“Uma bofetada política no Governo.” Foi assim que Luís Marques Mendes classificou a viagem do líder do PSD a Luanda. Rui Rio antecipou-se ao primeiro-ministro e conseguiu ser o primeiro responsável português a encontrar-se com o Presidente angolano depois de encerrado o caso Fizz.
No seu comentário habitual de domingo, o antigo líder do PSD analisou a viagem de Rio, que considerou ter ocorrido em circunstâncias pouco comuns. A viagem foi “claramente” organizada por Angola e não por Rio, disse. “Isto não é nada normal. Não é normal uma visita combinada completamente em segredo e em antecipação à viagem do primeiro-ministro”, declarou Marques Mendes. Para o comentador, o simbolismo é claro: “Angola usou Rui Rio para dar uma bofetada política ao Governo português”.
A viagem revela que para o regime angolano “a relação política preferencial em Portugal é com o PSD e não com o PS”, como já ocorreu no passado. A isso, Marques Mendes junta uma segunda interpretação: mesmo tendo desaparecido o “irritante” do caso que envolve Manuel Vicente (ex-vice-presidente de Angola), continua a existir um diferendo entre Angola e o Governo português.
Questionado sobre a presença da lobista Manuela Souto na reunião com o Presidente angolano, noticiada pelo Expresso este sábado, o comentador classificou-a como mais um elemento de “estranheza” sobre esta viagem. “Acho estranho que depois dessa notícia ter vindo a público o PSD ainda não ter dado um esclarecimento e desmentido a acusação implícita que vem na notícia.”
Elogios a Marcelo, avisos a Santana e críticas ao Banco de Portugal
Ainda sobre a vida interna do PSD, Marques Mendes abordou também a notícia dada pelo próprio Pedro Santana Lopes em entrevista à Visão, de que Santana poderá estar de saída do partido e a caminho de fundar a sua própria força política. Para o comentador da SIC, tal atitude seria um erro: “Acho que se vai arrepender a prazo”, vaticinou Marques Mendes, apontando o facto de Santana não ser uma novidade no panorama político nacional — “Santana Lopes é tudo menos novidade” — que não deverá conseguir levar consigo “nenhuma figura relevante do partido”, entre outros motivos.
Já relativamente a outra figura do PSD, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes desfez-se em elogios a propósito do encontro com o Presidente norte-americano. “Foi Marcelo no seu melhor”, destacou o antigo líder do PSD, que destacou o facto de Marcelo ter dominado o encontro e secundarizado Donald Trump, sem “qualquer tipo de subserviência”.
O comentário semanal de Mendes incluiu ainda uma reflexão sobre o parecer do Banco de Portugal contra a divulgação dos grandes devedores à banca. Marques Mendes deixou duras críticas e acusou o Banco de Portugal de ter uma reação “corporativa” e “obsoleta” e de proteger os grandes devedores que exibem muitas vezes sinais de riqueza. Questionado sobre se tais declarações não podem ser interpretadas como populistas, Marques Mendes respondeu: “Estes comportamentos é que alimentam os populismos, eu estou a denunciá-los.”