Voltou a NBA, voltou um mundo à parte. Voltou a melhor forma de misturar desporto e entretenimento num só e verdadeiro espetáculo. Voltou o melhor basquetebol. Voltou o melhor case study de transparência e abertura com adeptos, adversários e a própria comunicação social. E ainda o primeiro jogo da temporada entre os Boston Celtics e os Philadelphia 76ers não tinha começado e já entrava pela televisão um exemplo paradigmático disso mesmo através de uma repórter da TNT.

“Tenho um update em relação à situação do Gordon Hayward. Ele tem uma limitação de tempo de jogo na ordem dos 25 minutos nas primeiras três ou quatro semanas de competição. Como o treinador nos acabou de dizer, não tem a ver com o problema no tornozelo mas para começar a recuperar o ritmo que lhe permita fazer uma temporada de 82 jogos. Antes ele também já me tinha dito que a própria explosão com a perna esquerda não era ainda a mesma. Mas quando se tem uma lesão com esta gravidade, a parte mental é tão importante como a física”, destacou antes de lançar uma peça onde o jogador que chegou em 2017 dos Utah Jazz explicava todo o trajeto que fez, entre o apoio da família e a ajuda de um psicólogo desportivo.

Os Celtics, principais favoritos à conquista da Conferência Este, conseguiram ser melhores na segunda parte e venceram uma das grandes revelações de 2017/18 (com Joel Embiid, Ben Simmons e uma incógnita chamada Markelle Fultz) por 105-87, num jogo que assinalou também o regresso à competição da grande estrela da companhia, Kyrie Irving. No entanto, o grande momento do encontro acabou por ser a ovação de pé quando Hayward foi substituído a cerca de um minuto e meio do fim com tudo definido. 364 dias depois, o extremo voltou à competição e realizou o sonho de marcar os primeiros pontos no TD Garden. E a gravíssima lesão contraída aos seis minutos da partida partida da última temporada, em Cleveland, faz parte do passado.

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Foi vaiado, “apertado” mas só chorou com a gravíssima lesão de Hayward: o regresso de Irving a Cleveland

“Se vou ser o mesmo jogador? Não, vou ser um jogador diferente. Mas isso não quer dizer que não possa ser um jogador de nível All Star. Quando não podemos fazer o que gostamos, quando ficamos sentados a ver, isso dá muito mais paixão pelo jogo”, admitiu num vídeo para o The Players’ Tribune.

Nona escolha do draft em 2010 pelos Utah Jazz vindo de Butler, Hayward, o posição 3 que foi ensinado a ser base mas que ganhou altura de extremo/poste, até começou por dar nas vistas no ténis, fazendo dupla com a irmã gémea Heather. Nessa altura, considerava ser muito complicado algum dia conseguir uma carreira no basquetebol no secundário e na universidade, uma ideia que foi mudando com o passar dos anos e a sucessão de elogios após o Mundial Sub-19 na Nova Zelândia, onde foi nomeado para o Cinco Ideal da prova a par de Tyshawn Taylor, Nikos Pappas, Mario Delas e Toni Prostran, croata que joga hoje no… FC Porto –  sendo o único a alcançar a NBA. Antes do draft vieram mais dúvidas que o tempo conseguiria dissipar.

Após três temporadas com médias de pontos em crescendo entre os 16.2 e os 19.7, Hayward teve a melhor época nos Utah Jazz em 2016/17, quando chegou aos 21.9 pontos (e 5.4 ressaltos) que lhe valeram a primeira presença de sempre no All Star Game. Em final de contrato, anunciou a decisão de abandonar a equipa numa emotiva carta ao The Players’ Tribune. “Esta foi a decisão mais difícil que tomei na minha vida. Este fim de semana foi provavelmente o mais longo da minha vida. E hoje… Bem, hoje foi definitivamente um dos dias mais loucos da minha vida. Mas quis ter a certeza que fazia tudo bem”, explicava num texto onde, sem qualquer tipo de tabu, detalhava as reuniões com os três interessados – Celtics, Jazz e Miami Heat. Uma escolha que não passou ao lado de outro fator importante extra ambições desportivas: o técnico Brad Stevens, com quem tinha trabalhado quando era mais novo na Universidade de Butley e que via nele o complemento ideal à contratação de Irving aos Cavaliers.

Gordon Hayward saiu de maca aos seis minutos do primeiro jogo de 2017/18, em Cleveland; 364 dias depois, regressou à competição

Num instante, tudo mudou. Numa jogada ofensiva com Kyrie Irving onde procurava o alley-oop, Hayward caiu mal, fraturou a tíbia e deslocou o tornozelo esquerdo, numa lesão arrepiante aos seis minutos do primeiro jogo oficial pelos Celtics que deixou companheiros e adversários consternados. A recuperação, essa, durou quase um ano. 364 dias, de forma mais específica.

“Fisicamente, senti-me muito bem mas sei que não estou ainda confortável. Uma coisa é estarmos fisicamente habilitados para fazermos algo, outra é ser jogador de basquetebol – pelos timings, pelos ritmos. Quando se joga há tanto tempo, é fácil perceber isso. A segunda cirurgia foi um grande contratempo porque pensava que já poderia estar a treinar normalmente durante todo o Verão”, admitiu, recordando a operação de correção em maio: “Foi o meu ponto mais baixo. Depois de tanto trabalho, de tantos progressos, voltar a andar de muletas… Fiquei devastado”. “Passou e foi fantástico poder voltar a entrar em campo num jogo da temporada regular. Tinha a adrenalina no máximo nos primeiros três ou quatro minutos. Foi um grande passo”, acrescentou no final de um encontro onde somou dez pontos, cinco ressaltos e quatro roubos de bola em 24 minutos.

O regresso culminou também com o lançamento por parte da Riot Games, que desenvolve o popular jogo League of Legends, de uma animação onde o jogador dos Celtics e todo o caminho que teve de percorrer é comparado à personagem Tryndamere. A isso não foi alheio o facto de Gordon Hayward ser um especial seguidor de vídeo jogos, tendo estado envolvido na IGN Pro League, campeonato profissional que inclui vários jogos entre os quais o League of Legends.