O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reiterou esta sexta-feira que relativamente ao conhecimento imputado ao ministro da Defesa quanto ao caso do desaparecimento de armas nos paióis de Tancos, “é preciso respeitar o apuramento da verdade”. “Neste momento, como disse ontem [quinta-feira], não tenho nada a acrescentar porque está uma investigação em curso e essa investigação está a prosseguir os seus trâmites. Devemos acompanhar aquilo que está a ser feito, não interferindo, respeitando e olhando depois para as conclusões”, afirmou o chefe de Estado.
Nesse sentido, Marcelo de Sousa, que falava aos jornalistas a bordo do navio Escola Sagres, no âmbito das comemorações do 05 de Outubro, pediu para que se respeitasse “aquilo que é o apuramento da verdade e de algumas responsabilidades”.
Na quinta-feira, o Presidente da República defendeu, também questionado sobre o conhecimento imputado ao ministro da Defesa quanto ao caso de Tancos, que há que aguardar que se apure “toda a verdade” para formular “um juízo preciso”. O chefe de Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas realçou que “está em curso uma investigação criminal” e acrescentou que “há que esperar que decorra e apure toda a verdade”. “Eu desde o início tenho defendido isso. Portanto, vamos esperar para ver quais são as conclusões”, afirmou.
A edição online do semanário Expresso divulgou na quinta-feira que o ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar (PJM), major Vasco Brazão, disse ao juiz de instrução da investigação à recuperação do material militar furtado em Tancos que, no final do ano passado, e já depois de as armas terem sido recuperadas, deu conhecimento ao ministro da Defesa, juntamente com o então diretor daquela polícia, da “encenação montada em conjunto com a GNR de Loulé em torno da recuperação as armas furtadas” do paiol nacional de Tancos.
Ainda na quinta-feira, em Bruxelas, o ministro da Defesa Nacional negou “categoricamente” que “tenha tido conhecimento de qualquer encobrimento neste processo”.
Em 25 de setembro, a Polícia Judiciária deteve, no âmbito da Operação Húbris, que investiga o caso da recuperação, na Chamusca, em outubro de 2017, das armas furtadas em Tancos, o diretor e outros três responsáveis da PJM, um civil e três elementos do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé. Na segunda-feira chegou a Portugal e foi detido o major Vasco Brazão, que foi porta-voz da PJM e estava em missão na República Centro-Africana.
Segundo o Ministério Público, em causa estão “factos suscetíveis de integrarem crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, recetação, detenção de arma proibida e tráfico de armas”.
Carlos César: “Dificilmente o ministro da Defesa pode ter responsabilidades”
O líder parlamentar do PS, Carlos César, considerou esta sexta-feira que “dificilmente o ministro da Defesa pode ter responsabilidades” no furto das armas de Tancos, mas ressalvou que, se isso acontecer, Azeredo Lopes terá de “retirar as respetivas consequências”.
“O empenhamento da parte do PS é de, não ignorando que incidentes como estes que envolveram o caso de Tancos têm ser resolvidos e uma vez resolvidos retiradas as respetivas consequências políticas, que o importante é preservar as nossas Forças Armadas, a dignidade do Estado”, disse aos jornalistas Carlos César, no final da cerimónia do 05 de outubro, que decorre em Lisboa, quando questionado sobre o caso de Tancos.
À pergunta se essas consequências políticas serão a demissão de Azeredo Lopes, Carlos César considerou que “se o ministro tiver responsabilidades sobre essa matéria, evidentemente que terá de retirar as respetivas consequências”. Mas, acrescentou, “dificilmente o ministro da Defesa pode ter, evidentemente, responsabilidades sobre isso”.
Aquilo que se sabe até agora, recordou o líder parlamentar socialista, “é que houve um roubo numa instalação militar”, um incidente sobre o qual a responsabilidade não foi do ministro da Defesa e, em relação ao qual, “o Governo atuou prontamente”. “Quando a investigação judicial que está a ser feita chegar ao seu termo nós veremos o que se passou e quem teve responsabilidades diretas sobre essa matéria”, disse Carlos César, que é também presidente do PS.
Para Carlos César, as “Forças Armadas são uma instituição central e referencial da democracia, que prestigiam o Estado português”. “As Forças Armadas são um esteio da dignidade nacional, são um esteio do prestígio que hoje felizmente o nosso país tem na Europa e na comunidade internacional e nós devemos estar empenhados justamente na defesa desse instrumento fundamental que convive na nossa democracia e que lhe é estrutural”, enalteceu.
Santana Lopes: ministro “não tem condições para continuar no cargo”
O novo partido de Pedro Santana Lopes, “Aliança”, considera que o processo de Tancos está a fragilizar politicamente o ministro da Defesa Nacional defendendo que Azeredo Lopes “não tem condições para continuar no cargo”.
Em comunicado, o partido do antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes que se encontra em processo de formalização no Tribunal Constitucional, considera que “o chefe do Governo e o Presidente da República, comandante Supremo das Forças Armadas, devem assumir a decisão que se impõe para defesa da imagem interna e externa das instituições do Estado e para bem de Portugal”.
“Realidade incontestável – e independente do antes referido – é o reconhecimento da excessiva fragilidade política que a sucessão inconcebível de eventos do processo de Tancos, provocou no titular da pasta da Defesa Nacional”, refere o Aliança em comunicado.“É óbvio que a salvaguarda mais elementar do respeito devido às Forças Armadas e a outras entidades relevantes do Estado, não permite outra conclusão que não seja a de que o ministro não tem condições para continuar no cargo”, acrescenta.
A Aliança entende que os factos ocorridos, “cuja gravidade não pode ser silenciada e que respeitam ou envolvem instituições da Justiça, da Administração Interna e da Defesa Nacional, suscitam fundadas preocupações”.
BE quer rapidez na investigação porque caso é “demasiado grave”
O líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, considerou que o caso relacionado com o desaparecimento de armamento em Tancos é “demasiado grave” e, por isso, exige rapidez na conclusão da investigação. Apontando que a política não deve ser misturada com a justiça e que “a justiça não deve ser impedida de funcionar”, Pedro Filipe Soares afirmou que “a investigação está a avançar e a investigação deve chegar a bom porto”.
Falando aos jornalistas no final das comemorações do 05 de Outubro, na Praça do Município, em Lisboa, o bloquista salientou que o processo “deveria chegar a um porto rapidamente porque este é um caso demasiado grave para se demorar muito tempo a tirar as conclusões”. “Ninguém pode ser poupado, todos devem ser investigados, todas as investigações devem ser concluídas” para que possam depois ser “assacadas essas responsabilidades” junto dos “verdadeiros responsáveis”, acrescentou.
Sobre o discurso do Presidente da República, que apontou que “não há verdadeira democracia sem atenção a entidades estruturantes como as Forças Armadas”, Pedro Filipe Soares classificou as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa como “relativamente fortes, quando ele diz que um dos pilares de uma democracia é o bom nome das Forças Armadas”. Apontando que “é esse bom nome das Forças Armadas que está agora em causa”, o líder parlamentar bloquista salientou que “há responsabilidades individuais que estão a ser investigadas judicialmente” e há também “uma preocupação política” que todos devem “ter também sobre estes acontecimentos”.