António Anselmo, presidente da Câmara de Borba, disse que nunca chegou a reunir com a Direção Regional da Economia do Alentejo (DREA) apesar de saber do estudo que alertava para o perigo de “deslizamento das camadas” na estrada 255, porque se realmente “houvesse perigo” teria sido “avisado novamente”, disse ao Público.
Tal como o Observador noticiou em novembro, na ata da assembleia municipal de 27 de dezembro de 2014 o autarca admitia que sabia de um estudo que “informava que a estrada estava em perigo”. Na mesma ata, António Anselmo disse ter intenção de reunir com o instituto para falar sobre o assunto, mas, ao Público, explica porque “não houve” reunião: “Ainda não olhei para esses documentos. Digo isto sem qualquer tipo de desculpa. Entretanto passou [o tempo] e mais ninguém me disse nada”.
A ata a que o Observador teve acesso em novembro explica que o autarca tinha sido “informado por uns empresários dos mármores que havia um estudo feito na direção Regional da Economia, da parte do serviço geológico,que informava que a estrada estava em perigo”. António Anselmo acrescenta que “lhe tinha sido explicado porque é que a estrada estava em perigo”. O autarca também sublinha que não viu nenhum dos estudos que alertavam para a iminência da queda da estrada 255, como o que tinha sido feito em 2006 por Carla Midões, Patrícia Falé, Paulo Henriques e Carlos Vintém do Instituto Nacional de Engenharia Tecnologia e Inovação (INETI): “Ninguém me mostrou estudo nenhum”.
As novas declarações de António Anselmo surgem depois de o autarca ter dito que estava “orgulhoso” por o Estado ter avançado com o pagamento de indemnizações aos familiares das vítimas da derrocada: “Esta atitude do Estado português é, de facto, a atitude de um Estado. Infelizmente, por muitas vezes, já duvidei do Estado, mas sinceramente hoje estou contente com o Estado que temos em Portugal, que felizmente assumiu”.
Apesar da iniciativa do Governo, a Câmara de Borba pode ter de vir a devolver todo esse dinheiro ao Estado caso se comprove que foi negligente na gestão da estrada 255. Sobre isso, o autarca disse que “neste momento a culpa não é de ninguém” e que não importa se “a culpa é do Zé ou do Manel”: “Eu sei lá de quem é a culpa. Agora, a atitude do Estado é uma atitude que me orgulha enquanto português”, declarou o autarca à TSF.
“O Estado, independentemente de assumir ou não [as responsabilidades], tomou a atitude correta. De resto, naturalmente que as coisas irão ser investigadas e revistas”, acrescentou. E se as investigações apontarem para culpas da autarquia? “Depois, cá estaremos”, respondeu.