Todos os médicos, de Lisboa a Mirandela, do Porto a Mértola, nos hospitais, centros de saúde e clínicas, vão poder ter um apoio nas tomadas de decisão durante a consulta com o doente. Basta que tenham acesso à internet e que um endereço de IP em Portugal. O protocolo é assinado esta terça-feira entre o Ministério da Saúde e a Ordem dos Médicos e as plataformas de apoio à decisão vão estar disponíveis a partir de 1 de janeiro de 2019.

“Estes sistemas de apoio à decisão estão baseados na melhor evidência científica existente”, disse ao Observador António Vaz Carneiro, médico internista e um dos promotores do projeto. “80% das perguntas podem ser respondidas em menos de 90 segundos.” Literalmente à distância de um clique.

Neste momento, as quatro plataformas só estão disponíveis em inglês e pressupõem o pagamento de uma assinatura. Alguns dos hospitais já pagam o acesso a estas plataformas que podem ser usadas pelos seus profissionais de saúde, mas a maior parte da informação não está acessível à população em geral (doentes, familiares ou outros cidadãos) e pode não estar acessível a todos os médicos.

A partir de janeiro, e segundo António Vaz Carneiro, Portugal será o primeiro país do mundo a disponibilizar integralmente as quatro plataformas — BMJ Best Practice, Cochrane LibraryDynaMed Plus e UpToDate — “24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano”, “sem username [nome de utilizador] nem password [palavra-passe]”. Outros país como Noruega e Inglaterra disponibilizam duas plataformas e o Canadá disponibiliza uma, comparou o médico.

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Plataforma Utilidade
BMJ Best Practice rápido e fácil de usar durante a prática clínica, com guias para diagnósticos, prognósticos, tratamentos e prevenção; atualizado diariamente
DynaMed Plus permite consulta rápida e detalhada mesmo durante a consulta com o doente; atualizado com os trabalhos científicos mais recentes
UpToDate informação muito completa; não é prático no momento da consulta com o doente, mas é útil para aprofundar a questão depois disso e melhorar os resultados clínicos
Cochrane Library base de dados com revisões sistemáticas que ajudam a perceber se uma intervenção é melhor do que outras para um determinado doente; não é apropriada para o uso durante a consulta

Daí a necessidade do apoio do Ministério da Saúde. “Tinha de ser feito com dinheiro público para não haver conflitos de interesse.” E para mostrar que o investimento vale a pena (ou não), serão feitos estudos científicos sobre o impacto das tomadas de decisão e a literacia dos cidadãos, comparando o antes e o depois da introdução das plataformas abertas. “Vamos ser um caso de estudo”, disse o diretor da Cochrane Portugal — um site que reúne evidência científica na área da saúde.

“O Ministério da Saúde entendeu que esta iniciativa proposta pela Ordem dos Médicos era uma oportunidade para consolidarmos este projeto e dar um passo em frente na batalha do conhecimento contra a ignorância”, afirmou Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde.

Toda a informação técnica nas quatro plataformas estará aberta a todas as pessoas, dos médicos aos gestores hospitalares, dos cidadãos aos decisores políticos, mas estará em inglês. A parte da informação escrita numa linguagem menos técnica e que pode ser mais facilmente compreendida e utilizada pelos cidadãos será traduzida para português. “O objetivo é aumentar a literacia baseada numa fonte credível”, reforçou António Vaz Carneiro.

“Num mundo tão digital e com acesso a tanta informação não filtrada, é essencial tanto para médicos como para os cidadãos saberem que estão a consultar informação de confiança que pode acrescentar segurança clínica às suas decisões”, disse Miguel
Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos.

“Isto vai permitir substituir as procuras aleatórias na internet”, defende o médico. Para António Vaz Carneiro, os cidadãos e jornalistas vão deixar de ter desculpa para se basearem em fontes não credíveis e que não são baseadas na evidência científica para construírem os seus argumentos.