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Da promessa do futebol ao perseguidor de sonhos. Quem são as 10 vítimas do incêndio no centro de treinos do Flamengo

Este artigo tem mais de 5 anos

Um era presença habitual (e a esperança) da seleção brasileira, outro abandonou tudo para perseguir o sonho e um vinha da mesma formação que Diego Costa. Quem são as vítimas do incêndio no Flamengo.

O guarda-redes de 15 anos partilhava várias fotografias nas redes sociais
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O guarda-redes de 15 anos partilhava várias fotografias nas redes sociais

O guarda-redes de 15 anos partilhava várias fotografias nas redes sociais

As dez vítimas mortais retiradas esta sexta-feira do Centro de Treinos do Flamengo, que foi consumido por um incêndio de grandes proporções, são todas de atletas do clube. Chamavam-se Christian Esmério (15 anos), Arthur Vinicius (14 anos), Athila Paixão (14 anos), Bernardo Pisetta (15 anos), Pablo Henrique (14 anos), Vítor Isaías (14 anos), Gedson Santos (14 anos), Jorge Eduardo (15 anos), Rykelmo de Souza Viana (16 anos) e Samuel Thomas Rosa (15 anos). Todos enchiam de esperança o futebol brasileiro. E todos perseguiam sonhos.

Christian Esmério

A promessa

Christian Esmério, guarda-redes de apenas 15 anos da equipa sub-15 do Flamengo, é a primeira vítima mortal confirmada.

Segundo o Globoesporte, o jovem guarda-redes era uma das principais promessas do Flamengo e presença habitual nas convocatórias dos escalões inferiores da seleção brasileira, algo que despertou o interesse e a atenção de alguns clubes europeus nos últimos meses. Nas redes sociais, Christian Esmério partilhava frequentemente várias fotografias em treinos da seleção canarinhaassim como outras duas com Tite, selecionador brasileiro, e ainda Marta, histórica jogadora da equipa de futebol feminino do Brasil. No último ano, o guarda-redes destacou-se na final da Copa Nike sub-15, que o Flamengo venceu, ao defender dois penáltis na decisão por grandes penalidades na final contra o São Paulo (depois de já ter parado outro penálti na meia-final).

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A morte de Christian Esmério, além de confirmada pelas autoridades, foi ainda comentada pela mãe de um outro jogador da formação do Flamengo, que até recordou um episódio em que levou o guarda-redes ao aeroporto numa das vezes em que este foi chamado a representar a seleção brasileira. “Um dos nomes confirmados é o Christian… Foi para a seleção em dezembro e até fui eu que o levei. Quando ligámos a TV nem quisemos ver nada, viemos logo para cá. O meu filho também podia ser uma das vítimas, a dor destes pais é muito triste. Ele era um grande goleiro, gostava muito dele”, contou Adelizia Damasceno da Silva aos jornalistas à porta do Centro de Treinos do clube brasileiro.

Nas redes sociais, as homenagens ao jovem guarda-redes que era já uma promessa do futebol brasileiro sucedem-se e têm nomes bastante conhecidos pelo meio. Além de Lucas Paquetá, atualmente no AC Milan após ter representado o Flamengo durante várias temporadas, também Gabriel Batista, guarda-redes da equipa principal do Fla, e Paulinho, que em 2018 deixou o Vasco da Gama para se juntar ao Bayer Leverkusen, comentaram a notícia.

Tive o prazer de o conhecer bem pequeno… e sempre soube da luta dessa família em busca do sonho, não só dele como do irmão dele Cristiano que jogou comigo no Madureira! Que Deus possa confortar todos vocês e todos os que infelizmente estavam na tragédia!”, escreveu o ex-Vasco do Gama no Twitter.

Arthur Vinicius

O novo defesa do Brasil

Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas tinha 14 anos, era de Volta Redonda, no sul do Rio de Janeiro, e tinha sido convocado no final de 2018 para atuar como defesa central na seleção sub-15 do Brasil. Estava no Flamengo há três anos e celebraria o aniversário neste sábado. Foi a tia, com quem ele e a mãe moravam, que conformou a morte de Arthur Vinicius aos jornalistas.

