos o poder #metoo”, pode ler-se.
https://twitter.com/AsiaArgento/status/997933017443291136
Recorde-se que Harvey Weinstein foi acusado por várias mulheres o que gerou uma grande polémica em Hollywood. O produtor, que sempre negou as acusações de que foi alvo, acabou por ser expulso do sindicato de produtores de Hollywood na sequência das denúncias de assédio e abuso sexual.