Chama-lhe “uma ideia-vírus”. José Eduardo Rola, coordenador da unidade de saúde pública de Vila Nova de Gaia, usa a expressão já que espera que a campanha que agora arranca na região “se espalhe de forma viral entre a comunidade educativa”. Ajudar todos no concelho a comer de forma mais saudável é o objetivo final da iniciativa que começa no agrupamento de escolas Dr. Costa Matos. Ali, José Eduardo Rola diz que irão fazer algo inédito: “Vamos trabalhar em parceria com a escola desde a base, desde o momento em que se escolhem os alimentos que vão parar ao prato dos alunos, até à fase final, passando informação aos alunos, pais e professores.”

Esta, diz ao Observador, era uma oportunidade que a unidade de saúde pública não podia perder e que faz parte da Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudável. E há um detalhe que faz deste agrupamento de escolas o sítio ideal para arrancar com a iniciativa.

“A nossa cozinha é nossa”, explica Filinto Lima, diretor do agrupamento. “A exploração é direta, não é nenhuma empresa de catering. São as nossas equipas que escolhem os alimentos, que os confecionam e que criam as ementas.”

Para além disso, sublinha, na cantina da escola sede são servidas diariamente 550 refeições, que são maioritariamente consumidas por alunos. No total, há 2300 estudantes no agrupamento, 1050 na escola sede. “Com estas alterações, esperamos em primeiro lugar conseguir oferecer uma alimentação mais saudável. Em segundo lugar, aumentar o número de alunos que almoçam na cantina e também conseguir chamar alguns professores que normalmente fazem as refeições fora da escola”, explica Filinto Lima ao Observador.

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Tudo começa no almoço

O foco da unidade de saúde será exatamente no almoço, explica José Eduardo Rola. “O projeto chama-se Alimentação Tipo +, mais saudável, mais equilibrada e mais segura. E segura porquê? Porque vamos intervir em três vertentes: no momento da escolha dos alimentos, na forma como são preparados e no momento em que são consumidos. Vamos ensinar a cozinhar, vamos ensinar a escolher e a preparar as ementas através de uma equipa multidisciplinar.”

Trabalhar as três vertentes em conjunto é fundamental, porque, sustenta o coordenador, não basta saber escolher um alimento, é preciso saber confecioná-lo: uma má decisão na altura de cozinhar a refeição pode anular uma boa escolha no supermercado. “Até a escolha de um alimento que parece saudável pode fazer diferença. Uma maçã não é igual a outra maçã. Vamos promover o consumo de vegetais, reduzir o consumo de açúcar e de sal — duas substâncias que não são alimentos, são produtos químicos puros, fazem muito mal à saúde e podem ser substituídos, por exemplo, por ervas aromáticas.”

Servir uma refeição equilibrada, mas que os alunos não consomem não é solução, lembra Eunice Peixoto, coordenadora do projeto que já está a ter reflexos nas escolhas na escola. “Abolimos os bolos com cremes, mas ainda temos os croissants. Sabemos que se não tivermos nada, os alunos vão comprar à pastelaria ao lado da escola. Dentro do mal, tentamos o mal menor. Nos almoços, já não temos fritos, a não ser quando é peixe. Ainda é muito difícil convencê-los a comer peixe e esta é uma das maneiras de conseguir que os miúdos comam. Mas mesmo a fritar há bons e maus métodos. Acima de tudo, temos de ver como os alunos reagem às ementas e tentar adaptá-las.”

Para já, lasanha e espetadas de peru grelhadas são bem aceites no refeitório, enquanto que pratos de bacalhau voltam para trás com muitos restos. Ao nível da fruta, foi com surpresa que Eunice Peixoto verificou que os alunos não apreciam bananas, preferindo salada de fruta, melão ou melancia. A redução de sal também está a ser feita, um pouco de cada vez, para os paladares se irem habituando.

Outra luta no refeitório é convencer os estudantes a comerem saladas. “Oferecemos tomate, alface, cenoura, milho. É difícil, mas é preciso insistir que comam pelo menos um deles. E também estamos a trabalhar com os alunos o desperdício alimentar para evitar que o que vai no prato não acabe no caixote de lixo.”

Experiências anteriores mostram que a influência dos pares é muito importante entre jovens e, por isso mesmo, José Eduardo Rola conta que vão pôr os alunos a trabalhar com eles próprios. “Vamos formar um grupo de alunos para que sejam eles próprios os descobridores das mensagens e da alimentação correta. A seguir, serão também eles os facilitadores da mensagem porque a melhor maneira de mudar comportamentos é entre pares.”

No final deste trabalho na escola, que terá uma duração de dois anos, José Eduardo Rola espera que o contágio viral se dê de forma natural entre toda a comunidade educativa. “Queremos mudar os comportamentos de todos, professores, funcionários, alunos e que esse exemplo chegue às casas e às famílias do concelho, ajudando a mudar comportamentos. No final dos dois anos, vamos ter uma escola mais saudável na escolha e na confeção dos alimentos e de ementas e esses comportamentos passarão para as famílias numa espécie de contágio”, conclui.