De acordo com o Volta Redonda FC, o jovem estava ao serviço do Flamengo mas era funcionário do Esquadrão de Aço porque os dois clubes têm um contrato de parceria. Arthur faria 15 anos no mesmo dia em que o clube celebra a sua fundação, mas todas as festividades foram canceladas: “A diretoria do Volta Redonda F.C. decreta luto oficial de três dias e presta os seus sentimentos aos familiares e amigos das vítimas da tragédia, e deseja muita força ao Flamengo. A família Voltaço está com vocês”, escreveu o clube no Twitter.

Athila Paixão

O filho da “Geração Futuro”

Athila Paixão, 14 anos, avançado, nasceu no Povoado Brasília, em Lagarto, Sergipe. Tal como Diego Costa, que agora joga no Atlético de Madrid, Athila Paixão tinha começado a carreira do “Geração Futuro”. A 28 de março de 2018, o jovem atleta viajou para o Rio de Janeiro para fazer testes no Flamengo e entrou no clube poucos dias depois, a 9 de abril. Já ao serviço do clube carioca, Athila Paixão participou na Copa Zico e destacou-se por ter marcado três golos.

Foi uma assistente social do clube a confirmar a morte de Athila Paixão. Tinha estado de férias em Aracaju, mas voltou para o Rio de Janeiro no domingo. O pai, Damião Santos Paixão, disse que falava com ele todas as noites. Na quinta-feira, na véspera do incêndio que o vitmou, Athila disse que estava bem: “Na última conversa com ele, Athila disse que estava bem e que iria treinar nesta sexta no Maracanã. No último domingo eu embarquei ele para o Rio, mas disse que ele poderia ficar se quisesse. Ele só ia dormir depois que falava com ele”, disse o pai ao Globoesporte.

Bernardo Pisetta

O perseguidor de sonhos

Era guarda-redes há seis meses no Flamengo, mas nasceu em Indaial, no Vale do Itajaí. Antes já tinha estado no Athletico e havia jogado futsal em vários clubes da cidade natal. Foi o primo do jovem, Marcelo Lanznaster, que confirmou ao Globo a morte do rapaz: “Infelizmente nos noticiários já da madrugada e da manhã nós ficamos cientes do ocorrido no Ninho do Urubu. Obviamente que soubemos que era no alojamento das equipes de base de 14 aos 17 anos, que levantou a triste sensação de que poderia ter acontecido algo com ele. Com o passar do tempo fomos criando algumas esperanças, mas infelizmente chegou a notícia com o pai dele, mandando um áudio para a gente confirmando essa fatalidade”.

Segundo esse primo, Bernardo “abdicou por muita coisa para ser um atleta profissional”: “Abriu mão de uma boa parte da adolescência, apesar de só 14 anos, mas desde muito tempo ele vem se dedicando ao desporto a ser um goleiro [guarda-redes] de ponta e estava conseguindo”, descreve a família. Marcelo Lanznaster diz que o primo estava “realizando um sonho”: “Ele era ciente de que estava só iniciando uma jornada, mas ele tinha potencial e os treinadores falavam isso de que ele chegaria longe. E todos nós sonhamos junto esse sonho”.

Bernardo era conhecido pela tranquilidade e pela presença tão vincada da família na vida dele. É assim que o recorda outro atleta, Douglas Packer: “Pude ver na semana passada, a felicidade do Bernardo de estar vivenciando esse sonho em um grande clube do futebol brasileiro. É o tipo de notícia que a gente nunca espera que venha acontecer”, desabafou.

Pablo Henrique

O futebol que corre nos genes

Pablo Henrique da Silva Matos, de 14 anos, era primo do defesa central Werley Ananias da Silva, que atua no Vasco da Gama. Nasceu em Oliveira, no centro-oeste de Minas Gerais, e estava no sub-15 do Flamengo desde o ano passado. Antes, quando tinha 12 anos, tinha jogado pelo Atlético mas a passagem por esse clube foi curta porque os problemas musculares obrigaram-no a parar. Voltou ao futebol na Inter Academy, programa oficial da Inter de Milão, em Divinópolis, em 2018.

