A França sagrou-se campeã do mundo, 20 anos depois, com várias figuras a assumirem um papel preponderante na conquista gaulesa, desde Griezmann, dono de golos e assistências indispensáveis ao triunfo, ao jovem Mbappé, revelação da prova e desequilibrador francês por natureza, até Lloris, autor de defesas que quase valeram mais do que alguns golos. Mais discreto para o espetador comum, mas também com uma palavra a dizer neste título, é Adil Rami: o central do Marselha não realizou qualquer minuto no Mundial, mas, de certa forma, foi peça importante da conquista francesa.

Tudo começou com Griezmann e aquele que se viria a tornar o bigode mais famoso de França — o de Rami, pois claro. Terminada que estava a fase de grupos, a Argentina era o adversário dos oitavos e toda a sorte do mundo era bem vinda. Vai daí, Griezmann puxou dos galões da superstição e arranjou o seu próprio amuleto da sorte: antes de todas as partidas, iria mexer no bigode de Rami. O ritual deu sorte ao avançado do Atlético de Madrid, uma das estrelas da competição, com quatro golos apontados.

Griezmann, Rami e um ritual que se repetiu até à conquista do campeonato do mundo. Ninguém acredita em bruxas, mas que as há… (Créditos: Getty Images)

Didier Deschamps não quis ficar atrás e seguiu o gesto de Griezmann, dando o mote para que todo o plantel participasse num ritual tão simples quanto supersticioso. “O Griezmann tocava no bigode antes dos jogos e até o treinador o fazia só para dar sorte”, confessou Rami em declarações à francesa TF1, já com o troféu de campeão do mundo nas mãos. “Já é o bigode mais famoso de França. Vou mantê-lo”, atirou o central do Marselha, que, aos 32 anos e após 35 internacionalizações anunciou o abandono da seleção gaulesa, com zero minutos cumpridos no Mundial, mas um título de campeão no bolso.

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E a estadia de Rami na Rússia até esteve perto de terminar mais cedo devido a uma brincadeira que correu mal e acabou por deixar Didier Deschamps de pijama na rua, a meio da noite. O episódio remonta a 30 de Junho, dia em que os franceses levaram a melhor sobre a Argentina (4-3) e carimbaram o acesso aos quartos da prova, onde defrontariam o Uruguai, e tem como protagonistas Adil Rami, um extintor de incêndio e toda a restante comitiva francesa.

“Estávamos num restaurante e acabámos por voltar ao hotel, cerca das quatro da manhã. Éramos uns quinze e começámos a cantar pelo hotel. Estava um ambiente de total loucura”, começa por revelar Adil Rami, que, a certo ponto, decidiu abandonar a festa: “Fui mais cedo para o meu quarto, meti os headphones e comecei a jogar Fortnite. Entretanto, percebi que, nos corredores, os meus companheiros andavam a cantar e a entrar nos quartos para virar os colchões ao contrário. Percebi que se estavam a aproximar de onde eu estava, olhei para o lado e vim um extintor“, conta o central.

Daí para a frente, a brincadeira descontrolou-se e Rami acabou a fazer de bombeiro com pouco jeito. “Abri a porta e o Mendy bloqueou-a com o pé, enquanto chamava os restantes jogadores. Aí, saí a correr, fui direito ao extintor e armei-me em ‘caça-fantasmas’. De repente, havia um fumo branco por todo o lado e eu fiquei com medo porque comecei a perceber a gravidade da parvoíce que tinha feito. ‘Vou ser despedido’, pensei”, conta Rami, em declarações à TF1.

Adil Rami não contabilizou qualquer minuto no Mundial da Rússia, mas contou com um bigode que fez o seu papel e levou a França ao título (Créditos: Getty Images)

A continuidade do central na comitiva francesa não foi posta em causa, mas Rami não ganhou para o susto. “Foi uma loucura. Não sabia como funcionavam os extintores, foi preciso chegarem os seguranças e dizerem-nos que aquele fumo era tóxico. Tivemos de sair todos dali a correr, tiraram as pessoas dos quartos e fomos todos para a rua. Até os empregados do hotel lá estavam. E Didier Deschamps também, de pijama. Quando olhei para ele a vir na minha direção pensei ‘Ah, me***'”.

Talvez porque o seu bigode se tivesse tornado demasiado valioso para dispensar, Rami saiu impune deste incidente e pôde permanecer na Rússia. Ele e a sua namorada, a famosa atriz Pamela Anderson, com quem, aparentemente, se irá casar. A canadiana que saltou para as bocas do mundo depois da célebre série Baywatch, foi presença assídua na Rússia, onde assistia às atuações francesas… sem Rami em campo. Ainda assim, a atriz de 50 anos que se mudou recentemente para Marselha, assumindo a relação com o central, foi um apoio precioso do central francês que se portou mal durante o estágio mas chegou ao fim da prova como um precioso talismã. E ainda teve a oportunidade de agarrar num dos troféus mais desejados do mundo.