A organização do Roland Garros vai proibir fatos como o que foi utilizado por Serena Williams na última edição do torneio do Grand Slam. O fato utilizado por Serena — que foi chamado pela imprensa de “cat suit” — trata-se de um macacão preto que melhorava a circulação sanguínea e facilitava a recuperação da tenista no período pós-parto. Mas esta sexta-feira, em entrevista à revista francesa “Tennis Mazine”, o presidente da Federação Francesa de Ténis, Bernard Giudicelli, anunciou que vai impor um dress code no torneio e visou o fato de Serena: “Acho que, às vezes, somos demasiado liberais. A combinação de Serena este ano, por exemplo, não vai voltar a ser aceite. Devemos respeitar o jogo e o lugar [onde estamos].”
O argumento de Giudicelli para a proibição é meramente estético, apenas para impor uma etiqueta. Os argumentos de Serena foram de saúde. A tenista chegou a estar em risco de vida, no passado, por coágulos no sangue, algo que o fato, alegadamente, ajudará a evitar.
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Quando participou no Roland Garros, em maio, Serena Williams estava a regressar à competição depois de ter sido mãe oito meses antes, em setembro de 2017. O fato de Serena foi desenhado especialmente pela Nike para a tenista norte-americana. Durante o torneio, Serena Williams disse que o macacão a fazia sentir bem: “Sinto-me uma princesa guerreira quando o visto, talvez uma rainha de Wakanda. Sempre vivi num mundo de fantasia. Eu sempre quis ser uma super heroína e esta é a minha forma de ser uma super heroína“. Serena falava numa alusão a uma nação africana ficcionada pela Marvel nos livros e filmes do Pantera Negra.
Como o torneio francês não tinha um dress code específico, o fato foi permitido. Agora, já não será. Outro torneio do Grand Slam, o Wimbledom, por exemplo, tem um dress code muito restritivo, pelo qual todos os jogadores têm de jogar vestidos de branco.
Sobre esta proibição, a presidente do Comité de Direitos Civis dos Advogados norte-americanos, Kristen Clarke, foi clara nas críticas à opção da organização do torneio: “Vamos chamar à restrição do French Open a Serena Williams pelo que ela na realidade é: racista e sexista. Políticas arbitrárias de código de vestuário têm sido desproporcionalmente usadas para visar as mulheres negras nas escolas, no trabalho e agora também no court de ténis. Este é um injusto policiamento dos corpos das mulheres negras.
Let's call this French Open restriction on Serena Williams for what it is- racist and sexist. Arbitrary dress code policies have been disproportionately used to target Black women in schools, at work and now on the tennis court. This is the unfair policing of Black women's bodies https://t.co/kbMbLSHF2a
— Kristen Clarke (@KristenClarkeJD) August 25, 2018
Também a jornalista e ativista Mona Eltahawy considerou a proibição do macacão de Serena como um exemplo de “misogynoir”, uma palavra que criou para descrever a misoginia que visa uma mulher negra.
I just mentioned that if she were thin and white, like Anne White at Wimbledon in 1985, it would be fine.https://t.co/jSjhbVPMCs
— Bowl of petunias (@flyingpat) August 24, 2018
Um outro utilizador Twitter acabou por recuperar uma fotografia que prova que há precedentes na utilização de macacões no ténis profissional, recuperando uma imagem da tenista caucasiana Anne White, que usou um macacão branco colante num jogo contra Pam Shriver em 1985, em Wimbledon.
Embora fosse branco (como impõe a organização do torneio), o fato também foi controverso na época. O árbitro de Wimbledon, Alan Mills, pediu a White para vestir algo diferente no dia seguinte. White ficou zangada, mas obedeceu. Diria depois, com ironia, ao Whashington Post: “Não quero que as pessoas derramem os seus morangos com chantilly por minha causa”.
À boleia da polémica, a Nike publicou uma fotografia de Serena Williams no Twitter, com a descrição: “Podem tirar a um super-herói o seu fato, mas jamais podem tirar-lhe o poder.”
You can take the superhero out of her costume, but you can never take away her superpowers. #justdoit pic.twitter.com/dDB6D9nzaD
— Nike (@Nike) August 25, 2018