Vítor Isaías

O novo atacante do clube

Vítor Isaías, 14 anos, natural de Florianópolis e atacante, começou a carreira  no Figueirense, depois foi transferido para o Athletico Paranaense e foi contratado pelo Flamengo no segundo semestre de 2018.

Entretanto, Savio Soccer, que fazia a assessoria do atleta, emitiu comunicado a confirmar a morte do jovem: “A Sávio Soccer vem através deste, manifestar seu profundo pesar com a tragédia ocorrida na manhã desta sexta-feira (08), no Centro de Treinamento do Flamengo, onde acabou vitimando o nosso atleta Vitor Isaías (Vitinho), de 15 anos”. A empresa pede “respeito e compreensão de todos neste momento de luto” e diz que esta perda é “irreparável”.

Gedson Santos

Chegou dois dias antes do incêndio

Gedson Santos, conhecido por “Gedinho” entre os amigos, chegou ao Flamengo no início do ano e só há dois dias começou a pernoitar no alojamento da base do clube. Foi cobiçado porque já se tinha destacado no Athletico Paranaense. “Ele estava no Athlético e depois do empresário levar para o Rio, ele foi escolhido. Ia começar a jogar e estava muito feliz, porque era a realização de um sonho. Na noite, antes do incêndio, falou com meu irmão e disse que ia conhecer o Maracanã e começar os treinos”, explicou o tio ao Globoesporte.

Gedson jogou no Trieste Futebol Clube de Curitiba, no Athletico e depois entrou no projeto Associação Atlética Banco do Brasil, em Itararé, de onde era. “Ele começou com a gente e sempre foi um garoto de destaque. Muito dedicado e bem competitivo. Daqui, já foi pra Curitiba e ia se destacando. Era um garoto promissor e todos nós ficamos muito triste”, recordou o coordenador desse último projeto.

Jorge Eduardo

O capitão de equipa

Jorge Eduardo Pereira dos Santos, de 15 anos, natural de Além Paraíba, na zona da mata de Minas Gerais, era defesa no Flamengo. A morte foi confirmada pelo primeiro treinador dele, Homero Povoleri, ao Globoesporte. Entretanto, o treinador contou à Globo como soube da morte do atleta: “Fui acordado às 6h pelos pais dele, que viram a notícia na TV e não conseguiram falar no celular do Jorge. Eu também tentei falar com ele e com o coordenador do Flamengo, mas ninguém atendeu”. Segundo ele, “os pais estão desorientados”.

Desde os sete anos que Jorge Eduardo se dedicava ao futebol. Começou no Democrata de Além Paraíba, projeto mantido pela Associação de Pais e Amigos do Clube, e chegou ao Flamengo aos 12 anos. Destacou-se tão rapidamente que se tornou capitão da equipa campeã sub-15 em 2018. Este ano subiria à categoria sub-16.

Rykelmo de Souza Viana

O “Bolívia”

Rykelmo de Souza Viana, de 16 anos, natural de Limeira, no interior de São Paulo era mais conhecido pelo nome “Bolívia”, mas alcunhas era o que não lhe faltava: chamavam-no “Rykelmo” em homenagem ao jogador Juan Román Riquelme — uma ideia do pai para prestar tributo ao seu jogador favorito. Começou a jogar futebol aos seis anos numa escola particular na cidade natal, mas depois jogou no Independente de Limeira e fez testes para o São Paulo e o Grémio.

Numa passagem pelo Portuguesa Santista, foi apanhado nos radares do Flamengo. Aconteceu na disputa pelo Campeonato Paulista sub-13, onde estava um olheiro observador do clube, que o levou para o Rio de Janeiro. Estava à três anos no Flamengo, a jogar um futebol inspirada pelo ídolo do pai, mas também por Zidane.

Samuel Thomas Rosa

À porta dos 16 anos

Samuel Thomas Rosa tinha 15 anos, era lateral direito e nasceu em São João de Meriti. Celebraria 16 anos no dia 4 de abril. Foi o tio que confirmou a morte do jovem: “Ele preferiu ficar alojado, mas falamos pela última vez ontem à tarde. O Samuel está morto”, declarou ele junto ao centro de treinos acompanhado por um representante legal da mãe do menino.

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