Há muito que o irreverente Neil Young provou que ninguém o controla, da indústria discográfica ao poder político, passando mesmo pelos seus colegas de banda. Quando era mais novo, o reputado cantor, músico e compositor de country, rock e grunge, bateu-se contra a guerra do Vietname e tentou mudar o mundo com as suas canções.
Já mais velho, o canadiano decidiu que só com a música não ia lá e que era necessário dar o exemplo para atingir os seus objectivos de mudança, conceito para associou aos veículos mais amigos do ambiente para salvar o planeta.
Em 2008, Neil Young contratou Johnathan Goodwin, um mecânico de Wichita, no Kansas, reconhecido pelos seus dotes para extrair mais potência de automóveis com grandes motores, enquanto lhes conseguia reduzir o consumo. À época, Young já era um ferrenho ambientalista, pelo que desafiou Goodwin a ir um pouco mais além e utilizar os seus conhecimentos técnicos para abrir mão do adicional de potência, concentrando-se na redução do consumo. E pagou inicialmente cerca de 120.000 dólares (105.500€) para que o projecto se tornasse uma realidade, além de avançar com o seu Lincoln Continental de 1959, um descapotável tão belo quanto enorme, com o cantor canadiano apostado em provar que não é necessário conduzir um carrinho pequenino para poupar o ambiente e que a resposta está na motorização.
Quando o projecto de Young arrancou, estávamos ainda a quatro anos da Tesla fabricar o seu primeiro modelo original, o Model S – até então a marca limitava-se a electrificar um Lotus Elise, dando origem ao primeiro Roadster –, o que significa que a rede eléctrica para carregar veículos eléctricos era praticamente inexistente. Até a California Air Resources Emission Vehicle Regulations (CARB) só surgiria em 2012, pelo que os EUA ainda não tinham começado a promover activamente os veículos eléctricos ou com extensor de autonomia (o Chevrolet Volt e o Opel Ampera só apareceram em 2014), modelos com locomoção 100% eléctrica, mas equipados com um gerador de energia a bordo para alimentar a bateria quando não existisse uma tomada nas proximidades, ou o tempo necessário para a recarregar.
Apesar de estar perante um desafio ciclópico, Young não poupou minimamente Goodwin. Especialmente quando o informou que não queria que o Lincoln Continental electrificado, a que passaram a chamar LincVolt, consumisse mais de 2,4 l/100 km, ou seja, 100 milhas por galão. Fasquia elevada para um modelo que, quando estava equipado com o motor original a gasolina, um V8 com 7 litros de capacidade e 350 cv, dificilmente baixava dos 20 litros aos 100 km.
A primeira versão do LincVolt era locomovida por um motor eléctrico de apenas 20 cv, que por sua vez era alimentado por um conjunto de baterias, recarregadas on board por um motor rotativo da Mazda. A segunda versão trocou o motor rotativo por uma microturbina a gás, a desempenhar o papel de gerador de corrente, com o veículo de 2,4 toneladas a ser “empurrado” agora por um motor eléctrico de 204 cv, o que lhe garantia outra capacidade de aceleração. Mas não por muito tempo pois, segundo Young, um funcionário deixou ligado durante a noite um carregador experimental, que não se desligou depois da bateria estar totalmente recarregada, o que provocou um incêndio. O LincVolt 2.0 ficou destruído, juntamente com muitas recordações da carreira de Neil Young.
A terceira e actual versão do LincVolt manteve o mesmo motor eléctrico, mas montou um novo gerador, tendo ainda optimizado as baterias, com células de iões de lítio mais mais eficazes. De acordo com Young, o veículo já percorreu mais de 55 mil milhas (88.500 km), podendo funcionar com zero emissões, se alimentado exclusivamente pela bateria, carregada uma vez ligada à rede eléctrica, ou através da energia fornecida pelo gerador, que queima álcool (etanol) produzido a partir de restos de comida (biomassa), denominado glucose etanol ou etanol de fermentação.
A unidade utilizada para produzir energia a bordo é um motor 2.5 de quatro cilindros em linha a gasolina (de um Ford Escapade híbrido), adaptado à queima de etanol. Nestas condições e mesmo a deslocar-se a uma velocidade de 130 km/h, o mastodôntico Lincoln obtém médias de 4,3 litros/100 km, apoiando-se exclusivamente na electricidade produzida pelo gerador. Além de garantir um baixo consumo, o gerador possui ainda a vantagem de emitir menos 85% de carbono (por funcionar a álcool e não a gasolina), face a um motor convencional a combustível fóssil.