Durante 17 minutos, um vendedor de materiais de construção do norte do país achou que estava “euro-milionário”. Estava em casa, com a mulher, a ver a transmissão da SIC quando a estação televisiva divulgou, em rodapé, os números do sorteio do Euromilhões daquele dia, que era de jackpot de 156 milhões de euros. O empresário só teve, contudo, 17 minutos de “emoção alucinatória” e “euforia desmesurada” — porque, momentos depois, a SIC corrigiu os números, que tinham sido dados à pressa, sem dupla confirmação, e estavam errados.

O homem entrou, depois, em “depressão profunda”, segundo a queixa em tribunal, noticiada pelo Público. A relação com a mulher deteriorou-se, a vida íntima saiu prejudicada e o desempenho profissional também piorou, com o empresário a sentir-se “desconcentrado” e a esquecer-se das encomendas. Passou a ser seguido, com medicação, pelo hospital Conde Ferreira, no Porto.

Foi para tribunal e, numa primeira decisão, a SIC foi condenada a indemnizar o empresário em 2.500 euros, devido à “negligência inconsciente” do canal televisivo, que introduziu manualmente os números retirados do site www.euromillions.com — o desejo de dar os números primeiro do que a TVI fez com que a SIC não usasse uma segunda fonte para confirmar qual era a combinação correta.  “Se tivesse consultado mais do que um sítio [na Net], ou esperado que outros dois sítios que tinha abertos no computador publicitassem a notícia, com toda a probabilidade teria evitado o erro, o que não fez, violando assim o dever de cuidado objetivo que se lhe impunha”, deliberou o tribunal.

Mas o tribunal de segunda instância aumentou a indemnização de 2.500 para 7.500 euros (o lesado queria 50 mil euros), porque a SIC “facilitou e desacautelou-se quando não o devia”, ainda mais tratando-se de uma semana com jackpot.

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Mais casos de erros com os números do Euromilhões

Este não foi, contudo, o único erro cometido por estações televisivas na transmissão dos números do Euromilhões. Em 2012, a SIC fez uma reportagem sobre um erro da TVI em que uma família da Trofa achou que estava milionária durante dois minutos.

A reportagem da SIC falava sobre como “um erro na apresentação da chave do Euromilhões deixou uma família em euforia, pensando estar milionária”. O erro, na ocasião, foi da TVI, que pediu desculpa mas, segundo a SIC, esse pedido de desculpas estava a ser “difícil de aceitar”, já que o dono do bilhete dourado (que era, afinal, de latão) admitia avançar em tribunal contra a estação televisiva.

Mas há outros casos, e um deles remonta a outubro de 2016 — exatamente o mesmo mês em que aconteceu o erro que terá levado o empresário do norte à “depressão profunda”. Existe uma queixa no Portal da Queixa, online, em que um telespectador da SIC, José Rocha, se queixa de a SIC ter apresentado os números do sorteio anterior como “última hora”.

No dia 7/10/2016, no Jornal da Noite do Canal SIC, foi apresentada por duas vezes a chave do Euromilhões desse dia. Em ambos os momentos, a chave apresentada correspondeu à do concursos de terça-feira, dia 4/10/2016. Isso deu origem a que tivesse colocado no lixo um boletim que, constatei dois dias depois (porque a chave é fixa), tinha prémio por acerto em três números e duas estrelas. Isto que se passou comigo terá acontecido com muitas outras pessoas pelo país fora, sendo que a maioria, porventura, nem se apercebeu do grave erro da SIC.

A SIC respondeu a esta queixa no mesmo portal, onde se lê: “Lamentamos informar e pedimos desde já as nossas desculpas, mas no site oficial onde tiramos os números, estavam errados, logo a seguir corrigimos a situação durante o Jornal da Noite, os números são: 2 12 20 27 30 + 9 11. Sem outro assunto de momento, agradecendo por nos ter contactado, e colocando-nos à sua inteira disposição para futuros contactos, apresentamos os nossos melhores cumprimentos em nome de toda a equipa da SIC”.

A divulgação errada de chaves de sorteios já levou a problemas noutros países. Em Nova Jérsia, uma mulher achou que tinha vencido a lotaria também processou a estação televisiva que, em 2011, publicou os números errados. A mulher achou que tinha ganho 250 mil dólares e, “devastada“, acabou por pedir uma indemnização de 75 mil dólares.