O comentador político e ex-líder do PSD Luís Marques Mendes critica António Costa por ter andado “sempre a reboque dos acontecimentos” no caso do assalto a Tancos, o que considera ser um “comportamento desastroso”. O caso mostrou, diz Marques Mendes, que o primeiro-ministro “tem muita habilidade mas pouca capacidade de decisão e pouco sentido de Estado, como se viu em alguns momentos capitais“.
No seu comentário semanal na SIC, este domingo, Marques Mendes considerou que António Costa “não teve capacidade de decisão, andou sempre a desvalorizar o assunto”. Depois, “não teve sentido de Estado por não perceber que era preciso preservar a Instituição Militar. Além disso, foi ao parlamento na quarta-feira e “não foi prudente porque andou a segurar, a segurar, o ministro… para nada”.
Isto disfarça-se em tempos de vacas gordas, mas fica lá uma marca de desgaste”
Marques Mendes salienta, porém, que não é a saída do ministro que faz desaparecer o tema de Tancos. O comentador político diz que falta sair o Chefe do Estado Maior do Exército, que “é tão ou mais responsável que Azeredo Lopes”. “Quando é que ele sai? O que é que ele está à espera para perceber que, a partir de agora, fica mais fragilizado?”, pergunta Marques Mendes.
“A sensação que há é que estão todos metidos nesta embrulhada”, diz Marques Mendes, quer a estrutura do Exército quer a tutela política. “As investigações têm de ir até ao fim”, defende Marques Mendes, traçando uma comparação com o caso de António Domingues que teve “muitas mentirinhas, muitas meias-verdades”.
Remodelação. “Nos próximos dias não se vai falar em Tancos e até o OE vai ficar um bocadinho para segundo plano”
Luís Marques Mendes considera que a remodelação governamental anunciada neste domingo é um exemplo da “habilidade política” de António Costa. “Nos próximos dias não se vai falar em Tancos e até o OE vai ficar um bocadinho para segundo plano”, acredita Marques Mendes. Além disso, “retoca o governo com um governo mais eleitoralista, na véspera de um orçamento que também será eleitoralista”.
Marques Mendes diz que Gomes Cravinho é uma “ótima escolha” para a Defesa — que terá, desde já, um “teste à sua autoridade: se mantém ou não o Chefe do Estado Maior do Exército”. Na Economia, houve uma remodelação apenas “formal”, diz o comentador, “porque Siza Vieira já era o verdadeiro ministro da Economia há um ano, desde que entrou”. Na Cultura, havia um homem que “era o homem errado no lugar errado”, num ministério que estava em “auto-gestão” e cheio de “problemas”. Finalmente, na Saúde, “sai uma das pessoas mais sabedoras de Saúde em Portugal, mas tinha a imagem um pouco desgastada — sai porque paga a fatura de ter afrontado o ministro das Finanças”.
Mário Centeno não é propriamente vingativo. Só que não perdoa a quem lhe faz frente”.
Sobre a questão da Energia passar para o Ambiente, Marques Mendes diz que “não há nada de surpreendente”. Mas o comentador reconhece que a saída do secretário de Estado da Energia pode causar algumas dúvidas: “António Costa não morria de amores por este secretário de Estado, que parecia mais do Bloco de Esquerda do que do PS”, diz Marques Mendes, acrescentando que o secretário de Estado “não era a coisa mais simpática na relação com as elétricas, com o setor”. E, finalmente, “Costa tem memória longa — e nunca esqueceu” a controvérsia no Orçamento do Estado do ano em curso com a proposta para taxar as renováveis — que o PS votou e, depois, teve de voltar atrás.
Manteve-se no cargo, porém, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues. Marques Mendes diz que Brandão Rodrigues só se “safou à remodelação” porque Costa não quer dar sinais de ceder à Fenprof.
Passes sociais baixam em todo o país a 1 de abril, revela Marques Mendes
“Está confirmado que a redução dos passes sociais de todo o país, mas sobretudo Grande Lisboa e Grande Porto, vai começar no dia 1 de abril. É dia das mentiras mas a medida é verdade, está no Orçamento, e até o valor que lá está: 53 milhões de euros”, indicou o comentador político.
Marques Mendes comentou, ainda, que este próximo Orçamento será “super eleitoralista” e lembrou que não se “devem deitar foguetes” porque “na União Europeia temos cerca de 20 países a crescer mais do que nós. Afinal, temos um dos crescimentos mais baixos de toda a Europa. Devíamos crescer mais”.
Além disso, o comentador político defende que a nomeação de um deputado do PS para a reguladora do setor elétrico — a ERSE — “só não é um escândalo porque em Portugal ninguém se escandaliza com nada”.