Gianluca Vialli tem 54 anos. Depois de representar a Sampdoria, a Juventus e o Chelsea, onde acabou por terminar a carreira enquanto jogador-treinador, o italiano é agora comentador desportivo na Sky Sport Italia. O currículo é invejável: tem no palmarés duas Taças dos Campeões Europeus, uma Liga dos Campeões, uma Taça UEFA, uma Supertaça Europeia, duas ligas italianas e uma Taça de Inglaterra. Escreveu um livro que chegará em breve às bancas, o segundo da sua autoria, cujo título é “Golos. 98 histórias + 1 para enfrentar os desafios mais difíceis”. A 99.ª história – e a revelação que fez em entrevista ao Corriere della Sera – conta que luta há um ano contra um cancro.

“Passava bem sem ele. Mas não era possível. E depois considerei tudo isto apenas uma fase da minha vida que tinha de ser vivida com coragem e com a qual eu tinha de aprender alguma coisa. Sabia que era difícil e que iria ser difícil contar aos outros, à minha família. Nunca queremos magoar aqueles que nos amam: os meus pais, os meus irmãos e a minha irmã, a minha mulher, as nossas meninas. E isto acaba por provocar um sentimento de vergonha, como se aquilo que nos aconteceu fosse culpa nossa. Eu usava uma camisola debaixo da camisa para que ninguém reparasse, para continuar a ser o Vialli que todos conhecem. Depois decidi contar a minha história e incluí-la no livro”, contou o antigo jogador em entrevista ao jornal italiano.

Vialli foi submetido a uma cirurgia e realizou ainda oito meses de quimioterapia e seis semanas de radioterapia. “Sinto-me muito bem”, garante o italiano, mas ressalva que ainda não sabe “como é que o jogo vai acabar”. “Espero que a minha história sirva de inspiração a pessoas que estejam nesta intersecção crucial da vida. O mais importante não é vencer; é pensar de uma forma vencedora. A vida é feita de 10% daquilo que nos acontece e 90% da forma como lidamos com o que nos acontece”, disse o antigo ponta de lança, que marcou 40 golos ao longo de três temporadas no Chelsea.

Em 1996, ao serviço do Chelsea, onde dois anos depois foi apontado jogador-treinador

Numa longa entrevista, onde também falou da infância abastada – é filho de um milionário e cresceu num castelo em Cremona, no norte de Itália – e até revelou em que partido votava quando era mais novo (“Partido Republicano, como o papá”), Gianluca Vialli comentou a atualidade política italiana e comparou-a à de Inglaterra, país onde vive desde 1996, quando se transferiu para o Chelsea. “Vejo os políticos a discutir, a gritar furiosamente, e não entendo. Em Inglaterra, se um político não se comporta da forma mais correta, demite-se e pede desculpa. É uma mistura de disciplina e liberdade: pagamos todos impostos, estamos todos nas filas, paramos todos nas passadeiras”, explicou, de forma irónica.

Sobre Roberto Mancini, atual selecionador italiano com quem se cruzou na Sampdoria e na seleção, garante que são “como irmãos”. “Quando somos da mesma idade e partilhámos o campo de batalha durante tantos anos, podemos passar muitos anos sem a sentir, mas a relação dura para sempre”, afirma Vialli. O antigo jogador fazia parte da equipa da Juventus que conquistou a última Liga dos Campeões do clube, em 1996, e garante que não se trata de uma “maldição” mas sim de uma “pressão” que os jogadores da vecchia signora acusaram ao jogar “contra Messi e Cristiano Ronaldo”, em referência às finais perdidas em 2015 e 2017. Em relação aos melhores jogadores que enfrentou, não tem muitas dúvidas – “o Maradona do Mundial do México, Zico, Platini, Gullit, Van Basten e Matthäus” -, assim como também não hesita quanto aos companheiros mais talentosos: “Mancini, Zola, Baggio e Del Piero”.

Gianluca Vialli começou a carreira na Serie C1 italiana, com o Cremonese, subindo depois até à Serie B. Transferiu-se em 1984 para a Sampdoria, onde ficou até 1992, ano em que se mudou para a Juventus. Em 1996, aos 32 anos, decidiu sair pela primeira vez de Itália e juntar-se ao Chelsea. Em fevereiro de 1998, no seguimento do despedimento de Ruud Gullit, Vialli foi apontado como treinador-jogador dos blues, tendo sido o primeiro técnico italiano da história da Premier League. Acabou por levar o clube de Londres à conquista da Taça da Liga e da Taça dos Campeões Europeus, tornando-se, aos 33 anos e 308 dias, o treinador mais novo de sempre a vencer uma competição da UEFA – recorde que foi superado pelo português André Villas-Boas, que em 2011, com 33 anos e 213 dias, levou o FC Porto à conquista da Liga Europa. Terminou a carreira de jogador em 1999, permanecendo no comando técnico do Chelsea até 2000, e ainda treinou o Watford na temporada 2001/02.

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