O nono suspeito de ter encenado a entrega das armas furtadas dos Paióis Nacionais de Tancos regressa a Portugal na próxima terça-feira. De acordo com fonte judicial, o major Vasco Brazão terá depois de ser ouvido pelo juiz de instrução João Bártolo no prazo máximo de 48 horas.

O militar do Exército tinha aterrado na capital da República Centro Africana 24 horas antes de a Operação Húbris avançar para o terreno. Na manhã de terça-feira, quatro elementos da Polícia Judiciária Militar (PJM), incluindo o diretor, foram detidos juntamente com três militares da GNR e um civil. E a PJ até podia ter realizado todas as detenções no mesmo dia, uma vez que os mandados de detenção dos nove suspeitos foram emitidos a 19 de setembro, três dias antes de Vasco Brazão regressar à República Centro Africana.

Na manhã de terça-feira, quando a operação foi para o terreno com buscas às casas dos vários suspeitos, além das instalações da PJM e da GNR, o nono suspeito já estava a 5000 quilómetros de distância.

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Esta quinta-feira, quando já decorriam as identificações dos oito suspeitos detidos, Ricardo Sá Fernandes surgiu à porta do Tribunal de Instrução Criminal para revelar que passaria a representar o major Vasco Brazão no processo. Nesse momento, o advogado ainda tentava chegar a acordo com o juiz de instrução para uma data em que Brazão pudesse ser ouvido em Lisboa, mas deixava de imediato uma garantia.

O militar “está desejoso de prestar declarações e de esclarecer este equívoco, está à espera de vir o mais rapidamente possível e, se dependesse dele, já cá estava.”

Vasco Brazão regressa na próxima terça-feira e ainda não é totalmente claro o que se passará de seguida. De acordo com fonte ligada ao processo, o juiz de instrução e a defesa do major ainda encontraram uma data para que se realize o interrogatório do militar (assumindo, como deverá acontecer, que é de imediato constituído arguido). Uma das possibilidades é que seja detido assim que chegar ao aeroporto de Lisboa; outra, alternativa, é que lhe seja indicada uma data para apresentar-se em tribunal para prestar declarações.

Não será o primeiro a fazê-lo. Luís Augusto Vieira, diretor da PJ Militar, foi um dos detidos que optou por responder às questões de João Bártolo e dos procuradores João Melo e Vítor Gonçalves. E falou de forma alongada: de acordo com fonte judicial, esteve cerca de duas horas na sala com os magistrados, ele que será um dos principais alvos na investigação que a Polícia Judiciária desenvolveu para apurar as circunstâncias em que foram recuperadas as armas de Tancos.

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Na tese da Polícia Judiciária, o coronel Augusto Vieira terá liderado um grupo que encenou ou colaborou na encenação da entrega das armas na Chamusca, a 18 de outubro do ano passado. Tudo, alegam os magistrados do Departamento Central de Instrução e Ação Penal, para ganhar vantagem sobre a PJ, a quem o Ministério Público tinha entregue a investigação.

Esta sexta-feira, e uma vez que todos os detidos já foram presentes a juiz e prestaram declarações (aqueles que entenderam fazê-lo), o Ministério Público anuncia as medidas de coação que quer ver aplicadas aos arguidos. Durante a tarde, o juiz João Bártolo deverá tomar uma decisão.