A saga Call of Duty faz-nos companhia desde 29 de outubro de 2003. Ano após ano, a Activision tem conseguido lançar sucessivamente novos títulos, com as vendas a justificarem o incessante lançamento anual, como denotamos com este Call of Duty Black Ops 4 (o décimo quinto jogo com o nome Call of Duty em 15 anos). A própria Activision já veio confirmar que este novo título vendeu mais cópias digitais no primeiro dia do que qualquer outro jogoaté à data.
A mais notória ausência em Black Ops 4, é a campanha a solo. Se costumam adquirir jogos desta série para poderem jogar o modo história, vão ficar desiludidos com a decisão controversa da Treyarch (empresa que desenvolveu este jogo sob alçada da Activision) de remover completamente a campanha individual. Em vez disso, disponibilizaram algumas missões que nos levam a conhecer melhor as personagens do modo Multiplayer: os especialistas. Estes não são novidade em Call of Duty. Aliás, dos dez disponíveis em Black Ops 4, seis são já conhecidos do jogo anterior. Apenas quatro são novas no leque de personagens jogáveis.
Apesar de bastante diferenciados entre si, cada um com as suas habilidades e ferramentas únicas, o uso de cada uma das particularidades dos especialistas é maioritariamente direcionado para a vantagem tática, distanciando Call of Duty de vários jogos do género Hero Shooter (como Overwatch, Paladins, Team Fortress, etc), onde o jogo tende a revolver maioritariamente na escolha certa de personagens. Se o retorno dos especialistas e a inclusão dos mapas mais jogados nas iterações anteriores poderia deixar os jogadores mais fiéis da série na sua zona de conforto, as mudanças ao modo Multiplayer vão fazê-los reaprender a andar de bicicleta.
Alguns pontos dos mapas clássicos foram alterados. Agora existem pequenas rotas alternativas, maioritariamente para reduzir os choke-points (pontos estratégicos onde as equipas se tendem a cruzar e lutar pelo controlo do mapa). Pela primeira vez, a regeneração de vida é manual (é uma habilidade que todos os especialistas possuem, que após usada fica algum tempo “em descanso”, podendo depois ser usada novamente sem qualquer inconveniente). O sistema de dano também está diferente — no geral, os jogadores demoram mais tempo a levar dano letal, que, ao contrário do normal em Black Ops, está visível no ecrã como uma barra de vida.
Os modos de jogo são o esperado, com Team Deathmatch e Control a marcarem presença, acompanhados por Search and Destroy, Heist, Hardcore e Free for All. Alguns deles têm limite de vidas por equipa, reiterando o foco mais tático de Black Ops 4. O jogo em si está bastante mais rápido do que os anteriores, com as equipas a terem de percorrer freneticamente o mapa, fazendo com que o jogador que gosta de se esconder com uma arma de longo alcance e apanhar os adversários desprevenidos, tenha mais problemas nesta iteração de Call of Duty.
Quem também está de volta é o modo Zombies, onde um a quatro jogadores (sejam eles amigos ou Inteligência Artificial) se podem aliar para tentar sobreviver o máximo de tempo possível a uma horda interminável de mortos-vivos, desta vez com dois caminhos de história distintos. Este modo requer muita tentativa e erro para descobrir todos os segredos dos mapas. A Treyarch escondeu imensos bónus, armas, puzzles e easter eggs pelo terreno, o que faz com em cada partida acabemos por descobrir algo novo que não fazíamos ideia que ali estava.
Existe imensa personalização neste modo, desde a dificuldade e frequência de aparecimento dos Zombies, passando pelas armas iniciais, upgrades de cada uma delas e pelas armas mitológicas secretas, como o martelo de Thor em plena arena de gladiadores. É fácil divertimo-nos no modo Zombies, ainda que depois de explorarmos o mapa e sobrevivermos às ondas iniciais de inimigos, a magia se vá perdendo e a certa altura se torne demasiado repetitivo.
A joia da coroa dos modos de jogo de Black Ops 4 é o Blackout. Este novo modo de jogo, que aproveita a febre do momento, o battle royale, coloca até 100 jogadores, uns contra os outros, a solo, pares ou esquadrões de quatro, para ver quem é o último a sobreviver. Situado algures entre os dois dos maiores sucessos do género, Player Unkown’s Battlegrounds e Fortnite, Blackout incorpora a essência de Call of Duty de maneira irrepreensível: somos largados em pleno ar e vamos planando, no nosso fato de combate, até ao local que escolhermos para a aterragem, onde temos que recolher itens e armas, sempre em alerta. Blackout consegue fazer-nos sentir o “perigo eminente” constante, com os tiros de escaramuças entre os nossos adversários a ecoarem pelo mapa, lembrando-nos a todo o momento de que estamos a lutar pela vida no meio de uma enorme carnificina, em que todos os jogadores estão a lutar por si só.
Antes de experimentarmos o modo Blackout, pensávamos que foi incluído em Call of Duty: Black Ops 4 apenas para aproveitar a febre em torno dos jogos battle royale. Após algumas partidas, contudo, temos que reconhecer o bom trabalho desenvolvido pelo estúdio Treyarch, que conseguiu desenvolver um mapa grande com muitos jogadores em simultâneo, com muitos itens e armas diferentes. O jogo está otimizado para além das nossas melhores expectativas, com um interface intuitivo que permite uma gestão e utilização de itens e upgrades de forma quase instintiva. Mesmo na versão normal da PlayStation 4, aquele mapa enorme desenrola-se com a fluidez de qualquer outro do modo multiplayer, sem interrupções ou “soluços” técnicos.
Os fãs de Call of Duty vão adorar Black Ops 4, e vão rapidamente perceber que o estúdio Treyarch se esforçou bastante para afastar as críticas de que a série era “mais do mesmo” de ano para ano. Apesar disso, é difícil justificar os 69,99€ de preço da versão mais básica do jogo, principalmente para quem não gosta de jogar com outros jogadores online. A não inclusão de uma campanha single player é uma perda de conteúdo enorme, mas os fãs da experiência multiplayer e battle royale, têm imensas horas de diversão numa das experiências de shooter mais polidas da atualidade.
Call of Duty: Black Ops 4 está disponível para PS4, Xbox One e PC
Pedro Nunes, Rubber Chicken