Já passaram 20 anos desde que a Nintendo decidiu pegar na sua mascote e levá-la para o ambiente dos jogos de festa e de tabuleiro. Mario Party, lançado na Nintendo 64 em 1998, pode não ser a primeira interpretação de um jogo de tabuleiro em videojogo, mas foi sem dúvida aquela que definiu o que o género deveria ser.
Desde esse primeiro jogo que todas as consolas domésticas (e até as portáteis, desde o Game Boy Advance) da Nintendo tiveram uma ou duas entradas da série de party games no seu catálogo. Foi com pouca surpresa que foi anunciado Super Mario Party, o 11º jogo da série, depois de algumas iterações mais banais da série nos últimos dez anos temos agora acesso a um dos melhores títulos de festa com o Mario.
De todos os Mario Party, lançados tanto para as consolas domésticas como para as portáteis da Nintendo, a maioria acrescentou muito pouco à fórmula base. Um tabuleiro digital onde os diversos jogadores competem para serem os primeiros a chegar à última casa ou a recolher o maior número de estrelas e moedas. Pelo meio, uma variedade de mini-jogos divertidos que demonstram a criatividade das diversas equipas afetas ao seu desenvolvimento, ao longo dos últimos 20 anos.
A qualidade e a diversidade dos mini-jogos é um ponto tão importante que a última entrada na série surgiu no final do ano passado na 3DS compilando os melhores 100 mini-jogos em 19 anos de História, com upgrades visuais no caso dos mais antigos. Mas entre este best of e os títulos principais que saíram para a Wii e Wii U (respetivamente Mario Party 9 [2012] e 10 [2015], o resultado acabou por serem jogos medianos que não representavam o verdadeiro potencial destes party games. Mesmo com a utilização de motions controls e de jogabilidade assimétrica na Wii U, na qual um jogador controlava o Bowser e jogava contra os outros três, há muito que Mario Party não era sinónimo de um jogo verdadeiramente obrigatório.
Felizmente, isso mudou. Super Mario Party decidiu olhar para a sua história e perceber em que fases é que criou momentos relevantes para o mercado familiar e casual de videojogos. E a resposta foi um retorno à simplicidade do tabuleiro de jogo, mas pensado numa lógica contemporânea.
O tabuleiro já não é apenas um terreno estático e numerado, mas um nível por si só, dinâmico e com diversos elementos impossíveis de reproduzir num jogo físico. Ou seja, Super Mario Party consegue tornar-se um bom jogo de tabuleiro em videojogo por querer ser mais do que uma mera tradução de um para o outro, aproveitando as potencialidades de ambos os media para criar uma experiência única e divertida.
Os novos mini-jogos têm uma diversidade vasta, que aproveita o historial da própria série, entre alguns que opõem ou unem todos os jogadores entre si, passando por momentos de dois contra dois ou a assimetria de um contra três. Jogos curtos, imaginativos e divertidos que aproveitam as potencialidades dos Joy-Cons da Nintendo Switch.
Neste modo clássico de tabuleiro, a escolha dos personagens não é apenas uma decisão visual, cada um possui um dado de seis lados próprio, diferente dos restantes, com valores distintos entre si. A somar a isto, encontramos as “casas” de aliados no tabuleiro que nos garantem companhia, cada um com o seu próprio dado, cujos valores rolados somam ao nosso dado, permitindo-nos avançar mais passos.
Uma das críticas que têm surgido em torno de Super Mario Party é a dependência de jogarmos com os comandos destacados da consola, impedindo-nos de o jogar em modo portátil. Mas, olhando para o que este jogo é e o uso que faz das vibrações e dos motion controls dos Joy-Cons, é óbvio que foi desenvolvido como um jogo de sala, multi-jogador (ou não). A utilização total das características únicas dos comandos é feita sob sacrifício do jogo não poder ser verdadeiramente portátil. O que neste caso, e perante a qualidade e inteligência dos muitos mini-jogos aqui presentes, é um pequeno preço a pagar.
Além do modo clássico de jogo tabuleiro, Super Mario Party possui ainda outras possibilidades para jogar em grupo. O primeiro deles, e um dos mais divertidos é o modo cooperativo Down the River, em que os jogadores têm de se coordenar para remar um bote rio abaixo, desviando-se dos obstáculos e tentando chegar ao fim do curso da água antes que o tempo se esgote. Para aumentar o cronómetro, temos de vencer diversos mini-jogos cooperativos que nos vão adicionando segundos ao contador.
Pelo meio temos ainda um modo de festa dedicado a jogos de ritmo e uma das grandes novidades neste Super Mario party que é transformar a própria consola numa tablet para ter em cima da mesa, à qual podemos colocar uma segunda consola contígua permitindo à imagem estender-se pelos ecrãs das duas plataformas. Uma possibilidade aqui presente, não muito explorada, mas que abre as portas para este tipo de soluções criativas no futuro.
Super Mario Party é o derradeiro party game das consolas atuais, um jogo obrigatório para todos os possuidores de uma Nintendo Switch, e aquele que fará as delícias de pequenos e graúdos num título divertido e diversificado para toda a família.
Ricardo Correia, Rubber Chicken