Era a final feminina de singulares do torneio de Wimbledon, em 1978. Chris Evert, líder do ranking internacional feminino de ténis e já vencedora de Wimbledon por duas vezes, tinha vencido o primeiro set confortavelmente. Do outro lado estava a número 2, Martina Navratilova. No segundo set, quando o marcador apontava 3-2, era Evert a servir. Bola para cá, bola para lá, e as duas tenistas encontram-se na rede. Nesta altura, Chris Evert aplica uma pouco tradicional pancada de vólei que atinge Navratilova na testa. A tenista, de apenas 22 anos, caiu imediatamente para trás.

Levantou-se, as duas rivais riram-se e Evert ainda deu um pequeno toque na testa de Navratilova. Em seguida, a checa conquistou dois pontos de break e começou a servir com o resultado já em 4-2. Para Chris Evert, foi nesta altura que Navratilova conquistou a vitória. “A Martina era suprema na relva. Eu era sempre menos favorita, a correr quilómetros para a tentar bater numa superfície a que o jogo dela se adequava perfeitamente. Era sempre uma batalha”, confessou Chris Evert, hoje com 63 anos, ao New York Times.

Depois de três sets – 6-2, 4-6, 5-7 -, Martina Navratilova venceu Wimbledon pela primeira vez a 7 de julho de 1978, há 40 anos. A primeira de nove, recorde que mantém até aos dias de hoje. A checa naturalizada norte-americana tinha-se estreado nos courts ingleses aos 16 anos, em 1973, e venceu o título feminino de pares em 1976 ao lado de uma das melhores amigas: Chris Evert. As duas acabariam por disputar nove partidas em Wimbledon, cinco delas finais. A rivalidade, ainda que amigável, foi uma das maiores do ténis nas décadas de 70 e 80. Mas para Evert, Navratilova era superior. Tanto que a norte-americana ficou surpreendida quando constatou que sete dos jogos em que se enfrentaram em Wimbledon só terminaram depois de três sets.

“Talvez um dos problemas tenha sido esse. Quando entrava nos jogos com ela, ia sempre com um pensamento negativo por achava que ela era sempre a favorita”, revelou Evert. Ainda assim, a antiga número 1 do mundo tem outra explicação para a derrota em 1978: “Esse foi o Wimbledon em que eu me apaixonei pelo John Lloyd”, em referência ao tenista britânico com quem casou no ano seguinte. “Estava apaixonada, estávamos a namorar e saímos todas as noites. Estava completamente distraída e não estava focada e concentrada em vencer Wimbledon”, confessou, 40 anos depois.

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Martina Navratilova a receber o troféu de Wimbledon das mãos da Duquesa de Kent, a 7 de julho de 1978.

Naquela tarde em Wimbledon, Navratilova venceu sem a presença dos pais. Depois de fugir da Checoslováquia aos 18 anos para pedir asilo durante o Open dos Estados Unidos, em busca do american dream, passou quatro anos sem ver qualquer elemento da família. Durante o jogo, nem sequer sabia se os pais iam conseguir ver a final. “É nessas alturas que te focas e continuas. Era tudo muito emocional, mas não te afundas nisso porque se o fizeres, não consegues jogar”, revelou a tenista, hoje com 61 anos, ao New York Times. Depois da vitória, descobriu que os pais tinham viajado até Pilsen, junto à fronteira alemã, e conseguiram assistir ao jogo através da televisão. O pai acabou por conseguir telefonar para o balneário para a congratular. “Nunca me lembrei de lhe perguntar: ‘Calma, como é que conseguiste o número?'”, recordou Navratilova.

Martina Navratilova voltou a vencer Wimbledon no ano seguinte. Com a ajuda de um pedido especial da Duquesa de Kent, o Governo checoslovaco emitiu um visto de turismo para a mãe da tenista, Jana, que chegou a Inglaterra na véspera do início do torneio para ver a filha jogar. A família, ainda assim, só estaria completamente reunida alguns anos depois. É por estes anos de ausência que a tenista se emociona, à conversa com o jornal norte-americano, quando o tema deriva para as famílias separadas na fronteira dos Estados Unidos e do México. “O que está a acontecer naqueles centros de detenção no Texas é impensável, está para lá do credível. Queixamo-nos do Boko Haram na Nigéria e aqui estamos a fazer o mesmo a estes homens e mulheres. As crianças estão marcadas para a vida. Alguns nunca se vão reunir. Alguns pais nunca vão saber o que é que aconteceu aos filhos”, defende Navratilova.

Navratilova em 2017, com 62 anos, durante um jogo amigável antes do Open do Connecticut.

Casada com uma antiga Miss União Soviética, assumiu a homossexualidade em 1981 e chegou a manter um relacionamento com Nancy Lieberman, antiga basquetebolista e atual treinadora adjunta dos Sacramento Kings. Crítica de Donald Trump, já pensou várias vezes emaranhar-se na política e encabeçar uma qualquer campanha eleitoral. As duas filhas, porém, continuam a impedir Navratilova de ter outra prioridade que não a família.

A tenista jogou e venceu a última partida da carreira em Wimbledon: a final do torneio de pares mistos em 2003, com 46 anos. Retirou-se em 2006, com 49 anos e um palmarés de 18 Grand Slams conquistados (um recorde que divide com Billie Jean King). Foi a número 1 do mundo durante um total de 332 semanas em singulares e 237 semanas em pares, sendo a única tenista da história a manter a liderança dos dois rankings durante mais de 200 semanas. Para muitos, continua a ser a melhor tenista de todos os tempos.