Eram onze da manhã, dois minutos e 42 segundos em Portugal, mais seis horas em Jacarta, quando um sismo de magnitude 7,5 na escala de Richter agitou a região marítima de Sulawesi Tengah, na Indonésia. A dez quilómetros de profundidade, as rochas que compõem a crosta terrestre foram sujeitas a tensões tão grandes que racharam e libertaram a energia que tinham acumulado ao longo de milhares de anos. Por cima dessa região, ondas com até seis metros de altura ergueram-se em direção a terra e 25 minutos mais tarde atingiram a cidade de Palu, a 78 quilómetros do epicentro do sismo. O tsunami, que viajava a uma velocidade média de quase 190 quilómetros por hora, matou mais de 800 pessoas.

O que falhou?

Ninguém esperava que fosse tão grande nem tão perigoso. Assim que o primeiro grande sismo foi detetado, com magnitude 6,1 na escala de Richter, a Agência Meteorológica, Climatológica e Geofísica da Indonésia emitiu um alerta de tsunami. A mensagem dizia que as ondas podiam não ter mais de 50 centímetros e nunca ultrapassariam os três metros de altura. Pouco depois o alerta foi cancelado porque, “com base em dados históricos e modelagem de tsunamis, este terramoto não é capaz de gerar um tsunami que afeta a região do Oceano Índico”, lê-se na mensagem do alerta da Agência Meteorológica. Mas três horas depois, 25 minutos depois do sismo principal, um terramoto varreu a cidade de Palu e matou 384 pessoas [segundo números divulgados na noite de sábado]. Nenhuma região costeira da Indonésia tinha sido evacuada.

Por norma, quanto menos profundo for o hipocentro do sismo (a localização precisa na crosta terrestre onde ele nasceu), pior as consequências à superfície. Mas não é apenas o facto de o terramoto de sexta-feira ter surgido a apenas 10 quilómetros de profundidade que justifica o número de mortos e as perdas económicos em 1% do produto interno bruto da Indonésia: acontece que ” a população nesta região reside em estruturas que são vulneráveis à agitação do terremoto”: “Os tipos predominantes de construções vulneráveis são as construções de madeira e as paredes de cimento”, aponta o Serviço Geológico norte-americano.

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Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, este sismo foi estimado numa intensidade máxima de grau VII: “que corresponde a um nível de vibração muito forte e correlacionada com danos moderado”: “Foram reportados danos em vários edifícios, tendo alguns destes colapsado”, noticia o instituto nacional. Entre todas as pessoas afetadas pelo terramoto e pelo tsunami de sexta-feira, 10 mil estavam na região onde os dois fenómenos foram considerados violentos, 44 mil nas região afetadas “severamente”, 129 mil estavam nas zonas com intensidade “muito forte” e 737 mil pessoas sentiram os fenómenos com intensidade “forte”.

Porque treme a Indonésia?

A Indonésia Oriental localiza-se numa área onde quatro placas tectónicas chocam umas contra as outras: a da Austrália, a de Sonda, a do Pacífico e do Mar das Filipinas. O Serviço Geológico dos Estados Unidos especificou que o epicentro do sismo de sexta-feira aconteceu precisamente por cima do local onde a placa de Sonda se mexe em direção a sul a uma velocidade de 30 milímetros por ano; e a placa da Austrália se mexe para norte a um ritmo de 56 milímetros por ano. À medida que uma avança contra a outra, a placa da Austrália — por ser mais pesada — mergulha por baixo da de Sonda, destruindo-se e abrindo uma fossa com 7.725 metros de profundidade e 400 quilómetros de comprimento.

Conforme confirmado pela Agência Meteorológica, Climatológica e Geofísica da Indonésia, essa energia libertou-se a partir de uma falha tectónica que já era conhecida pelos geológos: a falha de Palu-Koro. Os cientistas dizem que essa é uma falha horizontal, semelhante à de Santo André nos Estados Unidos, porque os dois blocos de rochas que a constituem movem-se horizontalmente uma em relação à outra. Isso confirma aquilo que o Serviço Geológico norte-americano também avançou: “O terramoto ocorreu como resultado de grandes falhas superficiais no interior da microplaca do Mar de Moluca, que é uma parte da placa de Sonda. Os dados indicam uma rutura ocorrida numa falha lateral com direção norte-sul ou ao longo de uma falha lateral com direção este-oeste”.

À conta de fenómenos como este, a região atingida esta sexta-feira já foi muitas vezes palco de grandes terramotos: só no último século, esta zona da microplaca do Mar de Moluca já foi agitada por quinze sismos com magnitudes iguais ou superiores a 6,5 na escala de Richter. O maior de todos aconteceu em janeiro de 1996, quando um sismo de magnitude 7,9 na escala de Richter foi registado 100 quilómetros a norte do epicentro do sismo de sexta-feira.

Este terramoto mais recente, assim como os outros, foram precedidos por outros mais pequenos. O Serviço Geológico dos Estados Unidos contabilizou quatro com magnitudes iguais ou superiores a 4,9 — um dos quais de 6,1 na escala de Richter que ocorreu três horas antes do sismo principal, mas que tinha a mesma origem desse maior. Nas três horas seguintes ao terramoto, o fenómeno repetiu-se: houve dez sismos com magnitudes iguais ou superiores a 4,7 na escala de Richter. E um deles, que aconteceu 12 minutos depois do abalo principal, tinha magnitude 5,8.