O dirigente comunista João Ferreira reafirmou esta quinta-feira o “projeto próprio” do PCP para uma “política patriótica e de esquerda” e vincou diferenças com o PS convergente com PSD e CDS-PP, defendendo a dissolução da NATO.

O PCP é portador de um projeto próprio para o país, assente numa política alternativa, patriótica e de esquerda. Tem como eixos essenciais a afirmação da independência e soberania nacionais, a rejeição da submissão do país a interesses e imposições contrárias, o controlo público de setores estratégicos da economia, a valorização do trabalho e trabalhadores e a renegociação da dívida”, resumiu, em conferência de imprensa, na sede comunista.

O eurodeputado comunista respondia assim às declarações de quinta-feira do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, em entrevista ao jornal Público e rádio Renascença, considerando que uma nova solução política de acordos com os partidos à esquerda do PS teria de incidir também sobre política externa, nomeadamente em relação à União Europeia (UE).

Tudo isto são aspetos que identificam esta política alternativa que o PCP propõe ao povo português e o diferenciam de outras forças políticas, nomeadamente do PS que, neste conjunto de aspetos, tem uma conhecida e assumida convergência designadamente com o PSD e com o CDS”, continuou João Ferreira, criticando os “prejuízos evidentes para o país” das políticas seguidas até aqui.

João Ferreira condenou ainda, “ao contrário do que o Governo e o Presidente da República têm defendido”, a participação de Portugal em missões militares estrangeiras ao serviço da NATO e a decisão da cimeira da Aliança Atlântica, que decorre desde quarta-feira, em Bruxelas, de os 28 parceiros europeus aproximarem as suas contribuições para 2% dos respetivos Produtos Internos Brutos (PIB), após pressão do presidente norte-americano, Donald Trump.

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O PCP defende a dissolução da NATO enquanto bloco militar, que tem consabidamente defendido os interesses de potencias, fundamentalmente dos EUA e suas ambições imperiais, ao serviço de guerras de agressão, operações de desestabilização de extensas áreas do planeta”, disse.

Esta quinta-feira, após reunião de emergência dos 29 chefes de Estado ou de Governo da NATO na capital belga, o primeiro-ministro, António Costa, afirmou não acreditar que o anunciado incremento da despesa com a Defesa, dados os compromissos assumidos no âmbito da Aliança Atlântica em 2014, complique as negociações do Orçamento de Estado para 2019 com os partidos à esquerda parlamentar, embora assumindo tratar-se de mais um constrangimento nas decisões do futuro documento em negociação.

Quando são colocadas tantas dificuldades para corresponder a necessidades que se colocam em funções sociais e nos serviços públicos, nomeadamente na saúde, educação, transportes, cultura, proteção social, valorização de reformas e pensões… o compromisso do Governo de corresponder ao objetivo EUA/NATO de se aproximar dos 2% do PIB em despesa militar não tem justificação razoável”, afirmou João Ferreira.

O dirigente comunista condenou que os 29 países membros da Aliança Atlântica já gastem mais em Defesa do que “a soma dos restantes 164 países do mundo” e tenham decidido “aumentar em mais 266 mil milhões de dólares a sua política armamentista e intervencionista”.

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Costa apresentara “um quadro anualizado” que especifica que Portugal vai consagrar 1,66% do Produto Interno Bruto (PIB) a despesas em Defesa até 2024, podendo os investimentos atingir 1,98% do PIB se o país conseguir obter os fundos comunitários a que se irá candidatar no âmbito do próximo Quadro Financeiro Plurianual da UE para o período 2021-2027, nomeadamente através do Horizonte Europa e do Fundo Europeu de Defesa.

De acordo com os dados publicados na terça-feira pela Aliança Atlântica, Portugal destinou no ano passado 2.398 milhões de euros a despesas em Defesa, o que equivale a 1,24% do seu PIB, devendo este ano aumentar para 2.728 milhões de euros, o equivalente a 1,36% da riqueza nacional.