O cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, está “disponível” para se encontrar com “possíveis vítimas” de abusos sexuais cometidos por padres. Mas a Igreja em Portugal não tem um plano concreto para dar cumprimento ao pedido do Vaticano para que os presidentes das conferências episcopais se encontrem pessoalmente com vítimas de abusos antes da cimeira convocada para fevereiro pelo Papa para discutir o assunto com os líderes católicos de todo o mundo.

Em declarações aos jornalistas esta terça-feira em Fátima, o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, padre Manuel Barbosa, assegurou que há uma “disponibilidade ativa para escutar” e que “se houver essas vítimas, ele [D. Manuel Clemente] estará disponível para que elas falem consigo”. Manuel Barbosa sublinhou, contudo, que esta disponibilidade “não é nova” e que é, em primeiro lugar, do bispo de cada diocese portuguesa.

A carta enviada em dezembro pelos clérigos que o Papa Francisco escolheu para organizar o encontro de fevereiro é clara: “O primeiro passo deve ser tomar consciência da verdade do que aconteceu. Por esta razão, pedimos a cada presidente da conferência episcopal que se aproxime e visite as vítimas que sofreram abusos do clero nos seus respetivos países, antes da reunião de Roma e ouvir, em primeira mão, o seu sofrimento”.

Questionado sobre se D. Manuel Clemente fará precisamente isto — aproximar-se e visitar as vítimas —, o porta-voz da Conferência Episcopal apenas repetiu a ideia de que tanto o cardeal-patriarca de Lisboa, que atualmente preside à CEP, como os outros bispos portugueses estão disponíveis “para escutar possíveis vítimas que haja por parte de eclesiásticos”.

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Sobre as vítimas concretas dos padres que já foram condenados por abusos sexuais em Portugal (há pelo menos três casos assim: no Fundão, em Vila Real e na Golegã), o responsável não se pronunciou, mas sublinhou que os possíveis encontros ocorrerão se houver vítimas que se aproximem do bispo. Manuel Barbosa não mencionou, porém, nenhuma intenção do cardeal-patriarca de, ativamente, procurar encontrar-se com essas vítimas, que são conhecidas da hierarquia da Igreja em Portugal.

D. Manuel Clemente vai representar Portugal no encontro que decorre entre os dias 21 e 24 de fevereiro no Vaticano. Trata-se de uma cimeira rara: o Papa convocou os presidentes das conferências episcopais de todo o mundo para discutir o problema dos abusos sexuais cometidos por membros da Igreja Católica.

O porta-voz da CEP falava no final de uma reunião do conselho permanente daquele organismo, um grupo de bispos que se reúne todos os meses para debater os assuntos correntes da Igreja em Portugal, e lembrou que antes do encontro de fevereiro ainda há outra reunião deste organismos, na qual poderá haver novas informações sobre o assunto.

Manuel Barbosa disse ainda que a Conferência Episcopal não tem qualquer compilação dos casos de abusos sexuais em Portugal e que continua sem estar em cima da mesa dos bispos portugueses a possibilidade de levar a cabo um inquérito de âmbito nacional à pedofilia na Igreja, como aconteceu noutros países.

Papa em Portugal em 2022 seria “uma alegria” para o país

Outro assunto debatido esta terça-feira na reunião do conselho permanente foi a candidatura de Portugal — especificamente da diocese de Lisboa — para organizar as Jornadas Mundiais da Juventude em 2022. Trata-se de um encontro mundial de jovens católicos com a presença do Papa, criado na década de 80 pelo Papa S. João Paulo II.

No mês passado, veio a público a notícia de que Portugal já estaria escolhido como país anfitrião das JMJ de 2022 e que só faltaria o anúncio oficial, a ser feito pelo Papa no Panamá, onde decorrem as JMJ deste ano. O padre Manuel Barbosa confirmou novamente que “a diocese de Lisboa manifestou uma disponibilidade ativa para acolher essas jornadas, mas só a 27 de janeiro o Papa dirá se se vão realizar em Portugal ou não”.

O porta-voz dos bispos portugueses confirmou que a candidatura de Portugal foi feita há cerca de um ano e que concorre com outros países. Manuel Barbosa garantiu ainda que os pormenores estão estudados, havendo inclusivamente conversas com as autarquias da Grande Lisboa para estudar, entre outros, o local para a missa de encerramento do evento, com o Papa, onde deverão participar cerca de 1,5 milhões de jovens.