O cientista chinês que anunciou ao mundo o nascimento dos primeiros bebés com ADN manipulado vai parar, para já, com a sua pesquisa. No entanto, as suas experiências já originaram uma segunda gravidez, que está ainda em fase inicial, não havendo garantias de que termine com um nascimento. Mas, se for bem sucedida, poderemos assistir, dentro de meses, ao terceiro nascimento de um bebé criado com material genético manipulado em laboratório.

“Peço desculpas por este resultado”, disse He Jiankui, investigador chinês que estudou nas universidades norte-americanas de Rice e Stanford, sublinhando estar surpreendido com a reação da comunidade científica ao seu anúncio da passada semana. O seu pedido de desculpas referia-se ao resultado da polémica e não ao resultado do seu trabalho. Esse deixa-o orgulhoso.

E é exatamente na sequência dessa reação — cientistas de todos o mundo questionaram a ética do seu trabalho — e da polémica levantada, que Jiankui anunciou que irá parar com a sua pesquisa. As declarações foram feitas numa conferência médica em Hong Kong.

Acontece que, por esta altura, anunciou o cientista, já está confirmada uma segunda gravidez. No entanto, por estar ainda numa fase muito inicial, não há garantias de que termine com um nascimento. Se isso se vier a verificar, será a terceira criança nascida com material genético manipulado.

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Lulu e Nana, as gémeas nascidas alegadamente com um gene resistente ao vírus HIV causador da sida, foram implantadas no útero através de inseminação artificial. Antes disso, os embriões receberam injeções de ADN bacteriano para inativar o gene CCR5.

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Apesar do pedido de desculpas, o geneticista disse estar “orgulhoso” do seu trabalho quando questionado por um dos cerca de 700 cientistas e investigadores que encheram a plateia durante a conferência sobre manipulação do genoma humano.

He Jiankui explicou ainda que trabalhou com oito casais voluntários e, em todos eles, o homem era seropositivo, critério necessário para avançar com a investigação. Um dos casais acabou por desistir da experiência, e o resultado, para já, é o nascimento das gémeas e a segunda gravidez.

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O geneticista argumentou ainda que a intenção nunca foi eliminar doenças genéticas, antes dar a Lulu e a Nana a capacidade para resistir a uma futura infeção por VIH.

“Esta gente precisa de ajuda e nós temos a tecnologia para fazê-lo”, sublinhou, garantindo que os casais foram informados sobre os riscos da experiência e deram na mesma o seu consentimento.

Em muitos países, modificar os genes de embriões humanos é proibido, dado que estas alterações laboratoriais podem depois ser transmitidas a gerações futuras e arriscam pôr em perigo outros genes humanos. Não é o caso da China, onde nos últimos anos tem sido testada a utilização de uma ferramenta de alteração de genoma chamada CRISPR-cas9, em embriões e humanos por nascer, exatamente a técnica que o geneticista usou.

O que nunca tinha acontecido até aqui era um investigador ter conseguido fazer nascer um bebé com genes modificados. A ferramenta de alteração genética em causa permite, em teoria, acrescentar genes em falta ou limitar um gene de um embrião que se espere que venha a causar problemas.

A identidade de todos os casais e das gémeas mantêm-se em segredo. A operação, a ser bem sucedida, não o terá sido tanto por evitar que uma pessoa infetada com este vírus o transmita a descendentes — há já maneiras de o conseguir e que não envolvem modificação de genes de embriões —, mas sim permitir a casais em que pelo menos um elemento está infetado com o vírus do VIH ter um filho que esteja geneticamente protegido de um destino semelhante.