Mesut Ozil não vai voltar a vestir a camisola da Alemanha. Num longo comunicado publicado no Twitter, o médio do Arsenal diz-se magoado com a federação germânica, que acusa de “racismo” e “falta de respeito”.
Tudo começou ainda antes do Mundial de 2018 — em que a seleção alemã, que era campeã em título, não foi além da fase de grupos — quando Ozil partilhou uma fotografia ao lado do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, numa altura em que este estava em campanha eleitoral. A imagem deu azo a um coro de críticas ao jogador, acusado de falta de lealdade ao seu país, e intensificou-se com a eliminação precoce do Mundial da Rússia. O médio teve mesmo de vir a público explicar que o encontro nada teve a ver com questões políticas e recordar que tem “dois corações, um alemão e um turco”. Ainda assim, o jogador defende que não houve respeito pelas suas raízes turcas e não viu outra solução que não bater com a porta.
“Com dor no coração e depois de pensar muito sobre os acontecimentos recentes, não vou continuar a jogar na seleção da Alemanha por ter sentido racismo e falta de respeito. Vesti a camisola da Alemanha com orgulho e emoção, mas agora já não”, pode ler-se no comunicado.
The past couple of weeks have given me time to reflect, and time to think over the events of the last few months. Consequently, I want to share my thoughts and feelings about what has happened. pic.twitter.com/WpWrlHxx74
— Mesut Özil (@M10) July 22, 2018
II / III pic.twitter.com/Jwqv76jkmd
— Mesut Özil (@M10) July 22, 2018
III / III pic.twitter.com/c8aTzYOhWU
— Mesut Özil (@M10) July 22, 2018
“Foi uma decisão muito difícil porque sempre dei tudo, juntamente com os meus companheiros, com o corpo técnico e com as boas pessoas da Alemanha. Mas quando altos cargos da DFB [sigla alemã para a Federação germânica de futebol] me trataram como trataram, com falta de respeito pelas minhas raízes turcas, e me acusaram injustamente de propaganda política, então chega“, acrescenta Ozil. “O racismo nunca deveria ser aceitável”, remata ainda.
“Nasci e fui educado na Alemanha. Porque há gente que continua sem aceitar que sou alemão?”, questiona ainda o jogador, que garante não estar arrependido de ter publicado a imagem com Erdogan — que tem relações tensas com a chanceler alemã, Angela Merkel. “Estou consciente de que a fotografia provocou grandes reações nos meios de comunicação alemães, mas, apesar de algumas pessoas poderem acusar-me de mentir ou ser desonesto, a foto não tinha nenhuma intenção política“, garantiu o jogador de 29 anos.
Ozil explica que, depois da polémica publicação, o selecionador Joachim Low lhe pediu que encurtasse as férias e regressasse à Alemanha para explicar a situação. Mesmo assim, o presidente da federação, Reimhard Grindel, não terá compreendido os argumentos. “Quando tentei falar com Grindel sobre a minha herança cultural, sobre a minha história, ele estava mais interessado em falar sobre as suas crenças políticas. Não vou continuar a ser um bode expiatório para a incompetência de Grindel. Sei que me queria fora da equipa depois daquela fotografia e disse isso mesmo nas redes sociais, mas Joachim Low defendeu-me. Aos olhos de Grindel, sou alemão quando vencemos e um imigrante quando perdemos”, rematou.
A federação de futebol alemã reagiu horas mais tarde ao anuncio feito por Ozil, rejeitando as acusações de racismo feitas pelo jogador do “Rejeitamos categoricamente o facto de a DFB estar associada ao racismo, no que diz respeito aos seus representantes, seus funcionários, aos seus clubes ou desempenho de milhões de voluntários de base”, vincou.
Uli Hoeness: “Ozil não joga uma m…”
A renúncia de Ozil à seleção alemã já desencadeou reações — uma delas particularmente dura. Uli Hoeness, presidente do Bayern Munique, não poupou nas palavras para criticar o jogador e recorreu mesmo ao vernáculo.
“Há anos que não joga uma m… Ganhou o seu último duelo individual antes do Mundial’2014. Só faz passes cruzados e esconde o seu rendimento penoso por detrás da polémica gerada pela foto com Erdogan. Sempre que jogávamos contra o Arsenal procurávamos Ozil, porque é o ponto fraco deles. Só brilha quando joga com São Marino. Do ponto de vista desportivo, Ozil não tem lugar na seleção há anos“, criticou o responsável dos bávaros, em declarações ao jornal alemão Bild. “Os seus 35 milhões de seguidores — que não existem no mundo real — estão convencidos de que ele joga de forma sublime quando acerta um passe cruzado”, acrescentou durante a viagem da equipa alemã para Filadélfia, nos Estados Unidos, onde vai defrontar a Juventus de Cristiano Ronaldo no arranque da pré-época.