“Para algumas pessoas os salários até são mais altos do que deviam.” O empresário Pedro Ferraz da Costa, presidente do Fórum da Competitividade, em entrevista à edição impressa do jornal i, quando confrontado com a ideia de que os salários em Portugal continuam a ser muito baixos, considera que esse não é o problema do país.

“Não estou a dizer que os salários devem ser altos ou baixos. Acho que para muitas pessoas até são mais altos do que deviam, pois não deviam ser tão altos para os que apresentam maior absentismo ou para os que não se importam com o que se passa ou para os que ficam em casa. Está tudo muito mal repartido”, defende o empresário licenciado em Finanças. Na sua opinião, deveria existir um tipo de avaliação mais séria para evitar este tipo de situações. A travá-la estão, na sua opinião, as estruturas sindicais.

“É evidente que temos um movimento sindical que, no essencial, é comandado por líderes comunistas que defendem um modelo económico-social que não existe em sítio nenhum com sucesso”, acrescenta. No entanto, Ferraz da Costa também se queixa da falta de mão de obra em Portugal em setores estratégicos e acaba por atribui-la a dois fatores: fraco crescimento demográfico e pouca competitividade no mercado de trabalho para atrair trabalhadores estrangeiros ou emigrantes.

“Nos últimos 20 anos, Espanha aumentou a sua população em 16%. Portugal aumentou em 1,3%. Se não tivermos mais pessoas como é que conseguimos criar mais emprego? As pessoas também não estão muito interessadas em vir para Portugal porque as condições não são muito boas. Quando olhamos para o diferencial de salários entre o que ganha um médico em Portugal e o que é oferecido a um médico na Galiza ficamos com uma ideia clara do desnível que existe”, defende o empresário de 72 anos.

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Pedro Ferraz da Costa, que liderou a CIP — Confederação Empresarial de Portugal entre 1981 e 2001, considera também ser “muito difícil” convencer quem emigra a regressar ao país e queixa-se de que quem fica nem sempre são os mais produtivos. “As pessoas que podem emigram e depois é muito difícil com as condições atuais que oferecemos atrair muita gente. Depois há muitos cá dentro que conseguem não trabalhar por vários outros esquemas: rendimentos sociais de inserção, subsídios de desemprego, programas de formação, etc. Temos uma das taxas mais elevadas de jovens que não estudam nem trabalham.”

Quanto às condições de trabalho em Portugal, o Fórum para a Competitividade sempre considerou as 35 horas semanais um luxo. Questionado sobre se o ideal seria voltar às 40 horas, Ferraz da Costa diz que o ideal “era não se ter feito isso”.

“Já viu o que é andar para trás com uma coisa dessas? Imagine o que seria pôr todos os que passaram a trabalhar sete horas por dia a voltar a trabalhar oito horas quando já se habituaram a receber mais uma hora extraordinária.”

Crítico do fraco crescimento económico do país e defensor de que Portugal tem capacidade para crescer acima dos 4%, acusa o Governo de não ter, na atual legislatura, uma estratégia para exponenciar a economia portuguesa. “Não me recordo, nesta legislatura, de ouvir um conjunto de medidas com vista a pôr o país a crescer mais”, argumenta, dizendo que se a economia não cresce mais é “porque não se faz nada para isso, até se faz tudo ao contrário disso”.

Em contrapartida, considera que o Executivo de António Costa usou toda a folga orçamental que tinha para tentar ganhar votos de funcionários públicos. “A grande responsabilidade de não haver dinheiro para todos estes projetos [aeroporto do Montijo, investimento em portos] é do atual governo porque quis gastar toda a folga que tinha em seduzir os eleitores da função pública. O dinheiro foi todo para aí.”