A Comissão de Trabalhadores da RTP criticou a administração da estação pública de rádio e televisão esta quinta-feira por ter negociado um salário de 20 mil euros para manter o apresentador Fernando Mendes na estação ao mesmo tempo que os trabalhadores da empresa continuam numa situação precária.

Através de um comunicado divulgado no Facebook, os trabalhadores criticam o facto de “o chamado ‘mercado’ da televisão” ter entrado “numa filosofia de tipo futebolístico na sequência da transferência” de Cristina Ferreira da TVI para a SIC “por verbas difíceis de entender”.

“Pensou-se que a RTP, que presta um serviço e não vende coisas, rejeitando lógicas comerciais, como diz o seu presidente, estivesse imune a este tipo de loucuras, mas a verdade é que esta manhã a imprensa anunciou a renovação contratual da RTP com um dos seus apresentadores em valores que podem chegar aos 20 mil euros por mês”, criticam os trabalhadores da estação pública.

Os trabalhadores referiam-se às notícias publicadas na quinta-feira que davam conta de que Fernando Mendes recusou uma proposta da TVI para mudar de canal, aceitando ficar a apresentar “O Preço Certo” na RTP por um salário de 20 mil euros. Ao mesmo tempo, “não existem aumentos na RTP há 10 anos”, acrescentam.

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“A RTP vive uma situação de recursos humanos que só pode ser descrita como desastrosa. A idade média dos trabalhadores no quadro efectivo é de 49,9 anos, grande número deles abandonou a empresa nos últimos anos, mais de metade dos que ficaram exerce funções acima do seu descritivo funcional, sem serem pagos para isso. A RTP mantém centenas de trabalhadores em situação de prestação de serviço que já deveriam ter sido integrados”, denunciam os trabalhadores da empresa.

Falta dinheiro e culpa é da Eurovisão

A Comissão de Trabalhadores denuncia ainda que “o diálogo social, que era apanágio da RTP, é agora quase inexistente”. A título de exemplo, o comunicado refere que “os pedidos de reenquadramento dos trabalhadores são respondidos com ‘cartas-forma’ e depois esquecidos por meses a fio, como se aqueles que deram tudo de si à empresa por mais de 30 anos se tenham transformado agora num incómodo, uma chatice”.

“Os quadros e a distribuição de profissionais tornou-se uma confusão generalizada com serviço após serviço, com trabalhadores com categorias e tabelas diferentes, a fazer as mesmas tarefas. Para todos estes problemas tardam soluções mas sobram desculpas”, acusam.

A principal desculpa são os gastos com o Festival da Eurovisão, que decorreu este ano em Portugal depois da vitória do ano passado de Salvador Sobral, e cujos custos ficaram parcialmente a cargo da RTP.

“A resposta é sempre a mesma, o Eurofestival. Gastámos muito no Eurofestival. Assim, o Eurofestival, que o próprio Dr. Gonçalo Reis tinha garantido à CT que nunca seria pago pelos trabalhadores, transformou-se no alibi perfeito para os manter parados salarialmente”, criticam os trabalhadores da RTP.

A Comissão de Trabalhadores declara ainda o seu apoio ao pedido de auditoria às contas da RTP feito pelo Conselho de Opinião. “Se há aumentos para os apresentadores, então… e os trabalhadores?”, questiona o organismo.

RTP desmente negociação com Fernando Mendes

Entretanto, já depois da publicação da primeira versão desta notícia, a RTP contactou o Observador no sentido de desmentir a notícia de que a estação pública estaria a renegociar o contrato de trabalho com o apresentador Fernando Mendes.

Fonte pública da estação disse ao Observador que o comunicado da Comissão de Trabalhadores teve origem numa notícia falsa e negou que estivesse a renegociar com Fernando Mendes, que tem contrato com a RTP até 2019.

A mesma fonte negou também o valor do salário, afirmando que Fernando Mendes não vai ganhar 20 mil euros, mas não revelou o verdadeiro valor do salário do apresentador, citando cláusulas de confidencialidade.

Artigo atualizado às 18h com informações fornecidas por fonte da RTP