O convite da Administração de Serralves surgiu no mesmo dia que o requerimento apresentado pelo PS para visitar a exposição Robert Mapplethorpe: Pictures. Um e outro são apenas “coincidentes” no tempo, garante Edite Estrela que, na companhia de cerca de 15 membros da Comissão Parlamentar da Cultura e do Conselho de Administração de Serralves, visitou hoje as 159 imagens em exibição.

A comitiva, liderada por Edite Estrela, chegou praticamente uma hora depois do combinado e foi recebida pelo Conselho de Administração à entrada do museu. Trocaram-se cumprimentos, uns mais entusiastas que outros. “O melhor é começarmos já”, atalhou a presidente da Comissão Parlamentar da Cultura, em passo firme até ao hall de entrada, onde repousa desde Julho a escultura Whiteout de Anish Kapoor. Na brochura desta exposição, à margem da polémica de Mapplethorpe, lê-se que Whiteout é “uma escultura monolítica branca (…) que alude a um estado de quase cegueira experienciado em tempestades de neve muito densas, em que uma pessoa perde a capacidade de orientação e a consciência do lugar, não se conseguindo situar ou localizar aquilo que a rodeia”.

Talvez por efeito da escultura, mas no momento de entrar para Pictures de Robert Mapplethorpe havia algum atordoamento no ar. Seria a visita acompanhada pela imprensa ou não? Ninguém sabia muito bem, mas Edite Estrela avançou com uma posição: “o objetivo era ver tranquilamente, sem interferências nem condicionalismos”.  Ou seja, não estava nos planos a presença dos jornalistas, embora a visita tivesse sido previamente comunicada às agendas dos órgãos de comunicação social.

“Obviamente que estamos disponíveis para, se quiserem, fazer alguma pergunta”, assegurou.

A negociação prossegue, desta vez com a bola do lado dos dos jornalistas, desde as 17h à espera de notícias da comitiva, que pedem cinco minutos na exposição para tirar imagens e algumas impressões. Trocam-se olhares, parece que há consenso entre os presentes, mas alguns membros torcem o nariz: “cinco minutos é muito tempo” deixa escapar Teresa Caeiro, do CDS. Está decidido, então.

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Os jornalistas ficam-se pela entrada na galeria e pelas boas-vindas de Marta Moreira de Almeida, a diretora-adjunta de Serralves que assumiu a responsabilidade de guiar esta visita. Nos 50 minutos que se seguiram, a Comissão parlamentar de Cultura percorreu as seis secções expositivas. PS, PSD, CDS e PCP estiveram presentes, só faltou o Bloco de Esquerda, que se opôs prontamente à realização de uma visita antes das audições parlamentares, entretanto marcadas para dia 16 de Outubro.

O Conselho de Administração, com Ana Pinho, Isabel Pires de Lima, José Pacheco Pereira, António Pires de Lima, Manuel Ferreira da Silva e Manuel Cavaleiro Brandão, acompanhou também a comitiva, “eles são os donos da casa”, disse Edite Estrela já nas declarações finais, pondo para canto qualquer eventual interferência ou olhar enviesado pela presença de um dos lados da contenda: “quem nos fez a visita guiada foi quem neste momento está a assumir as responsabilidades da direção do museu”.

De lado ficou também a carteira da presidente da Comissão Parlamentar da Cultura, pousada aos pés da indefesa escultura de Kapoor, para lá do perímetro delimitado pelo aviso de “não tocar”. Confusões à parte – afinal a perda de consciência do lugar estava previamente proscrita na brochura – Edite Estrela, que pessoalmente “gostou muito” da exposição, reiterou a importância desta visita, nomeadamente para recolha de informações: “nós viemos para ver.”

No dia 16 de Outubro a Comissão sentar-se-á no Parlamento para ouvir.