O antigo Matadouro Industrial do Porto, em Campanhã, é há muito apontado como o principal ativo para a regeneração urbana da zona oriental da cidade, sendo esta tarde apresentado o seu projeto de reconversão e requalificação.

O primeiro a intervir foi Rui Moreira, Presidente da Câmara Municipal do Porto, que considera este “um projeto evidente”, relembrando que “Campanhã é um território excluído porque ao longo de vários anos foi rasgado pelo caminho de ferro, pela Circunvalação e pela Via de Cintura Interna”. Segundo o autarca, é hoje necessária “uma coesão territorial” para “uma cidade mais equilibrada” e o Matadouro pretende representar isso mesmo. “Queremos que esta seja a rua do Porto”, referiu Moreira.

A autarquia iniciou os estudos da reconversão do Matadouro em 2015 e em maio do ano passado a empresa portuense Mota-Engil venceu o concurso público internacional, prometendo investir 39 milhões de euros, ficando como concessionária durante 30 anos. A câmara ficará com espaços dedicados à cultura e à coesão social, sendo que o restante será gerido por privados e acolherá empresas.

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Co-autor do projeto de transformação deste edifício em decadência construído na década de 30 foi o gabinete de arquitetura OODA — Oporto Office for Design and Architecture, que em parceria com o arquiteto japonês Kengo Kuma desenhou e idealizou o futuro do antigo Matadouro. Segundo Diogo Brito, um dos sócios do gabinete OODA, Kengo Kuma tem três décadas de experiência, é responsável por projetar novo Estádio Nacional de Tóquio, que receberá a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2020, e numa entrevista recente considerou o Matadouro “um segredo escondido na cidade”, assumindo “criar uma nova tipologia de espaço público no Porto para funcionar todos os dias e para toda a gente”.

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Diogo Brito sublinhou ainda o potencial desta estrutura, “quer na sua localização, como na tipologia das suas construções existentes”, explicando que o objetivo é recuperar um espaço “afundado pelo crescimento da cidade e colocá-lo de novo à superfície”. Articular construções antigas com “um novo edifício que servirá de suporte estrutural a uma nova ponte pedonal”, garantindo o atravessamento para o lado oposto à Via de Cintura Interna, será o principal desafio. Tornar o espaço acolhedor, intimista e confortável é uma das premissas, assim como “não desvirtuar a memória local”, uma vez que a intervenção será feita num património classificado. As valências destes quase 30 mil metros quadrados são várias. “Museu, biblioteca, praças, depósitos de arte, espaços performativos e desportivos, zona de escritórios e de apoio comunitário” são algumas referidas pelo arquiteto.

Octavio Passos/Observador

“Este é um projeto que me seduziu desde a primeira hora.” Quem o diz é Marcelo Rebelo de Sousa, após ouvir a apresentação do arquiteto, ficando “ainda mais convencido” de um trabalho “verdadeiramente revolucionário numa área única”. Para Marcelo, este é um conceito transversal, que reuniu o consenso de todas as forças políticas, e multidimensional, ao incluir cultura, economia e coesão social, condições que permitem ao antigo Matadouro ser “um polo urbano único, no tempo e no espaço”, o que, segundo a experiência do Chefe de Estado como autarca, “não acontece muitas vezes”.

Construir “onde aparentemente é mais difícil é fazer aquilo que se chama urbanismo de futuro”, reforçou o presidente, acrescentando o fato desta propriedade continuar pública também o “entusiasmou”. “Este é um grande projeto urbanístico, não é um projeto de um presidente da câmara, nem sequer de uma câmara, nem de uma assembleia municipal, nem de um ano ou de um mandato.”

O Presidente da República entende que esta “é uma oportunidade raríssima” e “a não perder”, um “caso excecional” que exige “naturalmente uma solução excecional”. “Como é que depois os juristas, os burocratas e os tecnocratas enquadram esta realidade de uma forma que a seus olhos não violente os princípios constitucionais, isso parece-me, apesar de tudo, fácil de equacionar perante a singularidade da ocasião.”

Reafirmando o seu apoio total à nova vida do Matadouro, dizendo-se mesmo “apaixonado pelo projeto”, Marcelo deixa um repto. “Metamos mãos a obra, tratemos de converter os ainda não convertidos”, porque “cada dia perdido num projeto destes é um dia perdido para todos os portugueses”. O Presidente espera que “o Tribunal de Contas fique convencido” e pretende estar presente quando as obras começarem. Rui Moreira afirmou no ano passado que os trabalhos poderão avançar em abril de 2019 e que o prazo previsto de conclusão será de dois anos.