A Assembleia Geral do Sporting, que deveria decorrer no próximo sábado com o intuito de apresentar e aprovar o orçamento do clube para o exercício de 2018/19, foi cancelada, de acordo com Jaime Marta Soares, presidente demissionário da Mesa da Assembleia Geral que tinha marcado recentemente esta reunião obrigatória à luz dos estatutos. No entanto, existem ainda dúvidas em relação a esse lapso temporal de dois meses que haverá até 8 de setembro, dia das eleições do clube, o que irá obrigar a que exista uma espécie de gestão corrente para que as modalidades possam fechar as situações que têm pendentes.

“Cancelei a Assembleia Geral do orçamento e do plano de atividade marcada para o dia 30. Fi-lo depois de ouvir atentamente a Comissão de Gestão e o Conselho de Fiscalização. Chegámos a um acordo, por unanimidade, em relação às conclusões que foram tiradas. Não valia a pena, a cerca de dois meses das eleições, irmos aprovar um orçamento e um plano de atividades que outros teriam de lhe dar seguimento”, anunciou o líder cessante da Mesa da Assembleia Geral aos jornalistas em Alvalade.

Desta forma, e de acordo com o responsável, existirá uma espécie de transição até setembro, altura em que o Sporting nomeará um novo líder. “Não há nada que ponha em causa esta minha/nossa decisão. A gestão do Sporting continuará sem qualquer percalço. Será feita em duodécimos, aproveitando o orçamento anterior até eleições a 8 de setembro. Por isso tudo funcionará dentro da normalidade”, garantiu Jaime Marta Soares. No entanto, a situação pode não ser tão linear quanto isso.

Puxando o filme atrás, há cerca de duas semanas o Conselho Diretivo então presidido por Bruno de Carvalho apresentou um orçamento que deveria ser votado na Assembleia Geral de dia 17 (que foi cancelada por decisão dos tribunais) e que dizia respeito ao exercício 2018/19. E era um orçamento otimista, por ventura demasiado otimista como o tempo acabou por provar, na medida em que previa um aumento de sócios, de patrocinadores e de receitas de bilhética numa altura de crise, o que faria também com que o investimento nas modalidades crescesse num valor que rondava 1,4 milhões de euros, olhando para o acréscimo na rúbrica dos honorários que passaria de 8,4 para quase 9,8 milhões de euros.

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Orçamento do Sporting para a próxima época prevê aumento de sócios, bilhética, patrocínios e investimento

“Este orçamento prevê para o clube um resultado operacional positivo de 1.165.591€, com um resultado líquido igualmente positivo de 38.213€. Em termos de cash flow operacional é estimado um saldo anual negativo de 839.521€ e um cash flow líquido também negativo de 2.828.279€. Este cash flow negativo é fruto do investimento previsto nas modalidades e do reforço do património do Sporting Clube de Portugal coberto pelos valores disponíveis em caixa”, resumia o documento.

No entanto, a Comissão de Fiscalização do Sporting acabou por dar um parecer negativo ao orçamento que tinha sido feito, num documento de 14 páginas a que o Observador teve acesso e que se mostrava bastante crítico em relação a vários aspetos, falando não só nas estimativas irreais de crescimento mas também nas fórmulas erradas com que eram feitos os cálculos.

Comissão de Fiscalização diz que aprovar orçamento “é um cheque em branco à Direção para aumentar passivo”

“O orçamento é opaco, não comparável e impossível de encontrar respaldo em aceitáveis pressupostos, sendo sonegada informação fundamental aos sócios (…) Não é apresentado um balanço previsional de modo a prever os impactos na situação patrimonial do clube ou a detalhar os seus consequentes níveis de endividamento (…) Nesta proposta de orçamento o total dos gastos e perdas quase atinge os €25 milhões. Uma sobrestimação irresponsável dos rendimentos e ganhos pode, na sua provável incompletude, conduzir a um défice materialmente relevante com impacto imediato e significativo no passivo do clube. A sua aprovação é um cheque em branco à Direção para o aumento do passivo, agravada pelo facto de ser principalmente agravado por despesas correntes”, destacava o parecer assinado pelos cinco membros da Comissão de Fiscalização.

Rescisões, finanças, orçamento, futebol, modalidades: os dossiers que o Sporting tem para resolver a breve prazo

Foi também por isso que, esta quarta-feira, Jaime Marta Soares anunciou o cancelamento da Assembleia Geral, que acabou por ter um outro objetivo: evitar nova reunião magna, nova presença massiva de sócios, nova onda de discursos inflamados sobre o atual momento do clube e, eventualmente, nova tentativa de Bruno de Carvalho ter a palavra. Ainda assim, dentro da lógica dos duodécimos anunciada, haverá sempre um problema: é nestes meses de julho e agosto que são fechadas as últimas contratações ou que vencem os prémios de assinatura dos jogadores das modalidades. Ou seja, são dois meses “atípicos”. E existem algumas situações de pagamento de verbas pelo passe de atletas que estão a prender a constituição final dos plantéis para a próxima temporada, numa questão que deverá ser analisada a partir de agora por Jorge Gurita, elemento da Comissão de Gestão a quem foi entregue a pasta das modalidades neste período de transição enquanto não existem eleições.