Ben Page raramente pegava na sua câmara fotográfica e estava longe de imaginar que esta iria ser a sua companhia numa viagem pelo mundo. Não foi uma viagem normal. Foram milhares de quilómetros percorridos de bicicleta, com temperaturas extremas. Parte da jornada está no seu documentário “The Frozen Road”, lançado este ano e considerado o melhor documentário de aventura no New York Wild Film Festival 2018.

O sonho de Page começou em 2014. Depois de ter concluído a licenciatura em geografia na Universidade de Durham, no norte de Inglaterra, o cineasta pegou na sua bicicleta e decidiu viajar sem qualquer objetivo cinematográfico. “Eu tinha 22 anos, não tinha hipotecas, não tinha namorada. Não tinha nada que me prendesse a casa. Por isso parti”, explicou à CNN.

Quando chegou à cidade de Whitehorse, no Canadá, quis seguir em direção a Tuktoyaktuk, que se situava a cerca de 1.600 quilómetros, no fim do continente americano. Para lá chegar teria de pedalar durante 30 dias em estradas e rios congelados, com tempestades de neve, ventos traiçoeiros e temperaturas que chegavam aos 40 graus negativos.

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A viagem pelo Ártico faz parte de uma aventura que durou três anos e chegou a um percurso de 64 mil quilómetros pela América, África, Europa, Ásia e Ártico, o seu ponto mais alto. Mais do que um desafio físico, Page revelou que o percurso foi um constante teste psicológico. Não havia banhos quentes nem eletricidade ou dias definidos de descanso. Eram raras as alturas em que encontrava abrigo das temperaturas extremas. Os invernos que chegou a passar no Reino Unido tornaram-se num paraíso.

A câmara como antídoto para a solidão

Para Page, o mais difícil foi o isolamento, uma “dualidade constante”: a procura da solidão e da liberdade, mas ao mesmo tempo as alturas em que precisava de alguém para o ajudar em situações adversas. “Havia momentos em que as coisas começavam a correr mal, quando o medo me invadia”, confessou à CNN, dando como exemplo um episódio em que ficou preso no Rio Peel, no Canadá, a 64 quilómetros da civilização mais próxima.

A sua câmara foi-se tornando cada vez mais importante. Durante o percurso, Page percebeu a importância em captar as suas memórias para lhe oferecer oportunidades no futuro como cineasta. A câmara era, acima de tudo, um antídoto para a solidão.

No final da jornada, quando viu o Oceano Ártico, já não era o pôr-do-sol que importava para o cineasta, mas o que aprendeu durante a viagem: “Talvez eu tenha provado algo para mim próprio ao ter ido até ao limite do meu mapa. Mas, também percebi que as linhas da chegada são melhores quando são partilhadas”, concluiu.