Os lucros do Montepio aumentaram 21% no primeiro semestre, para 15,8 milhões de euros, um crescimento que se explica, sobretudo, pelo facto de o banco ter registado menos 33% em imparidades de crédito no período — mesmo assim, a instituição liderada por Carlos Tavares teve de subtrair aos lucros 59,5 milhões de euros, para cobrir imparidades (essencialmente de crédito). A margem financeira baixou 6,3%, por efeitos relacionados com a carteira de dívida pública e porque o banco concedeu menos crédito — Carlos Tavares, o presidente-executivo, diz que o Montepio não está a acompanhar a forma “entusiástica” como outros bancos estão a conceder crédito, numa “guerra de preços que faz lembrar os anos antes da crise”. Mas está a preparar um plano de abertura de agências pequenas em zonas “menos urbanas”.

As declarações de Carlos Tavares foram proferidas num encontro com jornalistas, para apresentar os resultados do primeiro semestre, que estão disponíveis no site do regulador do mercado, a CMVM. Foi nesse encontro, em Lisboa, que Carlos Tavares explicou que o objetivo do banco é “estar mais onde os outros estão menos”: em concreto, “o banco vai-se afastar da tendência do encerramento e ensaiar um projeto de reaproximação das zonas menos servidas”.

“Temos uma ideia clara de onde é que há oferta bancária insuficiente” e, para essas zonas, a Caixa Económica Montepio Geral idealiza a abertura de agências pequenas, um processo “passo a passo” que irá criar novas agências em zonas “menos urbanas” onde, com o investimento certo, se pode produzir rentabilidade. Numa altura em que a Caixa Geral de Depósitos está a reduzir o número de agências, no âmbito do plano de recapitalização, Carlos Tavares diz que esse não é o “móbil” mas reconhece que “é inevitável que algumas oportunidades surjam fruto desse movimento”.

Até ao final do ano, cerca de 10 novas agências serão abertas ao abrigo deste projeto-piloto que o banco quer lançar. Serão sucursais com duas ou três pessoas a trabalhar, em regra, podem até nem ter um gerente cativo (estar dependente de outros balcões) e podem nem estar abertos em horário completo. Mas o Montepio quer aproveitar para fornecer serviços bancários em zonas que estejam “sub-servidas” neste momento — Carlos Tavares não quis revelar a localização das 10 primeiras agências.

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O Montepio garante que o plano não contempla o fecho correspondente de agências em centros mais urbanos, mas Carlos Tavares admite que possa haver “reafetação” de funcionários onde eles possam estar em excesso. Carlos Tavares admite, “perfeitamente”, que possa haver um plano de incentivos para promover essas mudanças. Mesmo nas zonas mais urbanas, são previsíveis alterações como ao nível do horário de abertura, indo mais ao encontro da conveniência dos clientes (seja ao sábado ou, no caso das sucursais em centros comerciais, ao final dos dias de semana).

Carlos Tavares garante que não existem planos de reduzir o número de trabalhadores, mas “com a força de trabalho que temos, temos obrigação de ter mais negócio”.

Nome da Caixa Económica vai mudar nos próximos meses

Outra prioridade da gestão do banco, é reduzir o peso do imobiliário e construção na carteira de ativos do banco — que Carlos Tavares considera “inaceitável”, até porque está a gerar as necessidades de registo de imparidades a cada trimestre. O banco tem cerca de 15% dos créditos não-performantes, um valor que Tavares reconhece ser elevado — o objetivo do plano estratégico levar este rácio para 7% até 2021 e para 5% para 2023, seja através de vendas de carteiras ou através da recuperação orgânica de créditos.

Carlos Tavares confirmou, também, que ainda este ano haverá uma alteração da marca Caixa Económica Montepio Geral, sem revelar a nova marca que vai ser criada. Será, contudo, uma designação que faça com que “quem está a lidar com a Associação Mutualista saiba que está a lidar com a Associação Mutualista e quem está a lidar com a caixa económica saiba que está a lidar com a caixa económica”. “Mas a distinção entre as duas entidades não se faz apenas pelo nome da marca”, adiantou Carlos Tavares. Vai, também, ser lançado um banco especialmente vocacionado para as empresas (uma reconversão do atual Montepio Investimentos).

O presidente-executivo do Montepio reconhece que o principal rival desta estratégia, com as devidas diferenças, é o Crédito Agrícola — uma instituição com quem o líder da Associação Mutualista, Tomás Correia, várias vezes considerou que o Montepio deveria fundir-se. Mas Carlos Tavares diz que a sua única preocupação é “fazer do Montepio o melhor banco possível”, como prevê a carta de missão que a caixa económica recebeu e que está a cumprir.