“As espécies que conhecemos hoje representam menos de 1% de toda a vida que existiu na Terra.” É esta a primeira ideia da exposição, escrita ao lado de um enorme fóssil de dinossauro que encara o visitante. A “Extinção – O fim ou o início?”, do Museu de História Natural de Londres, acabou de chegar à Alfândega do Porto e trouxe 60 espécies de animais de todas as partes do mundo, reunidas para que o Homem possa refletir sobre a extinção, um fenómeno que o rodeia, que por vezes é provocado por ele e a que não poderá escapar.

O corredor de entrada da exposição é uma pequena montra da beleza da biodiversidade do planeta. Das paredes olham-nos diversas espécies, através de fotografias e de vídeos que nos transportam para o meio da selva e para o fundo dos oceanos. E, dos ecrãs, levantam-se diversas perguntas: “A extinção é um fim ou um início? É mais importante salvar umas espécies que outras? O que irá causar a extinção do ser humano? Devemos proteger as espécies em vias de extinção?”

A todas essas, Soraia Salvador, que trabalha no Museu de História Natural de Londres há dois anos, acrescenta mais uma:

“Será que a extinção é sempre algo negativo ou também tem um lado positivo? A verdade é que podemos olhar para a extinção como um processo evolutivo, porque há espécies que têm de morrer e desaparecer para dar origens a outras.”

É esta, aliás, a questão central da exposição, que se estende ao longo de 1000 metros quadrados e que está dividida em duas partes: uma dedicada às espécies extintas e outra dedicada às “histórias de esperança, histórias de conservação em que cientistas conseguiram alterar o rumo dos acontecimentos e salvar as espécies”, explica Soraia.

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Na primeira sala, recuámos até à idade do gelo e relembramos o alce gigante irlandês, vemos de perto o crânio do tigre-de-dentes-de-sabre, mas também encontramos um ovo da ave elefante, um enorme pé de uma moa (uma extinta ave gigante que existiu na Nova Zelândia) e o peixe mais pequeno do mundo, descoberto na Indonésia em 2006. Convém relembrar que, à parte de uma ou duas exceções, todos os espécimes são reais.

Mas há um animal que rouba a atenção dos mais pequenos onde quer que a exposição esteja – o dodó. Este pássaro peculiar, extinto desde 1680, habitou na Maurícia durante milhões de anos, até lá chegarem os ratos, as cabras, os porcos e os macacos, animais invasores que comiam os ovos do dodó. E que foram levados para as ilhas por marinheiros holandeses, franceses, britânicos e… portugueses.

Na segunda sala desta exposição, impõe-se até uma pequena montra dedicada aos invasores, que viajam com o homem onde quer que ele vá e que desequilibram o ecossistema, promovendo a extinção de espécies. Aqui os protagonistas são o cão, o gato, o coelho e o rato.

Um golfinho extinto e uma tartaruga milenar

Ao longo do percurso da visita, encontramos ainda outras espécies conhecidas, mas que estão em grande perigo. É o caso do tigre e do orangotango, animais que “provavelmente só iremos encontrar em jardins zoológicos, no futuro, se não forem implementadas políticas de recuperação”, explica Soraia Salvador. O recentemente extinto golfinho baiji, do Rio Yangtzé, na China, também é protagonista desta mostra.

Mas nem só de extinções (ou de possibilidades) se faz a exposição. No centro da segunda sala encontramos um autêntico “fóssil vivo”: a tartaruga-de-couro, uma espécie que ultrapassou várias extinções em massa e que já cá anda há mais de 110 milhões de anos. Mas como? O facto de aguentar um ano sem comer, ter uma densa carapaça e produzir um grande número de ovos pode ter ajudado, lê-se numa pequena legenda.

A exposição dá a conhecer, também, alguns casos de sucesso, como o órix-da-arábia, espécie que chegou a estar extinta em estado selvagem e que agora é apenas considerada como vulnerável, ou a palanca negra, um animal que esteve severamente ameaçado durante a Guerra Civil de Angola e que agora se encontra em processo de conservação. “A ideia da exposição é também mostrar que podemos fazer diferente, que podemos salvar”, afirma Paula Paz Dias, diretora da exposição em Portugal.

No fundo, esta mostra “é uma ode à vida”, mas é também um espaço de consciencialização, acrescenta a diretora:

“Estamos a viver um período de extinção acelerada. Alguns cientistas já falam da sexta extinção em massa, sendo que a quinta foi a dos dinossauros. Mas, independentemente de concordarmos se estamos ou não a assistir a esse fenómeno, não nos podemos alienar do impacto da actividade humana sobre o planeta. Precisamos de equacionar que tipo de relação queremos ter com o planeta e se queremos preservar esta herança ecológica para os nossos filhos. Ou se vamos continuar num caminho que poderá ser perigoso para a nossa própria existência.”

“Estamos tão vulneráveis como qualquer outra planta ou animal”

Já no último painel, o Homem olha para o seu próprio umbigo e sobre a sua possível extinção, explica Soraia Salvador: “A pergunta que se faz é ‘O que é que vai provocar a nossa extinção?’. Em média, cada espécie fica no planeta durante um milhão de anos e depois extingue-se. Nós também teremos a nossa extinção. Muitas vezes pensa-se que o homem é um todo-poderoso, mas estamos tão vulneráveis como qualquer outra planta ou animal.”

Perto do fim, faz-se ainda um convite ao debate acerca de que espécies se devem salvar ou até ‘ressuscitar’. Isto porque já é possível trazer de volta uma espécie extinta com uma amostra bem conservada e completa do ADN. Com essa nova realidade, novas questões se levantam: Será que devemos recuperar espécies que já estão extintas? Se sim, quais e porquê?

Num dos desejos da ‘árvore’ que se encontra no fim da exposição, lê-se, numa típica letra redonda de escola primária “Não cacem os tigres, eles são lindos de morrer.” Noutro, ainda, alguém escreveu “Que daqui a muitos anos ainda haja, e bem conservada, a Grande Barreira de Coral, na Austrália!” Esta espécie de gaiola que faz vez de árvore ainda está preenchida de poucas folhas. Mas vai haver tempo que chegue para ficar quase impermeável. A exposição, que inclui espécimes em excelente estado de conservação e até um jogo interativo, vai estar na Alfândega até 8 de outubro e pode ser visitada durante a semana entre as 10h e as 18h e, nos fins-de-semana e feriados, entre as 10h e as 19h.